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21/08/2018

Crise na construção fez vendas de aços longos recuarem 34%

A indústria da construção civil, que responde por 38,1% do consumo de aço do país, o equivalente a 6,9 milhões de toneladas, enfrenta uma paralisação sem precedentes em sua história pela falta de investimentos em novos projetos

A indústria da construção civil, que responde por 38,1% do consumo de aço do país, o equivalente a 6,9 milhões de toneladas, enfrenta uma paralisação sem precedentes em sua história pela falta de investimentos em novos projetos. O PAC, que desembolsou R$ 64 bilhões em 2014, liberou apenas R$ 17 bilhões, em 2017. O cenário tem se agravado devido a uma associação de fatores entre eles a crise política, a severa recessão econômica e a lentidão na resolução dos processos da operação Lava-Jato.

"A situação drástica é decorrente de razões estruturais como o custo Brasil e a alta carga tributária, e conjunturais, entre as quais a queda consistente do PIB acumulada em 8%", diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil. Segundo ele, o foco é aumentar o PIB da indústria de transformação para 2,5% em 2019, a partir da implementação de obras e de reformas da Previdência, fiscal e tributária.

A indústria do aço sofreu uma retração bem intensa nos últimos quatro anos. O consumo de aços longos - que tem como principal aplicação a construção civil - caiu 34% em 2017 em relação a 2013, antes da crise, enquanto a venda total de aço no país ficou 26% abaixo do patamar de 2013, segundo Felipe Beraldi, economista da Tendências Consultoria.

A previsão de 1,5% de crescimento do consumo de aço na área da construção civil em 2018 já foi revista pelo Instituto Aço Brasil, que estima fechar o ano com apenas 0,7%. Há perspectivas, no entanto, de alta de 5,8% do PIB da construção, em 2019.

"Para isso é preciso segurança jurídica, crédito, planejamento e estímulo ao capital privado, além da aprovação da lei de Licitações", diz José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Ele foi o porta-voz do encontro com os presidenciáveis, promovido, no início do mês, em Brasília, pelo movimento Coalizão pela Construção, que reúne 26 entidades do setor em prol da sua recuperação.

Foi consenso entre os candidatos presentes a importância do segmento da construção para o desenvolvimento do país, por ser o maior empregador. Hoje são cerca de 100 mil empreiteiras que geram 2 milhões de empregos diretos, que chegaram a 3,09 milhões, em 2014.

A área da construção mais impactada pela crise foi a de infraestrutura, seguida da construção civil, que apresentou déficit de 6 milhões de unidades. Os recursos para o mercado imobiliário com o financiamento da caderneta de poupança caíram mais de 50%, de R$ 114 bilhões, em 2014, para R$ 43 bilhões, em 2017.

No caso de infraestrutura, é legítima a preocupação com o desenvolvimento da indústria nacional. A China, por exemplo, aporta capital e traz o pacote inteiro: máquina, aço e pessoal. Por conta disso, a indústria brasileira muitas vezes fica alijada do processo. A preocupação é que o investimento destinado à infraestrutura só retornará daqui a dez anos

O ciclo da construção imobiliária também é relativamente longo, dura em torno de dois anos - do lançamento à conclusão da obra. O que manterá o setor em atividade, até o fim de 2018, será a área de reforma imobiliária, o chamado "consumo formiga", conforme prevê Samanta Imbimbo, economista da Tendências.

O crescimento em torno de 15% no primeiro semestre de 2018 da siderúrgica paraense Sinobras, que pertence ao grupo metalúrgico Aço Cearense, confirma essa estimativa. As obras e reformas residenciais têm mantido a empresa desde o início do ano, segundo Ian Corrêa, vice-presidente de operações do grupo. Toda a sua produção é voltada para atender o consumo interno com aços longos, tubos e perfil.

Mesmo com o crescimento das exportações, as vendas internas de aço longo em 2017 no país responderam por 75% do mercado. Isso mostra a dependência das siderúrgicas brasileiras do mercado interno. Especialistas estimam haver potencial ainda bem promissor para expansão da indústria. Em 1980, o Brasil respondia por 100 kg do consumo per capita do aço e a China, por 34 Kg. Em 2017, a situação inverteu-se, a China passou a consumir 522 Kg e o Brasil 92 Kg.

O mercado da construção tem buscado na inovação alternativas para conseguir uma operação mais enxuta. A tecnologia de modelagem de informações da construção (Bim), aplicada ao ciclo de um empreendimento de construção civil, viabiliza o controle e gestão eficientes das obras. Segundo Wilton Silva Catelani, consultor estratégico de Bim, além de gerar menos desperdício é possível uma otimização de custos de 20%.

FONTE: VALOR ECONôMICO