O financiamento imobiliário sempre foi um dos principais destinos do dinheiro do FGTS, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Uma mudança adotada antes da pandemia, porém, mudou tudo.
Desde 2020, o crédito para a casa própria perdeu 20% dos recursos do Fundo – e boa parte foi sacado pelo trabalhador.
No início do governo anterior, a equipe econômica propôs uma série de micro reformas para desregulamentar a economia e tentar dar mais liberdade aos indivíduos. Nessa empreitada, o uso do dinheiro do FGTS começou a ser flexibilizado, com a possibilidade de um inédito saque no mês do aniversário do trabalhador.
Veio a pandemia e a estratégia foi acelerada. Para tentar injetar recursos na economia, foram anunciadas mais situações de retirada do dinheiro do trabalhador depositado no FGTS. Era o saque extraordinário.
Os dias tristes da pandemia ficaram para trás, mas o efeito no FGTS ficou — e as iniciativas caíram no gosto do trabalhador com carteira assinada.
Em 2022, o conjunto de saques — aniversário e extraordinário — somou R$ 60,5 bilhões. O valor superou os R$ 54 bilhões retirados pelos trabalhadores demitidos sem justa causa.
Foi a primeira vez desde o início da série histórica da Caixa que a demissão não foi a principal responsável pela retirada do saldo do Fundo.
Nesse mesmo ano de 2022, a habitação contou com 13,2% do dinheiro retirado das contas. Um ano antes, a parcela destinada ao financiamento imobiliário foi bem maior: 19%.
Com esse tombo, a habitação — que historicamente era o segundo principal uso do FGTS, atrás apenas do saque sem justa causa — ficou em um modesto quarto lugar em 2022 — sendo ultrapassado pelo saque extraordinário e o saque aniversário.
Quando a comparação é com 2020, a redução é evidente e cerca de R$ 6 bilhões deixaram de ser destinados ao financiamento da casa própria. Uma queda de 20% em reais. Declarações recentes do pessoal da construção civil mostram que o setor sente falta desses bilhões.
Agora, o governo se debruça sobre o plano de permitir usar o FGTS Futuro no financiamento imobiliário das famílias de menor renda.
A iniciativa — que avança com relação à proposta aprovada ainda no governo anterior – tenta vincular parte desse dinheiro do trabalhador com a casa própria.
Incentivar a construção civil em um país com déficit habitacional no patamar dos milhões de unidades é sempre positivo.
Agora, resta saber se haverá confiança. Confiança das famílias para tomar crédito e confiança dos bancos para aumentar a carteira do crédito imobiliário.