Das 23 companhias que foram inicialmente proibidas de fazer negócios com a Petrobrás em 2014, por causa de corrupção nos contratos com a estatal, dez foram consideradas inidôneas e não podem fazer negócios com o poder público e oito estão em recuperação judicial. Dessas, apenas uma conseguiu sair da recuperação e outra teve a falência decretada. “Na nossa visão, algumas não vão conseguir sobreviver”, diz Leonardo Coelho, diretor da Alvarez & Marsal (A&M), consultoria especializada em reestruturação de empresas.
Na avaliação dele, a crise econômica tem sido mais perversa para as construtoras do que a Operação Lava Jato. Isso porque a falta de investimento no País dificulta a recuperação dessas empresas.
Com poucas obras públicas, as empresas têm recorrido ao setor privado, cujos projetos são menos complexos e os preços menores. O problema é que, sem oferta, todo o setor disputa o mesmo contrato. Se no passado as gigantes da construção tinham um mercado ‘cativo’ nos megaempreendimentos de infraestrutura, hoje elas são obrigadas a disputar com as pequenas e médias construtoras obras bem menores – e mais baratas.
Na Camargo Corrêa, por exemplo, cinco das nove obras conquistas recentemente têm orçamento abaixo de R$ 200 milhões. E, apesar de serem menores, exigiram descontos de até 44% para a empreiteira vencer as licitações. “O poder público tem investido pouco em infraestrutura e isso afeta muito as construtoras”, diz a empresa, cujo faturamento caiu de R$ 3,7 bilhões para R$ 2,2 bilhões entre 2015 e 2017.
Uma das estratégias do grupo para virar a página da Lava Jato foi criar uma nova empresa, a Camargo Corrêa Infra, para disputar as licitações. Com essa nova companhia, espera vencer contratos de até R$ 10 bilhões nos próximos dois anos. Mas essa não será uma tarefa trivial diante do cenário de crise econômica, diz Coelho.
“O setor de infraestrutura vive um momento muito difícil com a redução drástica dos investimentos”, afirma o presidente da Odebrecht, Fabio Januário. Segundo ele, a empresa tem buscado se aproximar dos poucos setores que têm reagido durante a crise, como a área de transmissão de energia. A empreiteira está de olho nesse mercado. Ele explica que, com o enxugamento feito nos últimos anos, os custos fixos caíram e possibilitaram à empresa disputar obras menores.
Além da redução do número de funcionários, a empreiteira unificou a estrutura interna da empresa. “Antes tínhamos 5 presidentes: Brasil, África, Venezuela, setor industrial e infraestrutura. Hoje só temos um.” A empreiteira também ganhou fôlego financeiro para disputar novas obras, com o financiamento de R$ 2,6 bilhões conseguido pelo grupo em maio – metade ficará na construtora.
A Queiroz Galvão espera o fechamento de um acordo para reestruturar R$ 10 bilhões em dívida. Mas a empresa tem um empecilho a mais: o Tribunal de Contas da União (TCU) declarou a empreiteira inidônea, o que significa não poder disputar obra pública por cinco anos. A empresa recorreu da decisão, que está suspensa.
Situação ainda mais delicada é a da Mendes Júnior que foi considerada inidônea e está em recuperação judicial. Seu plano de recuperação foi aprovado em abril pelos credores e suspenso dois meses depois. Já a proposta da Constran, empreiteira do grupo UTC, ainda nem passou pelo crivo dos credores. O pedido de recuperação foi feito em meados do ano passado.