A sequência de altas da Selic, a taxa básica de juros do Banco Central, não se refletiu no setor de crédito imobiliário. As taxas médias até se elevaram em relação ao ano passado, mas hoje são menores que a taxa básica. O cenário abre uma possiblidade de investimentos para quem pensa em comprar imóveis.
Levantamento da plataforma Melhor Taxa aponta que, em janeiro de 2021, quando a Selic era de 2% ao ano, a média nominal dos cinco maiores bancos do país estava em 6,96% anuais. Hoje, esse índice é de 9,33%, enquanto a Selic está em 11,75%. A ata do Copom, inclusive, sinaliza que ela deve chegar a 12,75% em maio.
Segundo especialistas, a competição entre os bancos é a responsável por frear o repasse das altas da Selic para os clientes. A obrigação de direcionar recursos da poupança para a modalidade, com taxas ainda menores, é outro fator que puxa baixo o valor do crédito imobiliário.
Cenário estável no médio prazo
O CEO da Melhor Taxa, Paulo Chebat, declarou em entrevista ao Valor Econômico que, historicamente, o comportamento do crédito habitacional em períodos de taxa básica a dois dígitos faz com que a a média do custo dos empréstimos bancários se mantenha abaixo da Selic, porque um custo muito elevado pode inviabilizar o financiamento.
A estagnação da economia e o alto nível de endividamento das famílias reduz a margem para reajustes. Mas a concorrência, de acordo com o próprio setor, também interfere. José Ramos Rocha Neto, diretor-executivo do Bradesco (BBDC4) e presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), diz que as instituições financeiras têm muito apetite para o produto neste ano.
Uma nova alta, prevista para maio, pode provocar elevação nas taxas, mas ainda sem que elas alcancem o índice básico do BC. Isso acontece também porque os financiamentos de crédito imobiliário têm prazos longos, em geral a partir de 15 anos.
Possibilidades para investidores
O fato de as taxas estarem abaixo da Selic pode abrir ao possível comprador uma alternativa para investimento. Em vez de comprar o imóvel à vista, ele pode manter o valor aplicado e tomar um financiamento habitacional.
A mesma lógica vale para quem tem em mãos uma boa parcela da entrada: é possível aumentar o valor do crédito imobiliário e investir parte do dinheiro que já têm em mãos em aplicações mais rentáveis.
Chebat, do Melhor Taxa, aponta que, para uma categoria de compradores que tem capital e pode investir, por exemplo, num fundo que paga Selic mais um spread, valerá a pena manter o dinheiro aplicado e fazer o financiamento.
(Matéria publicada em 23/03/2022)