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10/04/2020

É possível que as grandes empresas tenham de pagar mais impostos', diz presidente do Bradesco

Octavio de Lazari diz que País terá de fazer um novo ajuste para se recuperar após essa crise, e conta que demanda por crédito no banco chegou a subir 10 vezes com a pandemia

Com a pandemia do novo coronavírus, a demanda por crédito no Bradesco aumentou dez vezes, passando dos cerca de R$ 2 bilhões de pedidos para R$ 20 bilhões por dia. Foram três dias de loucura, conforme resume o presidente do banco, Octavio de Lazari, com as grandes empresas demandando liquidez para enfrentar a crise como as pessoas estavam em busca de álcool em gel. "Optamos por distribuir isso (a liquidez) ao longo do tempo porque não podemos atender somente as grandes empresas, temos de atender as pequenas", explica. 

 

Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco Foto: Paulo Whitaker/Reuters

De acordo com ele, as taxas subiram para grandes companhias que demandaram recursos no longo prazo e devido ao corte de linhas por parte dos bancos americanos. Agora, diz, a demanda voltou ao normal e os juros seguem nos mesmos patamares a despeito da queixa generalizada por parte de empresas de diversos setores e tamanhos.

O presidente do Bradesco vê a economia encolhendo até 4% neste ano, pior até que a estimativa do próprio banco, de queda de 1%, e diz que o impacto fiscal terá de ser resolvido a partir de 2021. Do lado dos bancos, a inadimplência tende a ser mais severa que em outras crises, mas garante que o sistema está bem capitalizado. 

 

Lazari diz que está enfrentando a pandemia de coronavírus "vivendo um dia de cada vez". "Vamos em frente. Vai passar", afirma o executivo, que completou no mês passado dois anos na presidência do Bradesco. 

 

A injeção de liquidez de mais de R$ 1 trilhão por meio de medidas do Banco Central está chegando na ponta? O que os bancos estão fazendo com essa liquidez?

 

O Banco Central vem tomando uma série de medidas ao longo do tempo para poder injetar mais liquidez na economia. Foram medidas muito boas e tempestivas. Logo que todo esse problema começou, os bancos privados, Bradesco, Itaú e Santander, já saíram com a condição de o cliente poder prorrogar sua dívida 60 dias. Até ontem, só o Bradesco já contava com 993 mil pedidos de prorrogação. Todos, sem exceção, estão sendo implementados com a mesma taxa de contrato, independentemente se o cliente está com restrição. Não nos interessa. Todos que estão pedindo, nós estamos fazendo a prorrogação. 

 

Os 60 dias de carência serão suficientes diante da duração dessa crise?

Nós, do Bradesco, imaginamos que os 60 dias não serão o suficiente. É muito provável  que esse prazo se estenda. Já estamos pensando em como vamos fazer daqui a 30, 60 dias para prorrogar por mais 60 dias, que talvez seja o prazo mais adequado. 

 

Essa é uma iniciativa do banco ou uma orientação do BC?

 

Não é nem uma iniciativa. É um pensamento do banco. Já conversei com o Candido (Bracher, presidente do Itaú) e o (Sergio) Rial (presidente do Santander). Já estamos pensando nisso para que as pessoas possam ficar tranquilas. 

 

O Bradesco foi o primeiro a anunciar o crédito para folhas de pagamento. Quantas empresas já acessaram esta linha?

 

Nós levamos essa proposta ao Banco Central e rapidamente implementamos. Temos já aprovado 54 mil empresas clientes do Bradesco que estão com seus limites aprovados. São 92% das empresas que pagam suas folhas pelo Bradesco com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Dessas, 4,7 mil empresas já tomaram crédito. 

 

Há uma queixa generalizada quanto à postura dos bancos na crise, que aumentaram juros e fecharam as torneiras do crédito. Por quê?

 

Oito dias atrás, quando tudo começou a ficar mais latente, várias empresas falaram que os bancos estavam aumentando o spread (diferença de quanto pagam para captar e o quanto cobram para emprestar), que os juros estavam subindo e que estávamos represando liquidez. Nós não estamos represando liquidez de nada. O problema que aconteceu foi que a demanda cresceu muito. Normalmente, por dia, recebemos de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões em pedidos de crédito das grandes e grandíssimas empresas, seja de câmbio, capital de giro ou longo prazo. Há dez dias, naqueles três dias, estávamos recebendo R$ 20 bilhões por dia de pedido de crédito. Empresas que nunca pediram crédito, que têm linhas aprovadas há mais de cinco anos no Bradesco e que nunca tomaram crédito, vieram pedir crédito porque queriam proteger seu caixa e ter mais liquidez. 

 

Por isso o sr. comparou a demanda de crédito à procura por álcool em gel?

 

O que aconteceu foi uma loucura. Eu disse ao Roberto (Campos, presidente do Banco Central): as grandes empresas estão parecendo aquelas pessoas que vão ao supermercado comprar álcool em gel e querem trazer 100 litros para casa, mas não precisa. Essas empresas não precisam dessa liquidez. Optamos por distribuir isso (a liquidez) ao longo do tempo porque não podemos atender somente as grandes empresas, temos de atender às pequenas e micro. Estávamos perto de lançar a linha para folhas de pagamento. Eu preciso ter dinheiro em caixa para liberar para essas empresas que precisam pagar salário e, diferentemente das mega empresas, não têm caixa. As mega empresas têm caixa para pagar uma, duas, três, até dez folhas de salário e queriam liquidez. A única coisa que aconteceu é que houve uma concentração de demanda de recursos e não foi só no Bradesco. E o que fizemos? Distribuímos. Tanto é que agora esse problema acabou.

 

A demanda por crédito já voltou ao normal?

A demanda voltou ao normal. Como era antes da crise do coronavírus, com R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões de pedidos por dia. O problema maior que estamos enfrentando é que os bancos americanos cortaram 80% das linhas dos bancos brasileiros e o preço quadruplicou, porque precisavam atender as empresas americanas que estavam demandando recursos. O dinheiro para linhas internacionais, sobretudo para câmbio, ficou escasso, porque tivemos de trabalhar com 20% do que tínhamos normalmente, e o spread que estão cobrando é quatro vezes maior que antes. Agora, o resto das linhas voltou ao normal, com as taxas que estávamos praticando no passado. Voltou tudo absolutamente ao normal. Foram três, quatro dias de loucura, mas que passaram porque todo mundo pediu no mesmo dia e, daí, não dá para atender.

 

Mas as pequenas e médias empresas também se queixam de aumento dos juros na crise. A reclamação é generalizada. Por quê?

 

Primeiro, a situação já voltou ao normal. As taxas que estamos praticando hoje são as que praticávamos no passado. Não mudou nada. A única coisa é que, se a empresa pediu uma linha de longo prazo, a Selic está 3,75%, mas a taxa futura está em 8%. Dependendo do prazo da operação, obviamente será mais cara, porque os juros futuros estão mais altos.

Mas e quanto à revisão de rating das empresas?

 

Eu te garanto. Nós não revisamos o rating de ninguém. Não houve tempo hábil para haver uma depreciação, uma perda de valor ou uma mudança no cenário de liquidez das empresas para que fizéssemos uma mudança rating. Não houve. O que aconteceu foram três dias de caos, de concentração em tomada de recursos, toda ao mesmo tempo. Isso já passou. Já estamos operando normal. As taxas de juros estão do mesmo tamanho. Voltou tudo ao normal. 

 

A liquidez, então, está chegando na ponta?

 

Hoje, já estou creditando a folha de pagamento (referente a março e paga em abril) de 4,7 mil empresas naquela taxa de juro de 3,75%, sem cobrança de spread. Isso está resolvido e outras empresas estão tomando outras linhas de crédito. Não existe empoçamento de liquidez. Foi um problema pontual que aconteceu em três dias e que já passou.

Como os bancos vão atender as empresas que ficaram de fora do corte daquelas elegíveis à linha das folhas de pagamento?

 

As folhas de pagamento de empresas com faturamento anual abaixo de R$ 360 mil, o BNDES e o BC, e como são grupos majoritariamente do Banco do Brasil da Caixa Econômica Federal, eles estão pensando em uma linha que será 80% do Tesouro e 20% risco dos bancos. Não sei se essa linha virá para nós. Mas, independentemente disso, para aquelas empresas que se enquadram nessa categoria, estamos fazendo operações de capital de giro, com taxas de juro menores. Mas a procura tem sido pequena até agora, porque também devem estar esperando alguma medida por parte do governo. As empresas com faturamento anual acima de R$ 10 milhões já estão operando normalmente com o banco, com o prazo até maior, de 24, 36, 48 meses e carência de 90 dias ou seis meses. Não é juro só Selic, como a que foi liberada pelo BNDES, mas estamos com taxas menores. 

 

Quão menores?

 

Depende de cada empresa. Aí é o risco 100% do banco. Mas é exatamente a mesma taxa de juro que a gente já vinha praticando no passado. Não teve mudança ou aumento de taxas de juros. São as mesmas, tanto é que as nossas tabelas de preço não mudaram.

 

Já é possível ter noção de quanto vai durar essa crise e o tempo necessário para a retomada? 

 

Qualquer prognóstico é muito achismo. A gente não está vendo a extensão dessa pandemia ou dessa situação. Acho que o Brasil vem fazendo um trabalho muito bom para achatar a curva, como o próprio ministro (da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta tem dito, e não criar um caos no sistema de saúde. Parece que nas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, onde a questão do coronavírus está mais latente, deve-se estender um pouco mais. Mas cidades no Norte ou Nordeste do País, com 10 mil, 20 mil habitantes, que não têm problema e não teve nenhum caso, essas cidades estão tendo vida normal, o comércio está aberto. A vida está normal e eu não vejo porque não ter. Em São Paulo, Rio, Minas, Brasília e Manaus, temos um problema mais sério. Então, provavelmente isso vá se alongar um pouco mais. A gente não sabe o quanto tempo vai durar. Que vamos ter impacto na economia brasileira, não há dúvida.

 

O Bradesco está mais otimista e projeta queda de apenas 1% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. O efeito atual será limitado ou a recuperação será muito forte?

 

Respeito a opinião do nosso economista, Fernando Honorato, ele até vai me perdoar. Mas, pelo que estamos vendo e a extensão do que ocorreu na Itália, Espanha e até nos Estados Unidos, que é (um país) riquíssimo, eu diria que estamos indo muito mais para um PIB negativo de 3% a 4%. Não sabemos ainda a extensão desse problema. Também acho que, se a gente conseguir passar por momento, achatar a curva e não ter um caos na saúde, não é que a economia vai se recuperar em 'V', mas pode ter uma recuperação melhor, porque é muito pulverizada. Vamos passar um aperto muito grande de perda de emprego, fechamento de empresas. Isso está dado e não tem como evitar. Portanto, vamos ter uma perda de PIB considerável.

 

O governo assumiu com um discurso de recuperação da economia. A demora em ceder em torno de medidas que vão afetar o fiscal, mas são necessárias por conta da pandemia, pode custar um preço ainda mais alto para o País? 

Estamos falando que governo demorou para agir. Agora, façam um comparativo das medidas que o governo tomou. Para R$ 600 em três parcelas para  mais de 50 milhões de pessoas que sequer são bancarizadas, é diferente de fazer isso na Europa. Só ontem a Caixa registrou mais de dez milhões (de registros). Nós, bancos privados, pedimos para ajudar a pagar essas pessoas. Imediatamente, abriram a possibilidade de o cliente escolher o banco e a conta. A Caixa está mandando isso para nós. Vamos fazer o crédito. Se essas pessoas tiverem dívida conosco, cheque especial ou atraso, não tem problema algum, esse dinheiro estará preservado. Não vamos cobrar nada. Estamos fazendo isso para ajudar a população brasileira e o sistema financeiro.

 

Qual a diferença da crise de 2008 para essa?

 

Não temos um problema financeiro, diferente do que aconteceu em 2008. Aliás, de vários problemas financeiros que aconteceram nas últimas década. Nós temos, agora, um problema de saúde, de vida, de sobrevivência. Não importa se eu sou rico ou se eu sou pobre. Se eu tiver coronavírus e não tiver respirador, eu posso ser um bilionário ou morar em uma comunidade carente, o meu risco é exatamente o mesmo, exatamente igual. As medidas do BC e do governo parecem que são prolongadas e demoradas, mas faça um comparativo com outros países do mundo. Para a estrutura que o Brasil tem, as medidas foram tomadas em uma velocidade muito boa. Eu sei que as pessoas têm fome, precisam de dinheiro, ninguém mais do que nós estamos brigando, falando com o Banco Central para que houvesse rapidez nesse processo todo. Acho que estamos fazendo as coisas corretas.

 

Entre os especialistas que defendem a saúde e a vida das pessoas e aqueles que acreditam ser melhor preservar a economia, o senhor fica de que lado?

 

Óbvio, eu confio nos médicos, sanitaristas, cientistas e pesquisadores. Acho que eles têm conhecimento, estudo, trabalho e abnegação para poder nos dar a solução nesse momento. Do mesmo jeito, eu entendo a preocupação para que a gente preserve empregos, que a economia continue andando, mas, infelizmente, em algumas cidades teremos de ter isolamento social para tentar achatar a curva e não ter um caos na saúde. Mas, em outras cidades, podemos continuar trabalhando normalmente, porque nem coronavírus tem lá. Não estou falando isso porque eu acho. Estou vendo as nossas agências. Temos várias que estão abertas sem problema nenhum. Mas o que precisamos entender é que o tema bancário no passado pode ter sido o vilão de um monte de coisa, como as crises financeiras e bancárias que aconteceram, principalmente, em 2008. Hoje, o sistema financeiro é solução. 

 

E por que as empresas e a sociedade como um todo veem o setor sempre como vilão?

 

Desde a época do Dante Alighieri (poeta italiano), o sistema financeiro é execrado no mundo inteiro por causa da usura. Por que estão culpando os bancos? Essa situação é bancária? O problema é dos bancos? É um problema de vida e de saúde e estão querendo imputar a responsabilidade para os bancos? Nós somos parte da solução. Os bancos foram considerados serviços essenciais. Do mesmo jeito que o médico, o lixeiro, os funcionários dos bancos estão nas agências abertas para poder pagar aposentados, contas. Eu tenho hoje dentro do Bradesco 92% do meu quadro em home office. Coisa inimaginável há uma semana. Mas 50% do meu quadro da agência está lá, atendendo, correndo risco de ser contaminado. Hoje, 50% do quadro trabalha na semana, na sexta-feira a agência fecha, entra uma equipe de higienização, limpa a agência, sábado e domingo fica com as janelas abertas para poder ventilar e na segunda-feira seguinte entra uma nova equipe e a outra vai para casa. Nós estamos correndo tantos riscos quanto talvez até médicos. Agora, ninguém reconhece o trabalho que o setor financeiro está fazendo. Não reconhece que somos a solução. 

 

Talvez, por conta dos juros elevados cobrados no País?

 

O fato de o banco cobrar juros... O dinheiro de quem aplicou no banco será remunerado. O dinheiro é dos depositantes. Temos responsabilidade com essas pessoas. Sempre vão querer achar um culpado e é muito fácil colocar a culpa em banco. Dessa vez, os bancos não têm culpa. São parte importante da solução. Não vou falar das doações porque não vamos fazer propaganda disso. Agora, imputar aos bancos a responsabilidade pelo que está acontecendo? Falta um pouco de bom senso agora de entender que os meus funcionários, do Itaú, do Santander, do Banco do Brasil e da Caixa, a essa hora estão todos lá trabalhando, com um monte de gente na porta da agência para ser atendido, organizando fila e colocando de cinco em cinco para dentro.

 

O BC já tomou medidas de liquidez, da folha e ainda está discutindo outras ações. O que falta? 

 

Dentro de tudo que foi feito até agora, por iniciativa do Banco Central e dos próprios bancos, nunca se viu. Na história, três bancos se juntarem para fazer algo como Bradesco, Itaú e Santander. Então, poxa, reconheçam também o que estamos fazendo. Podem nos criticar. Eu sei que não tem muito jeito. Mas muita coisa nós estamos fazendo. O que precisamos fazer agora é atender empresas com faturamento anual abaixo de R$ 360 mil.

 

Tem uma previsão?

 

Tivemos reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, nos últimos dois dias para poder endereçar essa solução. E para as empresas com faturamento anual acima de R$ 10 milhões também. Obviamente, para essas podemos dar soluções dentro dos bancos. Se o governo puder apoiar... Temos de entender... Até agora, o que aconteceu terá um impacto no fiscal exatamente do mesmo tamanho do benefício fiscal que a gente conseguiu com a reforma da Previdência. São R$ 800 bilhões. A gente precisa entender isso. O ponto focal, agora, é achar solução para a microempresa, que é grande empregadora. Agora, além disso, o que precisamos é parar com o populismo desenfreado de não querer pagar nada, empresas falando que vão parar de pagar aluguel, conta de luz, água e telefone. Se uma deixa de pagar, necessariamente, outra deixa de receber e não paga seus funcionários, e aí você instala um caos, anarquia. Isso não pode. Quem pode pagar, tem de pagar. Quem não pode, tem de negociar.

 

Qual será o caminho para reaver o processo de aperto fiscal depois desse gasto feito?

 

O fiscal não tem jeito. O governo vai ter de gastar e depois ver como fica. Provavelmente, a partir de 2021 vamos ter de entrar em novo ciclo para ver como recupera tudo isso. Talvez, algumas empresas vão ter de pagar mais imposto, as grandes empresas. Pode ser um caminho. Talvez, a gente tenha de dar essa contribuição e será feito. Não dá para tirar da pessoa que está desempregada, das pessoas mais pobres. Então, vai ter de ser feito um ajuste. Quem tem mais, vai ter de dar uma contribuição maior. Não só os bancos. Todas as grandes empresas, os grandes investidores. Ao longo do tempo, com a economia se recuperando e o governo arrecadando mais, é que vamos conseguir resolver o fiscal. Então, vamos empurrar esse problema para 2021, 2022, 2023, no longo prazo. Temos de pensar no agora, foco, achatar curva, diminui o problema de contágio e de morte no País. O foco agora é a vida humana. A vida financeira a gente vai resolver ao longo do tempo.

De que maneira a disputa política agrava a crise do coronavírus?

 

Cada um vai tomar certas medidas. Alguns Estados estão tomando medidas mais severas porque os médicos e sanitaristas estão dizendo que elas são necessárias. Outros, tomam medidas mais suaves. A gente precisa entender que todos os lados estão corretos. Pode estar havendo um problema de comunicação, mas do mesmo jeito que o Mandetta está correto nas afirmações dele, de achatar a curva, diminuir o contágio, e os casos de morte no País, do outro lado, há outras pessoas, como o próprio presidente (Jair Bolsonaro) que também têm suas razões, de querer amenizar isso para que o impacto econômico-financeiro não seja tão grande, que o País possa continuar produzindo e não entre em um processo de queda de PIB muito acentuado. Ambas as posturas estão corretas. São coerentes.

 

A postura dos bancos indica que esta será uma crise dura em termos de inadimplência. É possível mensurá-la? Será pior que as outras?

 

Vai ser pior que outras. A gente não sabe ainda a extensão dessa crise, então, é difícil de dizer. Eu tenho a impressão, como as outras crises foram muito localizadas em setores específicos, eram menores. Essa não, está batendo em todos. Quero crer que a inadimplência será mais severa que no passado, dependendo da extensão. Agora, vamos ter de sobreviver como no passado. Há cinco anos, tivemos problemas por conta da Lava Jato, quando várias empresas grandes quebraram e ficaram ao longo do caminho. Os bancos, ao longo do tempo - e 2008 foi uma solução muito importante -, estão hiper bem capitalizados, têm nível de provisão muito maiores. Só os cinco jogaram R$ 500 bilhões para perdas na Lava Jato e continuaram bem, sem problemas. 

 

A crise deve aumentar a concentração bancária no País? O banco vê oportunidades de aquisição? Saiu uma notícia que o Bradesco estava negociando o C6...

 

Não sei porque esta notícia. A gente sempre olha boas oportunidades de mercado, mas hoje não tem nada no radar. Zero. Não acho que vai ter mais concentração porque o que temos hoje dá para ficar. Não tem nenhum banco para incorporar. Acho que as fintechs vão ficar mais fragilizadas por conta de capital. Não vejo mais concentração. O sistema bancário brasileiro já está definido. 

 

O banco já está reforçando suas provisões? Vai manter os guidances?

 

Não discuti isso ainda, mas acho que não faz sentido mais trabalhar com aqueles guidances que divulgamos junto com o resultado de 2019. É algo que vamos pensar. Certamente, todos os bancos vão entender que aquele guidance não faz mais sentido diante de tudo o que aconteceu. Vamos ter, por conta da inadimplência, maiores provisões, preservação capital, de nos preservamos. Os bancos não vão dar o mesmo retorno do ano passado. Certamente, a rentabilidade virá para baixo. O guidance deixou de fazer sentido hoje. 

FONTE: ESTADO DE S. PAULO