A Cyrela apresentou no segundo trimestre um aumento de quase 50% no valor do seu estoque, as unidades lançadas que não foram vendidas. O indicador somava R$ 8,1 bilhão ao final de junho.
Segundo o diretor-financeiro e de relações com investidores da companhia, Miguel Mickelberg, essa elevação se deve à queda na velocidade de venda que a companhia apresentou no trimestre, associada ao aumento do volume de novos lançamentos.
Entre abril e junho, a Cyrela lançou R$ 2,3 bilhões, 21% mais do que há um ano, ao mesmo tempo em que o indicador de venda sobre oferta (VSO) dos últimos 12 meses, que mede a velocidade da comercialização, caiu de 55,4% para 43,2%.
Para o executivo, não é algo que exija preocupação. “[A VSO] é um dos dados que mostram que o mercado está mais difícil do que há um ano, mas consideramos o nível saudável, conseguimos entregar boa rentabilidade e bons resultados com esse patamar”, diz, em entrevista após a divulgação do balanço da companhia, nesta quinta-feira (11).
O estoque da incorporadora é jovem, explica. Dos R$ 8,1 bilhões, R$ 1 bilhão vem de unidades já entregues, piores para as empresas manterem, porque, entre outros motivos, geram custos de condomínio e IPTU. Para comparação, o pico de estoque entregue ocorreu em 2018, quando chegou a R$ 3,1 bilhões.
Tudo isso não é motivo para reduzir o volume de lançamentos da empresa no segundo semestre, afirma o executivo. “No início do ano, nossa ideia era que o volume de lançamentos fosse similar ao do ano passado [R$ 7,1 bilhões]. Não conseguimos ter precisão do que vamos lançar no ano, mas não temos previsão de postergar lançamentos”, diz.
Outro indicador com resultado negativo no trimestre foi a margem bruta, que recuou 5,3 pontos percentuais, para 31,3%. Mickelberg explica que isso se deve às pressões inflacionárias do setor. “Foi difícil repassar o reajuste para os clientes, mas o setor tem visto essa compressão de margem, não é exclusividade da Cyrela”, diz. Há perspectiva de arrefecimento dos aumentos de preço de insumos, mas o executivo ressalta que o mercado ainda está desafiador e que não é possível cravar uma recuperação da margem nos próximos trimestres.
Em um ano, a Cyrela reduziu os lançamentos que se enquadram no programa Casa Verde e Amarela em quase 40%. De acordo com Mickelberg, a razão para essa queda também é a inflação, que tornou a atividade nessa faixa menos atrativa para a incorporadora.
Nos últimos meses, o programa habitacional passou por revisões que animaram as empresas do segmento econômico, mas a Cyrela não deve voltar a ganhar volume nessa área tão cedo, mesmo reconhecendo que as alterações aumentaram a capacidade de compra e financiamento dos clientes. Isso porque o ciclo de desenvolvimento de novos projetos é longo, leva de 12 a 18 meses, afirma o executivo, e não há muitos empreendimentos desse padrão já no pipeline. “Podemos encontrar mais oportunidades de terrenos, mas não é algo que muda rápido”, diz.
Matéria publicada em 13/08/2022