O crédito teve crescimento modesto no mês passado, em meio a um ambiente de custos em alta. As concessões de novos financiamentos perderam fôlego e subiram 0,6% no dado com ajuste sazonal entre fevereiro e março, ante 1,1% entre fevereiro e janeiro. No trimestre, esse indicador teve expansão de 2%, enquanto o saldo de crédito subiu apenas 0,3% no período - nesse caso, o dado não tem ajuste sazonal.
Alguns analistas enxergaram um movimento de aperto nas condições de crédito, em especial para as empresas, a despeito da expectativa de que nos próximos meses isso possa melhorar.
O movimento das taxas de juros e dos spreads bancários não favoreceram o ambiente para tomada de financiamentos. No conjunto das operações, o custo médio subiu 0,3 ponto porcentual em março, ante fevereiro, para 25,3% ao ano. No trimestre, a alta foi de 2,1 pontos percentuais A diferença entre captação e repasse do dinheiro pelos bancos teve alta de 2,2 pontos percentuais no trimestre e de 0,2 ponto percentual entre março e fevereiro.
A alta dos juros dos financiamentos contrasta com a situação de estabilidade da taxa de juros básica da economia no menor patamar da história, desde o começo do ano passado.
O chefe adjunto do departamento de estatísticas do Banco Central, Renato Baldini, reconheceu em entrevista que não há nenhum fator macroeconômico que explique a alta das taxas de juros do crédito. "Macroeconomicamente, o cenário é de estabilidade de taxas de juros em níveis mais baixos", disse.
A alta das taxas ocorreu de forma generalizada, atingindo a contabilidade tanto de operações não rotativas como na que inclui esse tipo de modalidade (como cheque especial e cartão de crédito). O custo do crédito não rotativo subiu 2,2 pontos percentuais no primeiro trimestre. Incluindo o rotativo, em que houve altas mais pronunciadas de taxas, o aumento foi de 3,4 pontos percentuais.
"O que se tem observado é aumento de taxas de juros", reconheceu, destacando que no caso das operações rotativas não há evidência de algum efeito "composição", no qual grandes movimentos com alguma instituição específica, às vezes, distorcem a estatística.
Ele avalia que o efeito composição pode ter ocorrido no caso das operações não rotativas, por conta de um movimento no crédito pessoal não consignado, que no trimestre teve alta de 16,4 pontos percentuais, mas porque teve uma base anormalmente baixa em dezembro do ano passado. Como os volumes nessa modalidade são altos, podem ter afetado em parte a estatística.
Ele também ponderou que o movimento de alta de taxas de juros não ocorreu em todos os bancos, concentrando-se em algumas instituições.
"O crescimento do crédito continua impulsionado pelo crédito livre, que aumentou 1,4% em março, mais significativo do que meses anteriores", disse, explicando que existe uma sazonalidade em março, período no qual as empresas voltam a procurar recursos no mercado. Ele ressaltou que em 12 meses o crédito livre está com crescimento de 11,5%.
Apesar disso, vale lembrar que esse ritmo de alta é menor do que os juros básicos do período e que, em relação ao tamanho da economia, o estoque de financiamentos ficou em 47,1%, mesma proporção verificada em janeiro e fevereiro e apenas 0,4 ponto percentual acima dos 46,7% do PIB verificados em março de 2018.