A nova projeção de crescimento da construção civil foi revisada para baixo. Dados divulgados neste mês pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram que a estimativa de alta do setor em 2023 caiu de 2,5% para 2%.
Uma das causas é o freio na concessão de crédito imobiliário para imóveis de médio e alto padrão, que deve continuar em baixa nos próximos meses, avalia Danilo Igliori, doutor em economia aplicada e professor da USP (Universidade de São Paulo).
"Estamos em um cenário de enorme incerteza, mas o fato é que já há alguns meses, desde o quarto trimestre do ano passado, a gente observa uma contração bem evidente no crédito imobiliário, e isso deve continuar por algum tempo", afirma.
Isso porque, de acordo com o especialista, a taxa de juros é um dos três parâmetros que interferem na concessão de crédito. Os outros são o valor de entrada e o prazo de pagamento do imóvel.
"Temos variações em torno dessas três variáveis e, tipicamente, em uma economia mais estável fica mais fácil você operar em cada uma delas", afirma ele.
Existem modalidades com entradas menores, em que as taxas tendem a ser mais baixas, e os prazos, maiores, por exemplo. Nesse caso, o foco estaria no valor de entrada, explica o professor, e o recurso viria de um fundo poupado anteriormente à compra.
O contexto econômico do Brasil colocou o país sob uma forte onda de saques às cadernetas de poupança, cujos recursos financiam parte relevante das vendas de imóveis residenciais. Por outro lado, houve um aumento no valor dos imóveis em decorrência da alta na taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
"Os juros são muito importantes para o crédito imobiliário de diversas maneiras. De cara, ele dita quão caros ou baratos os financiamentos ficam. A taxa Selic é a taxa básica, ela impacta todas as outras taxas e também a taxa do mercado imobiliário. E aí, quanto maior a taxa de juros, mais caro é o financiamento", afirma Igliori.
Já no contexto macro, quando a taxa de juros sobe, cresce a tendência de um desaquecimento da economia como um todo. Isso resulta em aumento das taxas de desemprego, diminuição do crescimento do país e, consequentemente, da renda da população, levando os bancos a adotar mais critérios na hora de oferecer crédito.
A contração desse crédito impacta a atividade do setor de imóveis como um todo, desde os lançamentos de novas construções até a venda de novos e usados, explica ele.
Essa lógica muda quando se trata dos programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida. "Tem uma dinâmica bem diferente, porque depende fundamentalmente do governo, então a restrição tem mais relação com o aspecto fiscal e de vontade política do que com o impacto da taxa de juros."
Segundo ele, neste governo espera-se um aumento significativo desse tipo de financiamento, em comparação com o que foi o programa Casa Verde e Amarela, do governo de Jair Bolsonaro.
A Caixa Econômica Federal venceu a categoria de crédito imobiliário da pesquisa Datafolha. A marca foi citada por 25% dos moradores de São Paulo das classes A e B, com destaque entre os que têm 41 anos ou mais