A escalada dos juros básicos da economia e a corrida eleitoral seguem ditando o ritmo de mudança para o segundo semestre de 2022 no setor imobiliário, como indica a mais recente pesquisa do Think Tank Amazonita Clube, núcleo estratégico do Instituto Mulheres do Imobiliário. Esses assuntos foram apontados como os que vão dominar a pauta do mercado nos próximos meses por, respectivamente, 84,7% e 75,7% dos ouvidos pela enquete.
A pesquisa ouviu 111 profissionais do setor, sendo a maioria mulheres (88,3%) e atuantes em áreas diversas como comercialização (43,2%), gestão (23,4%) e jurídico (10,8%). Os ânimos em relação à projeção de crescimento estão conservadores, com 38,7% apostando em um crescimento moderado e 24,3% apostando na estabilidade do setor. 23,4% acreditam numa queda moderada e ainda uma parcela de 12,6% de otimistas aposta no crescimento intenso.
Na opinião de Fernanda Mustacchi, sócia na Mustacchi Advogados e membro do Amazonita Clube, o Think Tank do Instituto Mulheres do Imobiliário, as eleições, de uma forma geral, abalam todos os mercados e não somente o imobiliário: "o que acontece, de fato, é que surge uma sensação de insegurança, como se o futuro passasse a ser incerto. O que esquecemos é que ele sempre é!".
Mustacchi diz que costuma brincar que os escritórios de advocacia são ótimos termômetros do mercado imobiliário, pois sentem antes o que virá depois: "percebemos que alguns lançamentos previstos para este ano foram suspensos, como também tantas outras negociações. Na verdade, não é um volume de desistências, mas de suspensões, o que nos mostra claramente que a ideia não é 'não fazer', mas sim 'não fazer agora, até que saibamos o caminho que a economia tomará'. Em casos que o tempo demasiado já faz parte do dia a dia, como loteamentos, aí nada parou: que bom!"
As principais tendências do setor para o período, na percepção dos entrevistados, serão: continuidade da digitalização do setor (60,4%), crescimento dos residenciais para renda ( 42,3%) e aumento da demanda por espaços de trabalho flexíveis e mais próximos às residências dos colaboradores – por exemplo, co-workings espalhados por diferentes regiões (41,4%).
De olho nas melhores oportunidades de negócios e investimentos no Brasil, a pesquisa apresentou mais de uma possibilidade de respostas para os entrevistados que destacaram que o setor residencial segue em alta, sendo as oportunidades para renda e locação como a principal aposta, com 63,1% dos votos, na sequência, os residenciais para venda, com 51,4% e fundos de investimentos imobiliários - FIIs para 48,6% dos respondentes.
"Com os juros altos relatados, a possibilidade de compra de um imóvel fica um pouco mais distante para algumas camadas sociais, de maneira que o mercado de locação ganha destaque. Para as camadas sociais mais necessitadas o poder público deve pensar e desenvolver planos em parceria com a iniciativa privada para locações mais acessíveis e com regime diferenciado. Questão que também está na pauta" alerta Moira Bossolani, diretora de risco na Lello Imóveis e membro do Amazonita Clube.
Mesmo com a alta dos juros pesando sobre os fundos imobiliários e com o IFIX (Índice de Fundos Imobiliários - FIIs - da B3) acumulando leve queda no primeiro semestre de 2022, os FIIs continuam aparecendo como uma categoria importante para diversificação de portfólio.
"As melhores oportunidades para a segunda metade do ano deverão permanecer nos FIIs de 'papel', que investem em títulos de renda fixa atrelados a índices de inflação e à taxa do CDI (certificado de depósito interbancário). Esses fundos têm características que os favorecem no atual cenário de pressão inflacionária e juros altos, que deve continuar a pautar o mercado no segundo semestre, podendo se estender até o início de 2024, diante de uma Selic ainda elevada em 2023", indica Fernanda Rosalem, managing director no Paladin Realty Partners e membro do Amazonita Clube.
Rosalem reforça que os fundos de “tijolo” (aqueles com ativos físicos na carteira - edifícios, galpões, shopping centers), por outro lado, sentiram mais os desafios macroeconômicos impostos pela pandemia da Covid-19 e exibem atualmente cotas descontadas na comparação com o valor patrimonial dos ativos. Vários desses fundos estão sendo negociados em bolsa a preços muito inferiores ao custo de reposição dos ativos. "Essa grande distorção no preço das cotas é uma oportunidade interessante para quem tem visão de longo prazo e busca, principalmente, ganho de capital e não apenas dividendos mensais", indica a executiva.
De qualquer forma, vale sempre ressaltar que o primeiro passo para investir em fundos imobiliários, seja de papel ou de tijolo, é entender a qualidade e localização dos ativos e, principalmente, a qualidade da gestão.
Matéria publicada em 01/08/2022