Engana-se quem pensa que pechinchar é uma palavra que não faz parte do vocabulário de quem compra e vende imóvel no Brasil. De acordo com um estudo realizado pelo Fipe e pelo ZAP, 61% dos imóveis negociados no 4º trimestre de 2023 tiveram algum desconto. É o maior número observado nos últimos três anos, mas ainda abaixo da série histórica (63%).
“Quando a demanda está mais fraca, a parcela de transações com desconto aumenta, já que os proprietários tendem a ter maior dificuldade de achar outros compradores. Entretanto, a série apresenta relativa estabilidade nos últimos meses, em nível próximo à média histórica, o que não aponta para nenhum cenário claro em relação ao nível da demanda”, observa Lucas Gerez, economista do Datazap.
Dentre os imóveis vendidos com desconto, a diferença média entre o valor anunciado e o valor praticado é de 11%. Ou seja, um imóvel avaliado em R$ 500 mil, por exemplo, pode custar até R$ 445 mil após a negociação, segundo a pesquisa Raio-X FipeZAP: Perfil da demanda de imóveis.
Queda na intenção de compra
Apesar do desconto maior, o número de pessoas que planejam comprar um imóvel no Brasil caiu. O indicador aponta que no último trimestre de 2023 a proporção de potenciais compradores – pessoas que declararam a intenção de adquirir um imóvel nos próximos três meses – recuou de 41% para 38%.
“O aumento no custo do financiamento imobiliário, impulsionado pela taxa Selic, explica em parte a redução percentual tanto dos compradores quanto dos potenciais compradores”, aponta Lucas. “A expectativa é que a redução de incertezas econômicas, bem como o aumento do acesso a crédito, via programas como Minha Casa Minha Vida ou a redução das taxas de financiamento imobiliário, aumentem o interesse das pessoas em adquirir um imóvel”.
Entre os potenciais compradores, 93% dos respondentes disseram que planejam morar no imóvel e apenas 7% se qualificam como investidores. Dentre os potenciais investidores, 72% visam a renda do aluguel e 28% pensam na venda futura.
“Desde o primeiro quadrimestre de 2022, observa-se uma leve redução na proporção de compradores voltados para investimento. O movimento pode ser atribuído, em parte, ao desestímulo causado pelas altas taxas de juros, bem como ao aumento na aquisição de imóveis do tipo econômico, impulsionado por programas habitacionais, como o Minha Casa Minha Vida. Isso tem contribuído para um aumento na proporção de pessoas adquirindo imóveis para moradia”, justifica Lucas.
Ele espera que a partir do segundo semestre de 2024, a redução das taxas de juros estimule a aquisição de imóveis para investimento. “A proporção entre compradores com objetivos de investimento e aqueles buscando moradia dependerá do equilíbrio relativo entre novos compradores provenientes de programas habitacionais e novos investidores”, calcula.
O levantamento também mostra que 37% das pessoas que compraram um imóvel nos últimos três meses são investidoras. Delas, 54% buscam a renda do aluguel e as outras 46% visam a revenda por um valor maior.