Um setor que está aquecido é o da construção civil, que voltou a empregar quem estava parado na pandemia, mas o problema agora é a inflação alta.
O horizonte em obras é herança dos tempos em que os juros estavam no chão. São projetos que foram lançados, vendidos e que agora, precisam ficar de pé. Trabalho não falta. O apontador da obra Douglas Mendes voltou para o ramo da construção civil depois de encarar o desemprego no auge da pandemia.
“Sempre tentei voltar na área quando eu estava fora do mercado, sempre a área que eu atuei e gosto de trabalhar nessa área. Agora, para aproveitar que a demanda está grande novamente, quem gosta e precisa trabalhar nessa área: esse é o momento”, afirma.
“A demanda está bem aquecida mesmo. Está tendo até uma procura muito grande por profissionais da linha de produção como carpinteiro, gesseiro, armador, e esses profissionais bem-qualificados são bem assediados pelas empresas construtoras”, explica Milton Bigucci Junior, diretor técnico da construtora.
Essa procura tem um preço. Está caro construir e não é de hoje, mas, depois de dois anos com as reformas da pandemia puxando os custos do material, agora é o valor da mão de obra, que está inflacionando o setor. É que a disputa pelos trabalhadores faz aumentar o preço do serviço, e os salários subiram.
O INCC - Índice Nacional da Construção Civil - que mede quanto está custando construir no Brasil, subiu de 0,87% em abril, para 1,49% em maio. No acumulado de 12 meses, a alta já é de 11,20%.
Só o custo da mão de obra - que representa metade do índice - triplicou, chegando a uma elevação de 1,43%, ainda mais que maio foi mês de acordo salarial. E os reajustes foram em média de 12,5%.
A responsável pela divulgação do índice explica que diminuiu o espaço para reformas no orçamento das famílias.
“Aumento dos preços, a inflação muito alta levando a que o orçamento familiar ficasse mais disputado com outras demandas. E a própria abertura das atividades, levando a outras despesas. Tudo isso fez com que as despesas com materiais por parte da família diminuíssem. Mas por outro lado, a gente teve aí o ciclo, por conta da demanda das empresas, evoluindo aí mais fortemente”, destaca Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de construção FGV IBRE.
O INCC em alta também tem outro efeito colateral. O especialista em mercado imobiliário Coriolano Lacerda, gerente de inteligência da DataZAP+, lembra que o índice é usado para reajustar as parcelas dos imóveis comprados na planta, porque corrige a diferença entre o que foi orçado no início da obra e o quanto está custando de fato.
“Agora, a gente está nesse momento em que o preço precisa começar a ser corrigido. Então, a gente tem um espaço para crescimento de preço dado a demanda que existe no mercado. O grande desafio é conseguir equilibrar isso, equilibrar como a gente faz esse repasse de preço, se, por um outro lado, a gente também tem a alta da Selic tirando o poder de compra das famílias”, ressalta.
Mesmo com os desafios, a abertura de mais vagas em um dos setores que mais empregam, levou Eraldo Carlos Santos Bonfim a não pensar duas vezes. Assim que a notícia do emprego chegou na Bahia, o ajudante de obra pegou o caminho de São Paulo.
“Está valendo a pena porque, no momento, eu estava desempregado e agora, graças a Deus, estou empregado. Está valendo a pena”, diz.
Matéria publicada em 14/06/2022