Quase um quinto dos canteiros de obras monitorados pela construtech Ambar, nos últimos dias, considera elevado o risco de paralisação de obras. O levantamento foi realizado em 49 construções, no último dia 23. A parcela que avaliava esse risco como alto era de 2% no dia 19. Em 16 de março, quando o levantamento começou a ser realizado, nenhum dos participantes julgava elevado o risco de ter a obra interrompida devido às medidas tomadas para conter a disseminação do coronavírus.
Os 49 canteiros de obras são vinculados a 20 construtoras, responsáveis por 13% do mercado formal de obras destinadas às rendas média e baixa, levando-se em conta a metragem em construção, de acordo com a Ambar. Esses canteiros estão distribuídos em 32 cidades de sete Estados. Do total, 65% está no Estado de São Paulo. A Ambar é uma empresa de tecnologia em construção civil, que fornece kits com instalações hidráulicas, elétricas e de gás para as construtoras, e tem plataforma que faz digitalização dos canteiros de obras.
Conforme o levantamento, a totalidade dos entrevistados respondeu, no dia 16, que o ritmo da obra estava alinhado com o cronograma. No dia 19, a parcela caiu para 90% e, na segunda-feira, para 77%. A pesquisa indicou também que, no dia 23, o andamento das obras tinha sido prejudicado em 14% dos canteiros e que, em 9% deles, as obras pararam.
Segundo Marcos Nuernberg, diretor de sucesso do cliente da Ambar, no dia 23 havia paralisações em regiões nas quais decretos públicos determinaram fechamento de canteiros de obras. O executivo cita que, nos Estados de Santa Catarina e de Pernambuco, as obras foram suspensas pelos respectivos governos.
Na terça-feira, o Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, informou que MRV e RNI Negócios Imobiliários interromperam parte de suas obras. MRV, a maior incorporadora do país, tem 10% de obras paralisadas em decorrência de decretos municipais ou estaduais, e RNI tem duas construções interrompidas.
Outra questão apontada pelo levantamento da Ambar se refere à assiduidade dos trabalhadores nos canteiros. No dia 16, 90% dos entrevistados não tinha registrado nenhuma falta em seus canteiros, e 10% responderam que alguns colaboradores tinham se ausentado. Já na última segunda-feira, 43% indicaram que alguns empregados faltaram, enquanto 8% responderam que muitos faltaram.
Segundo Nuernberg, as construtoras de maior porte têm demonstrado mais preocupação em tomar as medidas necessárias. Desde que a Ambar deu início aos levantamentos, a parcela dos entrevistados que não tomou nenhum tipo de ação de orientação dos empregados em relação ao coronavírus foi reduzida de 81% para 21%, percentual ainda considerado elevado.
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França, as obras prosseguem normalmente onde não há decretos de suspensão. “As obras representam um ambiente seguro para os profissionais em relação ao coronavírus. As pessoas trabalham em ambientes arejados, e não há problemas de aglomeração. Hoje, um profissional de obra é muito mais monitorado do que qualquer brasileiro”, diz França.
De acordo com o presidente da Abrainc, o trabalhador de uma obra é encaminhado para o hospital quando apresenta qualquer problema de saúde.