Em um Brasil de juros altos, mesmo com as reduções promovidas pelo Banco Central (BC) em 2024, a tendência é que o mercado imobiliário esfrie. Mas não é isso que está acontecendo na prática. Enquanto o preço dos imóveis aumenta, os brasileiros continuam comprando. E a resposta para este movimento pode estar ancorada em questões culturais.
É nisso que acredita Joaquim Rocha Azevedo, CEO da Sequóia Properties, gestora de ativos e fundos imobiliários que atua há mais de 30 anos no setor.
“O cenário macroeconômico tende a ser negativo pela diminuição da capacidade de compra da população, mas observamos que os imóveis continuam sendo uma parte significativa no patrimônio dos brasileiros”, observa.
Não à toa, a Sequóia Properties, especializada no patrimônio de fortunas imobiliárias, saltou de 800 imóveis e R$ 1 bilhão sob gestão, no ano passado, para uma carteira atual de 1,3 mil imóveis e R$ 2,7 bilhões em 2024. “O imóvel tende a acompanhar a inflação e permite a preservação de valor ao longo do tempo. É um ativo que gera renda e é importante para manter o fluxo de caixa”, justifica o executivo.
“Além disso, muitas vezes o imóvel tem um comportamento anti-cíclico. Ele tem uma boa performance enquanto outras classes de ativos, ações e renda fixa podem estar em um momento não tão bom”, analisa. “Também existe o fator cultural. Desde que o homem passou a ser sedentário e passou a ter um pomar, ele colocou uma cerca para chamar de seu. Muitos patrimônios imobiliários estão sendo preservados por gerações entre as famílias”.
Manutenção de riqueza e mudanças geracionais
Além de gerenciar grandes fortunas, a Sequóia Properties desenvolveu mais de 20 edifícios residenciais – com aproximadamente 2 mil unidades e R$ 1,5 bilhão de VGV, e está à frente de um fundo imobiliário (SEQR11).
Apesar dos imóveis continuarem em alta, porém, Azevedo aponta que o conteúdo do patrimônio imobiliário passa por adaptações que seguem tendências e mudanças geracionais.
“Temos casos de famílias que compraram imóveis há 70 anos no centro de São Paulo e que souberam a hora de vendê-los, quando a região estava em declínio. Hoje, este patrimônio está investido na Faria Lima”, exemplifica.
Hoje, ele enxerga outras tendências se consolidando no segmento: galpões logísticos, mercado multifamily e escritórios. O crescimento dos galpões logísticos está relacionado à propagação dos e-commerces, diz.
“Já o mercado multifamily é uma questão estrutural de uma cidade como São Paulo, onde a escassez tem tornado o custo dos terrenos em regiões centrais mais caro. O aluguel se apresenta como uma possibilidade para quem quer continuar morando nestes locais. E os investidores sabem disso”, entende.
O momento positivo para quem investe em escritórios, ele defende, é reflexo da retomada ao trabalho presencial e híbrido. “Mas agora eles estão com novos layouts. A localização e as características dos prédios também estão mudando”.
Por trás das expectativas otimistas para o futuro, a empresa lê o setor como mais seguro para os investidores. “É mais fácil você prever o lançamento de um prédio e a oferta que ele vai gerar do que prever outras classes de ativos, como ações”, exemplifica.