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31/05/2022

Demanda menor deve segurar reajuste de materiais de construção (Valor Econômico)

Fabricantes de materiais de construção apostam em exportação, melhora de produtos e produtividade para crescer

Por Ana  Luiza Tieghi

 

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 1,49% em maio, ante 0,87% no mês anterior. Nos últimos 12 meses, acumula alta de 11,2%. O cenário de alta de preços, no entanto, tende a perder fôlego nos próximos meses.

A demanda pelos materiais, principalmente no varejo, caiu em relação a 2021. As reformas, tão presentes na pandemia, diminuíram e o consumidor tem outros lugares para gastar seu dinheiro, que vale menos por causa da inflação. Para parte desse setor, explica Luiz Cornacchioni, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), aumentar preços nesse momento provocaria diminuição das vendas, porque o produto é acessório. O consumidor deixa para pintar sua casa em outro momento. O jeito, então, é diminuir as margens.

 

O mesmo poder de escolha não existe para as construtoras, que precisam erguer os empreendimentos lançados nos últimos dois anos. Essa demanda garantida é uma das seguranças da Portobello, de revestimentos cerâmicos, que registrou alta de 25% na receita no primeiro trimestre. Segundo Mauro do Valle, presidente, um terço da produção é para construtoras.

Exportar mais é outra saída quando o mercado interno se enfraquece. Cerca de 30% do faturamento da Portobello é em moeda estrangeira, e deve chegar a 50% no médio prazo. A empresa está construindo uma fábrica nos EUA, para onde irão 40% dos R$ 280 milhões previstos para investimentos neste ano. A unidade deve começar a operar em março de 2023.

 

Da mesma forma que incorporadoras investem em unidades de padrão mais elevado para fugir do bolso apertado dos clientes, a indústria de materiais aposta em um mix de produtos mais premium, que sofre menos com a inflação. Na fábrica da Portobello em Maceió, focada em produtos de entrada, por exemplo, se sente mais a variação do mercado do que nas lojas Portobello Shop, que atendem um público de renda maior.

A Amanco Wavin, de tubos e conexões, não prevê reajustes para os próximos meses, apesar de Daniel Neves, presidente da empresa no Brasil, ressaltar que é difícil fazer previsões do tipo. “A maior parte desse movimento [alta de preço] aconteceu em 2020 e 2021, mas o aumento de custo foi maior do que repassamos ao consumidor.” A empresa sentiu impacto principalmente do preço da resina plástica, mas o executivo analisa que não há espaço para as matérias-primas dobrarem de preço em poucos meses, como em 2020. No entanto, variações devem ocorrer, de maneira mais fraca. “Vai continuar um mercado turbulento.”

 

A companhia prevê crescimento de 5% no ano, após 2021 além das expectativas, com alta de 50% na receita. É ano de consolidação do crescimento, segundo Neves. A demanda das construtoras ajuda, já que 70% do faturamento vem dessa área. A Amanco Wavin prevê R$ 200 milhões em investimento no ano, para expansão da capacidade e outras melhorias.

A fabricante de materiais elétricos Steck vem de crescimento na receita de 20% em 2020, 35% em 2021 e projeta 25% para este ano, segundo o presidente, Klecios Souza, mesmo com a queda percebida na demanda. Segundo ele, há linhas de produtos em que a participação ainda é de 20%, então existe espaço para crescer, mesmo no atual cenário. “PIB, taxa de juros, são referenciais, se você não tem 100% de ‘market share’, tem possibilidade de crescer, precisa criar novas estratégias, novos canais.”

A elevação dos preços de metais e do PVC foi o que mais atrapalhou a empresa, mas Souza também espera uma acomodação dos valores, ainda que em patamar elevado. Com demanda menor, a Steck tem tentado melhorar suas margens via aumento de produtividade e adequação das linhas, sem elevar novamente os preços de venda, como fez no ano passado. A alta de faturamento, lembra o executivo, também veio do aumento de preços, não só do mercado aquecido.

Exportar para a América Latina os itens produzidos nas unidades de Guararema (SP) e Manaus também é uma das saídas da empresa.

Para o ano, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) projeta crescimento de 1% no faturamento. A Abrafati espera alta de 2,5%.   

 

Matéria publicada em 30/11/2022

FONTE: VALOR ECONôMICO