Paula Cristina e Vivian Ito
A perspectiva negativa para a economia em 2016 - com retração da construção civil estimada em 5% - leva empresários do setor a agir rápido. Para diminuir o impacto da desaceleração, oferecer alternativas como e-commerce de reformas e atividades de locação virou parte da estratégia.
Exemplo desse movimento foi verificado na construtora Alves e Collieri, que atua na região de Bauru, no interior de São Paulo. Tradicional por terceirizar a mão de obra para grandes construtoras, a redução no número de canteiros de obras assustou o diretor-geral da empresa, Antonio Colliri. "Precisamos agir com rapidez para não falir. Nossa alternativa foi investir em um e-commerce para atender pessoas físicas interessadas em pequenas reformas", contou ao DCI.
Com investimento de R$ 40 mil, e orientações do Sebrae, a empresa vai lançar o portal em janeiro de 2016. "Queremos o público que ia comprar um imóvel, mas com a crise, resolveu melhorar o que já tinha", diz, lembrando que houve adaptação do quadro de funcionários, mas não redução na folha de pagamentos da empresa.
Estratégia similar foi adotada pelo construtor Danilo Matsuda Filho, que encabeça uma empresa de mesmo nome. Com seis empreendimentos lançados em Hortolândia (SP), o empresário ampliou a atuação para o ramo de locação para enfrentar a alta taxa de vacância registrada.
"Eu tenho seis empreendimentos de quatro andares recém-lançados e com velocidade de venda muito lenta, em função do crédito escasso", disse o empresário.
Para driblar essa realidade, a estratégia foi abrir um braço de locação dentro da empresa. "Contratei um corretor imobiliário, um documentista e dois assistentes. Agora a gente loca os imóveis que estão parados."
Para o ano que vem, a estratégia é mais ousada: ampliar a atuação para administração de condomínios. "Vamos reforçar a equipe técnica e oferecer serviços de segurança, limpeza, administração e jardinagem para condomínios da região", comemora.
Com as novas medidas, a empresa espera faturar R$ 150 milhões ano que vem, em linha com o verificado em 2014. "Este ano, vamos faturar R$ 135 milhões", detalha.
Cenário nebuloso - A estratégia de agir para enfrentar a crise foi a orientação passada ontem (8) pelo Sindicato da Construção (SindusCon-SP). Com previsão de queda de 8% no PIB do setor este ano, e outros 5% ano que vem, o cenário é de cautela. "As empresas adiaram o plano de investimento", diz a coordenadora de projetos do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo.
Com queda constante no número de vagas ofertadas pelo setor - 510 mil demissões em 12 meses -, o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, afirmou que são necessárias medidas externas para impulsionar o setor. Umas das saídas, diz ele, é que para as grandes obras do governo sejam procurados fundos estrangeiros e recursos autônomos.
Atrasos - Outro fator que afetou as empresas de construção este ano foram as dívidas do governo. O Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) acumulou cerca de R$ 5 bilhões em atraso. "Só não foi maior porque as obras pararam [pequenas e grandes obras]", afirmou o vice-presidente de habitação popular do SindusCon-SP, Ronaldo Cury. O executivo explicou ainda que muitas dívidas tiveram oito meses de atraso.
De acordo com o executivo, com o ajuste fiscal, o programa perdeu boa parte dos recursos, e uma saída são as Parcerias Público-Privadas (PPP).
Com relação aos atrasos provenientes do programa Minha Casa Minha Vida, apenas os imóveis Faixa 1 (com renda de até R$ 1.800) contabilizaram atrasos de pagamentos.
Cury ressalta, no entanto, que os empréstimos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) possibilitaram a quitação. "Para o próximo ano está tudo pronto. A terceira fase do programa deve ser lançada na primeira semana de janeiro".
Outro desafio do setor são os reflexos da Operação Lava Jato, que prendeu presidentes de grandes empreiteiras. Agora, em função das investigações, a previsão é que essas empresas reduzam seus investimentos nos próximos anos.