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30/08/2024

De Mogi para as áreas mais nobres da capital paulista: a trajetória do fundador da Helbor (Estado de S.Paulo

Henrique Borenstein, ‘hors concours’ no Master Imobiliário, trabalha em São Paulo, mas prefere morar em Mogi das Cruzes (SP), onde nasceu e está a sede da empresa que fundou em 1977

Em uma sala ampla no alto do HBR Corporate Tower, na Avenida Faria Lima, Henrique Borenstein recebeu a reportagem do Estadão. Era uma quinta-feira, um dos dois dias da semana em que o fundador da Helbor vai ao escritório da empresa na capital, rotina semanal que segue religiosamente.

“Hoje, eu estou aqui, mas volto para Mogi. Você sabe, eu sou de Mogi”, declara o empresário de 88 anos. Depois de uma hora de entrevista, aponta para o computador em sua mesa e revela, com leve sorriso: “Não sei mexer nisso. Nunca precisei e nem vou usar. Gosto só de olhar as imagens das câmeras do edifício”.

Henrique Borenstein recebe o prêmio Hors Concours nesta 30.ª edição do Master Imobiliário, pela sua trajetória de empresário do setor. Com 47 anos, a Helbor está em 30 cidades, 10 estados e no Distrito Federal.

 

A incorporadora entregou mais de 42 mil unidades, entre apartamentos, casas de condomínio, salas comerciais, lotes urbanizados e unidades hoteleiras. São 270 empreendimentos, mais de 9 milhões de metros quadrados de área construída. Atualmente, concentra atividades nas cidades de São Paulo, Mogi da Cruzes, Campinas, Curitiba (PR) e Joinville (SC). Cerca de 42% de todos os empreendimentos, entregues ou em construção, estão na capital paulista.

Mas a história de Henrique Borenstein no trabalho começou bem antes de atuar em incorporação. Nasceu, viveu e vive em Mogi das Cruzes (SP), onde está a sede da empresa que fundou em 1977, juntando as iniciais do nome de seu pai, Helio Borenstein, que daquela cidade construiu um patrimônio invejável.

Helio saiu da Ucrânia em 1917, viajou em porão de navio por 30 dias, chegou ao Rio de Janeiro e seguiu de trem para Jacareí (SP), para estar com familiares. Cochilou e acordou em Mogi. Perdido, viu uma placa de loja escrita em iídiche, um dos idiomas que sabia. O dono o acolheu e o empregou. E Helio ficou em Mogi.

 

Trabalhou no comércio, tinha vida modesta, juntava dinheiro e comprava casas. Ergueu sua loja e depois o magazine Belver. Em 1960 fundou a Cotac, “a segunda concessionária General Motors do Brasil”, lembra Henrique, que começou a trabalhar na Belver, na década de 1950, e depois dirigiu a Cotac.

Henrique presidiu a Associação dos Revendedores Chevrolet, o que lhe abriu as portas para o mercado financeiro. Em 1961 entrou no Banco de Crédito Nacional S/A, onde atuou por 38 anos dirigindo diversas empresas que integravam o sistema BCN, vendido para o Bradesco em 1997. Ele é formado em Economia pela Universidade Mackenzie e, antes, concluiu o ginásio e científico no internato Liceu Pasteur, ambos em São Paulo.

 

“A Helbor surgiu para que pudéssemos administrar os imóveis deixados pelo meu pai. Eram mais de mil inquilinos no Estado”, recorda. “Quando começamos na incorporação, Mogi tinha 3 prédios. Erguemos 30 torres na cidade e depois buscamos outros mercados, como Santos, Jacareí e arredores da capital”.

O Grupo

Henrique fundou a Helbor – Hélio Borenstein S/A – Administração, Participações e Comércio, holding que detém o controle acionário da Helbor Empreendimentos S/A e da HBR Realty Empreendimentos Imobiliários S/A (fundada em 2011). A primeira abriu seu capital na Bolsa de Valores em 2007 e a segunda, presidida por Alexandre Nakano, em 2021.

 

A companhia se manteve com o controle da família. O fundador é vice-presidente do Conselho de Administração da Helbor e da HBR Realty e vice-presidente executivo das empresas do grupo. O filho mais novo, Henry Borenstein, é o presidente da Helbor desde 2013. A sucessão familiar aconteceu naturalmente, sem conflitos, diz Henrique.

A HBR Realty é uma empresa dedicada a soluções em desenvolvimento e gestão de ativos imobiliários nos diferentes segmentos, com quatro plataformas de atuação: ComVem, HBR 3A, HBR Malls e HBR Opportunities. Em 2017 foi fundada a Helbor Vendas, exclusiva para comercialização de empreendimentos da companhia em São Paulo, ABC, Osasco, Guarulhos e Mogi das Cruzes.

A Helbor é uma incorporadora pura, e faz parcerias com construtoras de renome para a realização de seus projetos. Atualmente, 12 parceiras estão em atividade. O empresário destaca a qualidade e a longevidade dos bons parceiros. “Tem construtora que já fez mais de 100 prédios para a Helbor”, orgulha-se o fundador.

Ele também destaca o trabalho próximo que a empresa mantém com o cliente final. “Valorizamos muito a alegria do comprador ao receber o imóvel, a felicidade dele com o bem que adquiriu, sem ter problemas para resolver”, diz. “Temos cerca de 100 funcionários trabalhando exclusivamente no atendimento ao cliente”.

 

A empresa tem colaboradores indiretos nos diferentes segmentos e 300 funcionários diretos. ”Eles administram e cobram os terceirizados para que nada se afaste do padrão estabelecido”, diz Henrique. “E eu cobro deles.”

Além da rotina entre os dois escritórios da empresa, nos fins de semana Henrique visita de helicóptero os empreendimentos em construção. São 34 projetos em andamento, a maioria em áreas de alto valor agregado na capital, como Jardins, Itaim, Moema e Chácara Santo Antônio.

Casado há 73 anos com Maria de Castro Borenstein (Penha, como é mais conhecida), é pai de Malka e Érika, além de Henry, a quem chama carinhosamente de Boy. Tem 8 netos e 4 bisnetos. Não tem hobby, não pratica esportes. “Eu gosto de trabalhar.”

 

Foi submetido a cirurgia cardíaca há cerca de 30 anos. No final de 2023, um novo procedimento implantou um marca-passo em seu coração. Em janeiro de 2025, o homenageado vai comemorar 89 anos. E avisa: “O cardiologista garante que minha idade cronológica é de apenas 65 anos”.

 

‘Imóvel sempre vende, desde que seja no valor correto’

Em uma hora de conversa, Henrique Borenstein cunhou frases com bom humor e a sabedoria que vem da experiência. Estabelece limites: “Não me pergunte quanto eu investi. Eu não falo.” Não raro acorda no meio da noite lembrando de alguma providência a tomar. “Se vejo a luz do shopping ainda acesa, fico louco e mando apagar”, referindo-se ao Mogi Shopping, adquirido pela HBR em 2015.

“Não tenho apego ao dinheiro, mas sim ao trabalho”, garante. Transita de helicóptero desde a década de 1970 para economizar tempo. E do alto de sua maturidade, é taxativo: “Imóvel tem seu valor, e você tem de vender pelo que vale. Não adianta querer inventar”, afirma. “Imóvel sempre vende, desde que no preço certo. Não tem como não vender. Todo mundo precisa morar”. E como a voz da experiência fala mais alto, deixa um aviso: “Esse negócio não é para amador”.

FONTE: ESTADO DE S.PAULO