Com a área de manobra cada vez mais estreita, devido à persistência de impasses políticos e ao agravamento da crise econômica, o governo insiste em ações inócuas, sem chance de darem certo. Incluem-se entre elas novas tentativas de destinar mais crédito para o setor imobiliário e construção civil.
É mais do mesmo, na surrada linha “desenvolvimentista” de, em vez de um ajuste fiscal crível, à altura de um déficit colossal próximo dos 9% do PIB, tentar estimular o moribundo organismo econômico com novas doses de adrenalina creditícia, terapia que já não funcionou. Anuncia-se que o limite de crédito na Caixa Econômica aumentará de 50% para 70% do valor do imóvel, permitindo-se também o financiamento de usados. Dinheiro adicional deverá sair do FGTS.
Ora, como o Planalto não faz qualquer movimento consistente em direção a um ajuste efetivo nas contas públicas, empresas e consumidores não têm confiança no futuro para investir e consumir. Mesmo porque a economia continua em queda e o desemprego, em alta, tende a ficar na faixa de dois dígitos.
Qual empresa ou pessoa física vai se endividar neste momento? No crédito imobiliário, de valores altos e que compromete parcela ponderável da renda das pessoas, e por muitos anos, o temor de assumir compromissos é ainda maior.
O mercado dá sinais de que o momento é o oposto não de busca por financiamentos, mas de recuo de interessados em adquirir imóveis. Empresários do ramo falam até em risco de crise sistêmica, diante do índice de 40% de distratos com corretores, em 2015, quatro vezes maior que os 10% de 2013.
O cenário piora quando se sabe que, num grupo de nove incorporadores com ações em Bolsa, existe um estoque de 109 mil unidades concluídas ou em construção, para serem vendidas. A injeção de mais crédito ajudaria bastante. Se houvesse gente disposta a correr o risco de contratá-lo.
A resistência de fundo ideológico a desindexar gastos com a Previdência e outros ditos sociais, além de desvincular o Orçamento 90% das despesas são “carimbadas”, destinadas a algum setor faz o governo lançar mão de fórmulas já esgotadas.
Também não adianta argumentar que a conta dos juros da dívida pública é uma das mais altas. Porque os juros são reflexo dos desmandos fiscais. Na essência, são efeito, não causa. Eles só poderão cair com um ajuste efetivo. Cortá-los num ato de voluntarismo político será suicídio. Dilma já testou esta fórmula milagrosa e deu asas à inflação.
E nem tampouco adianta usar fórmulas de contabilidade criativa para escamotear o déficit. Como abater da meta de 0,5% do PIB de superávit receitas tributárias frustradas. As expectativas em nada melhorarão.