Por Bruno Rosa
Parte da tradicional sede de Furnas, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, foi vendida na tarde desta quarta-feira em um leilão feito pela B3. Sem concorrência, a Cyrela arrematou por R$ 75.400.014,00 o lote. O valor foi apenas R$ 14 acima dos R$ 75,4 milhões do lance mínimo.
O conjunto de edifícios de Botafogo foi, por 50 anos, a sede de Furnas, subsidiária da Eletrobras que é responsável por mais de 10% da energia gerada no Brasil. Desde dezembro de 2020, o espaço, que ocupa um quarteirão inteiro em um dos bairros mais valorizados do Rio, estava desocupado. Há um ano e meio, os funcionários foram transferidos para um escritório no Centro do Rio.
Procurada pelo GLOBO, a Cyrela não quis falar sobre os planos para o imóvel. Segundo o BNDES, contratado por Furnas para apoiar a estruturação do leilão, a perspectiva é que a empresa, que tem foco em imóveis de alto padrão, construa um empreendimento residencial. O certame foi, segundo o banco, o primeiro de um ativo imobiliário na B3.
A venda do imóvel começou a ser planejada pela empresa em 2019, quando a Eletrobras ainda era uma estatal, em meio a um plano de redução de custos. O imóvel que foi o quartel-general de Furnas conta com três blocos e, quando ainda era ocupado pela empresa, tinha capacidade para abrigar seis mil funcionários.
Pedro Brito, diretor de Gestão Corporativa de Furnas, explicou que o lote leiloado ontem incluiu um terço de todo o terreno onde estava a sede de Furnas. Segundo ele, essa fração do espaço em entrada pela Rua São João Batista, na esquina com a Rua Mena Barreto.
A parte onde está a entrada principal do conjunto de edifícios que sediou Furnas, na Rua Real Grandeza, e que virou até ponto de referência no bairro, pertence à Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários da empresa, e também será vendida.
Segundo Brito, o resultado do leilão não surpreendeu pela falta de outros interessados, mesmo se tratando de uma região adensada, com pouco espaço para novas construções e cuja localização dá uma perspectiva privilegiada do Corcovado, formando uma paisagem marcada pela vista do Cristo Redentor.
Ao contrário, havia a expectativa de que não houvesse lances por causa das perspectivas econômicas que desestimulam investimentos, como a alta de juros. Apesar do cenário ruim, o executivo explicou que Furnas manteve o plano de venda para eliminar o custo anual de R$ 4 milhões com manutenção, serviços e impostos do imóvel.
— A gente esperava que nem aparecesse interessado, já que o mercado (financeiro) foi se degradando, principalmente o de juros no Brasil, esse ano. O mercado imobiliário foi muito impactado por conta da condição econômica. Há muita gente devolvendo imóvel — observou Brito.
Ele continuou:
— Botafogo não tem muitos terrenos disponíveis. O fato de a gente ter vendido para Cyrela acaba trazendo uma certa valorização para a área porque já há uma identificação de que há um interesse do setor imobiliário na região
O prédio histórico fica no Centro do Rio e foi sede da Rádio Nacional e do jornal A Noite
O leilão previa a venda de um outro lote, de menor área, na Rua Real Grandeza, que abriga um galpão, mas não houve interessados. O lance mínimo era de R$ 10,2 milhões.
Bruno Laskowsky, diretor de Participações e Mercado de capitais do BNDES, disse que esse foi o primeiro leilão de ativo imobiliário na B3.
Segundo ele, a iniciativa faz parte da atuação do banco para que o governo "recicle" os ativos imobiliários que "muitas vezes o poder público não consegue cuidar bem" e que "não gera emprego e desenvolvimento".
-- O BNDES tem feito uma série de movimentos de alocação de capital. O BNDES nunca tinha feito uma atuação concreta no mundo imobiliário. Há um espaço importante de reciclagem de capital dos ativos imobiliários do país. Temos um patrimônio imobiliário muito grande no país, que podem transitar desde R$ 1 trilhão. Tem levantamentos até maiores -- afirmou Laskowsky, durante a cerimônia.
Ele comemorou o resultado do leilão feito em "um momento difícil da economia".
-- É um mérito da Cyrela em ter embarcado nessa. Não só o projeto, mas a coragem de neste momento fazer investimento no país e contribuir para o desenvolvimento brasileiro.
Furnas pretende fazer ainda o leilão de outros imóveis no país e ainda criar um fundo imobiliário com 243 imóveis de forma a gerar receita para a companhia.
Matéria publicada em 13/07/2022