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18/03/2020

De apartamento 3D a luvas nas obras, as ações da Loft contra o coronavírus

Atuando em um dos segmentos que podem ser mais impactados pela pandemia, a startup de reforma e venda de imóveis está implementando adaptações

Obras, decoração, reforma, visita a apartamentos. Como manter tudo isso em tempos de coronavírus? Para reformular sua operação de reforma e venda de apartamentos durante a crise em São Paulo, a startup do setor imobiliário Loft está fazendo uma série de adaptações no negócio.

Dentre a série de segmentos afetados pela pandemia global que já infectou mais de 190.000 pessoas, o setor imobiliário está entre um dos muitos alvos inevitáveis. “Temos um componente offline muito grande, que são as obras, as visitas a apartamentos”, diz o co-fundador e presidente da Loft, Florian Hagenbuch.

Para além dos mais de 500 funcionários, a companhia lida ao todo com uma cadeia de cerca de 12.000 trabalhadores diretos e indiretos, de pedreiros e decoradores a corretores imobiliários parceiros. São mais de 500 prédios onde a Loft opera no momento e que precisaram passar por mudanças na rotina.

 

Embora as obras de reformas não tenham parado, Hagenbuch e sua equipe vêm se inspirando em países do exterior para estabelecer medidas de segurança. Os trabalhadores agora só podem estar na obra com máscaras e luvas e a uma distância de 1 metro uns dos outros, e precisam usar álcool em gel, oferecido no local.

Para os corretores parceiros, o tradicional aperto de mão com os clientes foi proibido — um aperto de mão pode conter de dez a 15 vezes mais bactérias do que um toque rápido como o high five, diz Hagenbuch. As visitas aos apartamentos estão mantidas por enquanto, mas os corretores receberam um manual de boas práticas para uma operação segura, como evitar elevadores cheios e transporte público.

 

Para reduzir o número de visitas presenciais, os corretores podem usar uma ferramenta de tour virtual, oferecida pela Loft, em que é possível fazer uma visita completa no apartamento à distância. A empresa oferece fotos em 3D para compradores interessados.

A Loft tem mais de 300 apartamentos à venda no momento, boa parte deles em bairros de alto padrão e custando acima de 1 milhão de reais. A empresa está em 37 bairros, após ter aumentado sua presença territorial nos últimos meses.

 

Além de São Paulo, a Loft chegou neste ano à cidade de Belo Horizonte, e tem ainda um escritório em São José dos Campos, no interior de São Paulo (mas não vende imóveis na cidade por ora). O rápido crescimento após a fundação, em 2018, fez a Loft entrar em dezembro passado para o seletro grupo de unicórnios brasileiros, empresas com valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares.

 

Da lista de ações contra a pandemia de coronavírus, foram ainda disponibilizados centenas cupons de frete grátis na plataforma de entrega Rappi para itens de farmácia e supermercado comprados por moradores ou frequentadores dos 500 prédios onde a Loft atua. A ação começou na segunda-feira, 16, e vai até 29 de março.

“Estamos muito preocupados com nossos vizinhos nos prédios onde atuamos. No geral, são bairros com grande número de idosos”, diz o presidente da Loft.

Comitê de crise

Hagenbuch puxa a fila de um movimento de empresários, sobretudo de startups de tecnologia, que vêm elaborando uma série de práticas para lidar com o coronavírus e tentar evitar a disseminação intensa da doença. Em seu Linkedin, o empreendedor vem fazendo diversas postagens ao dia alertando para os riscos da pandemia.

Um grupo de mais de 400 empresários, entre eles Hagenbuch, também assinou uma carta aberta batizada de “Compromisso pelo combate à propagação do vírus Covid-19 no Brasil”, inspirada no movimento #StopTheSpread dos Estados Unidos (pare a disseminação, em inglês). “O que fizemos agora vai mostrar se vamos ser a Coreia do Sul ou a Itália. É nossa responsabilidade como empresário tentar minimizar a questão sanitária de alguma forma”, diz Hagenbuch, que é alemão.

 

No mundo, há mais de 197.000 casos confirmados de coronavírus, mais de 55% deles fora da China — o que levou a Organização Mundial da Saúde decretar a doença uma pandemia global na última semana. O Brasil tinha até a noite desta terça-feira, 17, 291 casos confirmados e mais de 8.000 suspeitos, o que gera projeções de uma potencial subnotificação, com mais casos do que os confirmados pelo Ministério da Saúde. O país também registrou na terça-feira a primeira morte pelo novo coronavírus, em São Paulo.

Na Loft, Hagenbuch criou um comitê de crise que se reúne duas vezes por dia (remotamente, é claro) e atualiza o cenário do coronavírus e medidas empresariais em um documento aberto, que Hagenbuch disponibilizou em seu LinkedIn. No documento, há desde as medidas tomadas pela própria Loft até dicas para outros empreendedores, como ferramentas para reunião e organização online ou medidas para proteger o negócio em tempos de crise.

 

“Eu falo todos os dias com contatos da China sobre como foi lá. E tirando setores como as empresas de colaboração e de vídeo, como Zoom ou Trello, tem poucas que saíram ilesas”, diz o fundador da Loft. Por outro lado, o empreendedor acredita que o caso pode ser uma oportunidade para que diversos setores da economia, dentro de suas especificidades, se digitalizem e se preparem para novas crises no futuro.

FONTE: EXAME