O estímulo à infraestrutura da China tem impulsionado a atividade econômica, mas não é grande o suficiente para compensar o impacto na construção causado pela contínua desaceleração do mercado imobiliário, segundo dados de alta frequência.
Investimentos em áreas como saneamento, estradas, comunicações e centros de saúde têm crescido a taxas de dois dígitos nos últimos dois meses em relação ao ano passado, segundo cálculos do Goldman Sachs baseados em dados oficiais divulgados esta semana. Esse nível se compara ao crescimento quase zero no ano passado, de acordo com dados oficiais.
A expansão é confirmada por imagens de satélite de projetos de construção de estradas em 13 províncias analisadas pela Four Squares Technology. A estimativa é de que a área de estradas em construção tenha aumentado 6,3% em julho na comparação anual, um forte contraste em relação ao início deste ano, quando o segmento mostrava retração.
No entanto, isso não é suficiente para a retomada do enorme setor de construção da China. Os dados da Four Squares mostram que a área de terra coberta por projetos de construção lançados em julho nas três maiores regiões da cidade – em torno de Pequim, Xangai e Guangzhou – caiu 44% em comparação com um ano atrás.
A área total de terrenos cobertos por construções novas e em andamento nessas regiões da cidade diminuiu 1% em julho na comparação com 2021.
A razão é a queda do investimento imobiliário. A crise de liquidez enfrentada por incorporadoras da China provocou uma queda de novos projetos e paralisou cerca de 5% da construção de apartamentos existentes, o equivalente a cerca de 500 milhões de metros quadrados de área útil, o que também levou a “greves” no pagamento de hipotecas de compradores frustrados.
Como resultado, a atividade de construção encolheu em todo o país. Dados da empresa japonesa Komatsu mostram que equipamentos pesados foram menos usados em julho do que no mesmo mês de 2021. Esse declínio também foi observado na demanda por bens industriais no mês passado: a produção de aço caiu para o nível mais baixo desde 2018, enquanto a fabricação de cimento teve queda de 7% em relação ao ano anterior.
Como Pequim ainda não anunciou um plano abrangente para aliviar o estresse financeiro no setor imobiliário, parece haver pouca esperança de uma recuperação geral da construção. As vendas de escavadeiras, um sinal das expectativas da indústria da construção, despencaram 25% em julho.
Governos locais da China emitiram um volume recorde de títulos especiais usados principalmente para financiar investimentos em infraestrutura, e o governo chinês pediu a bancos estatais que ajudem a direcionar o financiamento para projetos.
O Securities Times disse em artigo nesta quarta-feira que projetos de infraestrutura representam quase 20% do total de empréstimos em moeda local da China e continuarão sendo o principal destino de financiamentos de longo prazo para o setor corporativo este ano.
O investimento em infraestrutura deve acelerar ainda mais até crescer de 10% a 13% este ano, de acordo com Le Xia, economista-chefe para Ásia do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria. Como o investimento em infraestrutura responde por cerca de 15% do PIB total da China, isso pode contribuir para um crescimento real da economia de 1,5% a 2%.
Mas, com um possível declínio de dois dígitos no investimento imobiliário, a contribuição total do investimento – inclusive em instalações fabris – para a expansão do PIB pode ser menor do que no ano passado, de cerca de 1,1%, acrescentou.
Matéria publicada em 18/08/2022