Depois de sofrer uma forte queda durante a recessão, o crédito bancário deu vários sinais de retomada em 2018, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. Mas o ritmo de recuperação ainda é bastante contido, e o crédito segue distante de assumir o papel de motor do crescimento econômico que desempenhou até 2014.
O estoque de crédito cresceu 5,5% no ano passado, chegando a R$ 3,260 trilhões, interrompendo dois anos de queda nominal (em 2017, havia caído 0,5% e em 2016, 3,5%). O crescimento real do crédito ficou em 1,7% no ano passado, o que significa que se expandiu acima da inflação pela primeira vez desde 2014. Em dezembro, apenas, o crédito registrou alta de 1,8%.
"O ano de 2018 marcou a recuperação do crédito no país, depois de dois anos de retração", afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha. Ele destacou, em particular, o avanço de dois dígitos no crédito livre para empresas (alta de 11,2%) e para pessoas físicas (11,3%).
Apesar de vários sinais de recuperação, o crédito ficou praticamente estagnado na sua proporção com o Produto Interno Bruto (PIB). Oscilou de 47,2% do PIB para 47,4% do PIB entre 2017 e 2018. Normalmente, nos ciclos de expansão da economia o crédito costuma crescer claramente acima do PIB e, nas recessões, em um ritmo mais fraco.
A principal alavanca para a recuperação do crédito são os cortes de juros pelo Banco Central feitos a partir de fins de 2016, de um pico de 14,25% ao ano para a mínima histórica atual de 6,5% ao ano. O afrouxamento monetário se transmitiu para as taxas bancárias. No ano passado, os juros médios cobrados pelas instituições financeiras caíram 1,3 ponto percentual, para 23,3% ao ano, depois de uma queda de 6,6 pontos percentuais em 2017.
Mas os dados do Banco Central mostram que há duas travas no crédito bancário: a redução dos empréstimos direcionados e a retração dos bancos públicos.
A participação do crédito direcionado na economia teve uma retração de 1,2 ponto percentual do PIB no ano passado, para 21,8% do PIB. Essa queda é resultado de medidas do governo para reduzir a presença do crédito direcionado, como o pagamento antecipado de empréstimos feitos pelo Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Também pesou a menor demanda das empresas por financiamentos para investimentos, num ambiente de incertezas sobre o futuro da economia durante as eleições e de alta capacidade ociosa dos fatores de produção. Além disso, parte das empresas procurou reduzir os níveis de alavancagem, depois de tomarem volumes excessivos de empréstimos no ciclo anterior de crédito.
Por outro lado, os bancos seguiram com certa cautela na oferta de crédito para empresas - sobretudo as menores - em boa parte do ano de 2018, segundo indicam os resultados da Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito divulgados pelo Banco Central ao longo do ano.
A carteira de crédito dos bancos públicos sofreu forte retração no ano passado, de 1,3 ponto percentual do PIB, fechando em 24,2% do PIB. Em parte, essa queda se deve ao fato de que os bancos públicos, sobretudo o BNDES, operam de forma mais intensiva nas linhas de crédito direcionado, que encolheu.
Além disso, os bancos públicos seguraram a expansão de crédito para cumprir as regras prudenciais que determinam volumes mínimos de capital em relação a suas operações. Os bancos públicos estavam com baixos níveis de capital depois que, nos governos Lula e Dilma, colocaram em prática uma estratégia de corte de juros e expansão das carteiras - e foram obrigados a distribuir altos volumes de dividendos para o Tesouro cumprir as metas fiscais.
A carteira dos bancos públicos comerciais, excluindo o BNDES, encolheu 0,3 ponto percentual do PIB em 2018, para 17% do PIB. Uma parte dessa queda está ligada ao corte de linhas de financiamento, sobretudo a grandes empresas. Essa queda foi pequena, mas os bancos públicos deveriam ter crescido, num contexto de estímulo monetário.
Os bancos privados responderam aos estímulos e aumentaram as suas carteiras em 1,6 ponto percentual do PIB, para 23,2% do PIB. Mas, pelo menos por enquanto, o avanço do setor privado tem sido suficiente penas para substituir os financiamentos cortados no crédito direcionado e pelos bancos públicos, mas não para sustentar um crescimento mais robusto do crédito em relação ao PIB.
Se as projeções do BC estiverem corretas, o crédito como proporção do PIB seguirá estagnado em 2019. Seu prognóstico é uma expansão de 6% do crédito, ante uma inflação projetada de cerca de 4% e uma expansão real da economia de 2,4%.
O Banco Central tem argumentado que uma parte do crédito bancário está sendo substituída por financiamentos no mercado de capitais e no exterior. Um box publicado no Relatório de Inflação de dezembro aponta que 90% dos R$ 12,1 bilhões em operações de crédito liquidadas antecipadamente no BNDES no período de 12 meses até setembro de 2018 foram feitas por empresas que haviam captado recursos no exterior ou no mercado de capitais.