Lençóis Trousseau, móveis garimpados nas melhores lojas de design, arquitetura e interiores assinados pelo arquiteto Isay Weinfeld. Um luxo só – e para aluguel temporário, como se fosse um Airbnb. Essa é a nova empreitada da Idea! Zarvos, a incorporadora paulistana famosa por integrar natureza e urbanidade em seus projetos, concentrados sobretudo na região da Vila Madalena, em São Paulo.
A ideia de uma nova forma de comercializar imóveis veio das dificuldades de um mercado cada vez mais cheio de incertezas: os ricos vão continuar morando aqui? Ou vão se mudar para o litoral? O trabalho vai ser presencial, híbrido ou online? Por isso, a empresa dos sócios Otavio Zarvos, Luiz Felipe Carvalho e Paulo Velasco decidiu experimentar o negócio dos aluguéis por temporada.
A decisão reflete também o difícil momento da economia, que também teve reflexos para a Idea!Zarvos, obrigando a incorporadora a buscar alternativas. Antes da pandemia, em 2019, a companhia vendeu o equivalente a R$ 1 bilhão. No ano passado, caiu para R$ 400 milhões. Em 2021, a expectativa é chegar a R$ 600 milhões.
A nova plataforma foi batizada de Paulistano e seu menor apartamento tem 70 metros quadrados, um dormitório, pé direito duplo e áreas para reuniões. O aluguel mínimo é de 30 dias, por R$ 8 mil ao mês. Inclui serviços de limpeza, internet e contas de consumo (luz, água, gás). A empresa planeja para os próximos quatro anos lançar aproximadamente 230 novos apartamentos e prédios inteiros para a locação.
“A gente vive uma época de incertezas. E trabalhamos num ramo em que o prazo de maturação dos projetos é muito longo. Pessoalmente, acho que o trabalho remoto não é para sempre. Mas é o que eu acho. Ninguém sabe o que vai acontecer. Então precisamos ser o mais flexíveis possível”, diz Otavio Zarvos, que trocou a Vila Madalena por Ilha Bela na pandemia.
Mais agilidade
Da concepção do projeto à entrega das chaves, a indústria imobiliária leva pelo menos três anos para concluir todo o processo. “E num mercado como o de São Paulo, onde temos mais de 400 incorporadoras atuando, quem fizer o produto errado fica para trás”, diz Basilio Jafet, presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP).
“Como as mudanças agora são mais rápidas, temos de descobrir como as coisas vão ficar ao mesmo tempo em que vamos fazendo, em que vamos construindo. E para minimizar os riscos, precisamos de dados, de estatísticas, de muito estudo para poder ser flexível ao máximo”, explica Jafet.
E capacidade de detectar tendências é o que Otavio Zarvos garante que a Idea!Zarvos tem. “Quando começamos a companhia, há 15 anos, vimos que tudo era muito convencional, que os imóveis precisavam evoluir como evoluem os carros, os produtos, os telefones”, explica. Por isso, o primeiro prédio residencial lançado pela empresa tinha plantas que o cliente podia modificar como quisesse: era o comprador quem decidia onde ficavam os quartos, a cozinha, a planta toda.
Foi esse primeiro empreendimento, o 4 x 4, do arquiteto Gui Mattos, em Pinheiros, que chamou a atenção do mercado para a então pequena incorporadora. O prédio já apresentava todos os três pontos básicos que regem os projetos da marca: arquitetura autoral feita por nomes famosos; análise do entorno do prédio (com calçadas mais largas para pedestres, ausência de muros, lojas no térreo) e um estudo aprofundado das necessidades do bairro.
“Historicamente, o mercado imobiliário segue a vocação da região: na Berrini, escritórios. No Morumbi, casas. A gente não faz isso. Vamos contra essa receita”, conta Zarvos.
Em Pinheiros e na Vila Madalena, por exemplo, a Idea!Zarvos detectou, há mais de dez anos, que pouca gente trabalhava lá. Por isso, projetou edifícios comerciais como o Corujas, na Rua Natingui, cheios de plantas, onde os escritórios têm varandas e jardins privativos. E assim atraiu empresas da economia criativa para o bairro. “Ter um pouco de cada coisa: casas, comércio, trabalho... Essa é a situação ideal para qualquer bairro”, diz o incorporador.