Do crédito em 2016 só se deve esperar más notícias. Com taxas de inadimplência em alta e crescimento econômico anêmico, a questão é qual será a dimensão do problema. Nos grandes bancos brasileiros e entre analistas, há consenso sobre a piora dos calotes mas sobram divergências a respeito da intensidade e duração desse movimento. Há quem preveja um cenário em que o saldo de crédito nos bancos privados fique estagnado em termos nominais, provocando queda nos lucros.
"O quadro para o crédito ainda será muito adverso em 2016", afirma João Morais, economista da Tendências. A consultoria projeta crescimento nominal de 5% do saldo de crédito em 2016, o que representaria um encolhimento de 1,4% em termos reais. Para 2015, a estimativa é de crescimento nominal de 7,1% (queda de 3,2% em termos reais). "Não enxergamos nenhum setor e nenhuma modalidade que mostre sustentação", diz.
A expectativa de Eduardo Nishio, analista responsável pela cobertura de sistema financeiro no Brasil Plural, é de um crescimento entre zero a 5% no estoque de crédito das instituições privadas. Nos bancos públicos, há também uma tendência de moderação, tanto pela menor demanda como por limitações de capital. Para o Banco do Brasil, ele espera um avanço de cerca de 5% no portfólio de empréstimos.
"A inadimplência da pessoa física vai subir, de uma forma constante e gradual. É um movimento mais previsível. Já a pessoa jurídica é uma incógnita, dependendo de como vai progredir a Operação Lava-Jato e como as empresas vão se comportar em mais um ano de queda do PIB", diz. A avaliação dele é que o atual ciclo de inadimplência ultrapasse 2016 e chegue a 2017.
O Banco do Brasil projeta expansão no seu saldo de crédito para pessoa física em um ritmo semelhante ao de 2015, de acordo com o diretor de empréstimos e financiamentos do banco, Edmar Casalatina. Em nove meses encerrados em setembro, a carteira do banco cresceu 8,1%. "Nossa expectativa é manter a inadimplência sob controle e abaixo da média do mercado", diz. "Será um ano parecido com 2015, no sentido de tentar manter nosso market share e priorizar modalidades de menor risco."
A projeção oficial do Banco Central (BC) para o crescimento do crédito em 2016 é de 7%, considerando famílias e empresas, repetindo o desempenho de 2015. A autoridade monetária não divulga previsão para a inadimplência.
Levantamento realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com 26 associados projeta um avanço comedido dos calotes neste ano, de 5,2% em 2015 para 5,5% no fim de 2016. Para a carteira de crédito, a pesquisa estima crescimento de 7,8%, repetindo a taxa de 2015. Projeta-se desaceleração no crescimento do crédito direcionado (imobiliário, empréstimos do BNDES) de 12,1% em 2015 para 11,7% em 2016, ao passo que as operações com recursos livres (consignado, cartão de crédito) acelerariam de 3,6% para 4%.
A pesquisa da Febraban, porém, traz um dado que sinaliza preocupação dos bancos. Questionados sobre os efeitos do recuo da atividade econômica, da queda no consumo das famílias e da desaceleração do crédito, 59% dos entrevistados disseram que "haverá um aumento mais expressivo da inadimplência nos próximos meses". Apenas 18% defenderam que o "aumento da inadimplência será menor do que em ciclos anteriores". A sondagem foi feita em dezembro.
Wermeson França, economista da consultoria LCA, diz que a demanda por crédito só vai retomar fôlego quando houver recuperação da confiança de famílias e empresários na economia. "Não existe hoje uma medida que resolva o problema. Só melhorando a confiança", afirma. Do lado da oferta, os bancos devem continuar cautelosos na aprovação dos empréstimos, com o desemprego em alta e a economia ainda em recessão.
As únicas linhas que tendem a perder menos força são as emergenciais, como o cheque especial e a conta garantida para empresas diz Morais, da Tendências. Essa migração para créditos de pior qualidade contribui para o aumento do spread médio da carteira. "Como essas linhas rotativas têm limite pré-aprovado, a maneira que os bancos encontram para se proteger da inadimplência é subindo as taxas", afirma.