Com a decisão de elevar para 7,75% a taxa básica de juros (Selic), anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta quarta-feira (27), tem investidor avaliando quais decisões tomar em relação aos investimentos. Outros, se voltam a fazer as contas sobre a contratação de crédito imobiliário. Apesar do momento de maior pressão para as finanças pessoais, os especialistas do setor dizem que a janela de oportunidade para adquirir um imóvel financiado se mantém e ainda é vantajoso ir às compras em 2021, já que a partir do ano que vem a oferta de crédito pode ficar mais restrita.
A taxa de referência dos juros no Brasil, usada como base para investimentos de renda fixa e operações de crédito como o financiamento de imóveis, registra alta desde março, tendo saído de 2% para os atuais 7,75%, com o aviso de que deve ir para 9,25% em dezembro.
Apesar de a alta da Selic ter potencial para afetar o apetite para a compra financiada de imóveis, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) considera que a decisão do comitê do Banco Central foi importante, diante da necessidade de controle do processo inflacionário.
"Com essa medida, será possível estabilizar os juros futuros de longo prazo, condição essencial para o crescimento econômico do país, do setor e para a geração de empregos", afirma a entidade em nota.
O ciclo de aumentos já está sendo repassado para as taxas de crédito imobiliário desde julho. Ainda assim, o preço dos imóveis têm se mantido atrativos ao ponto de levar o consumidor a enfrentar a Selic maior, de acordo com as fontes ouvidas pelo Valor Investe.
Desde que começaram as altas da taxa, o volume negociado em linhas de credito pela plataforma de simulação MelhorTaxa foi de mais de R$ 40 milhões. O dobro do volume em relação ao mesmo ano passado (março a outubro). Já a Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) sinaliza que, de janeiro a setembro, o montante total de financiamentos foi de R$ 154,7 bilhões — um crescimento de 96,3% em comparação ao mesmo período do último ano.
O "problema" do atual cenário para o investidor está no valor fixado para a primeira parcela de quitação do contrato de compra. Num contrato médio, a cada 1% de aumento nas taxas de juros dos financiamentos, por exemplo, o impacto na primeira parcela mensal é de aproximadamente R$ 240, exigindo cerca de R$ 800 a mais de renda comprovada.
"A demanda continua em alta. O que aumenta, nesse caso, é a entrada, pois em alguns casos a renda não comporta o valor de financiamento, mas o cliente tem a opção de usar FGTS para complementar", comenta Priscilla Basso, coordenadora de crédito imobiliário da MelhorTaxa.
Com o Banco Central adotando medidas que sinalizam ao mercado a necessidade de poupar por conta do deteriorado cenário de riscos, principalmente em relação à política fiscal, os investidores têm feito o dever de casa para ter uma casa nova.
A plataforma informa que há um aumento de buscas e simulações para sentir como está o mercado, e para tomar suas decisões. Só em setembro, foram 150 mil novos usuários. E quem pesquisa está comprando. "Temos um volume recorde de conversão de clientes neste ano, comprovando que o canal digital está cada vez mais forte para contratação do crédito imobiliário", complementa Priscilla.
Apesar da alta da Selic beneficiar as negociações à vista, a opção de financiamento pode ser interessante para quem tem condições de alocar o capital em outros canais de rendimentos, como títulos atrelados à inflação que despontam como a melhor oportunidade entre as opções de renda fixa.
Para quem já tem contratos em andamento, o pedido de portabilidade do empréstimo (para um banco que cobre menos juros) deve ser analisado especialmente nos casos em que as taxas assumidas estão em torno de 12% ao ano.
A possibilidade de aumento da inadimplência, um fator importante e que pode influenciar no crédito, não deve se confirmar, na análise de Fernanda Mansano, economista chefe da plataforma de investimentos TC . "A gente vê o mercado de trabalho se recuperando, não acredito que isso será um risco muito grande nesse momento", afirma.
E embora muitos vejam o cenário ainda como favorável, há uma alerta de que ele pode não durar para sempre. Com os bancos reajustando a projeção da inflação e crescimento para 2022, é esperado que o crédito imobiliário fique mais restrito.
Se a Selic subir para 10%, o que deve ocorrer no início de 2002, a TR (taxa referencial) passará a ser positiva e começará a impactar a parcela do financiamento. Estes fatores precisam ser levados em consideração.
Para o presidente da CrediHome, plataforma digital de crédito imobiliário, Bruno Gama, aquelas pessoas que reúnem condições financeiras no atual momento, para uma entrada no imóvel não devem perder tempo. "A dica é garantir a aquisição o quanto antes para evitar possíveis surpresas que podem impactar a Selic e as aprovações de crédito nos bancos”, conclui.
Juro menor para a baixa renda
As famílias com renda mensal bruta de até R$ 7 mil e que buscam o financiamento imobiliário com recursos do FGTS já encontram novas condições dentro do Programa Casa Verde e Amarela, da Caixa. O mercado foi informado nesta quinta-feira (28) sobre a redução de taxas de juros (mesmo com a Selic maior).
Os novos índices são distribuídos de duas formas:
Renda familiar mensal bruta de até R$ 2 mil (Faixa 2 do programa): 4,75% ao ano nas regiões Norte e Nordeste, e em 5% ao ano nas demais regiões do país, o que representa uma redução de 0,25 ponto percentual
Renda mensal bruta de R$ 4 mil a R$ 7 mil: 7,66% ao ano. A a nova taxa de juros será 0,50 ponto percentual menor que a taxa atual.