O mercado imobiliário começa a dar sinais de melhora, na avaliação do fundador da Cyrela e presidente do conselho de administração da companhia, Elie Horn, e a escolha dos novos ministros pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sinaliza que o próximo governo será "muito bom". "Para cada ação, há uma reação. Um bom governo significa uma boa gestão. O setor também parece acordar um pouco", afirma o empresário de 74 anos. Segundo ele, o fato de o novo governo ter sido eleito faz com que haja "menos desconfiança e mais torcida a favor".
Recentemente, a Cyrela lançou R$ 815 milhões em dois empreendimentos de alto padrão - R$ 415 milhões da fase residencial de projeto em São Paulo e R$ 400 milhões em retrofit de edifício no Rio de Janeiro. Segundo Horn, as vendas dos dois projetos já chegam a R$ 800 milhões. "Parece um pouco o cheiro do passado. Voltamos a sorrir e a ter esperança", diz. Para o fundador da Cyrela, esse patamar de comercialização resulta de maior otimismo do mercado e de "produtos bem pensados". Há lançamentos para a média renda previstos para este fim de ano.
Um novo ciclo está começando para o setor, no entendimento de Horn, mas ele diz não esperar crescimento semelhante ao vivido pelas empresas no período de 2007 a 2011. "Deus queira que isso não aconteça. No boom, todo mundo perde a cabeça - incorporadoras e consumidores", afirma. Segundo o empresário, nesta nova fase, as incorporadoras não devem crescer em excesso sem consolidar essa expansão. Uma taxa de 10% ao ano é considerada saudável por Horn, que diz que a retomada depende de a economia ser "próspera" e da regulamentação dos distratos.
Na última semana, o Senado aprovou, com alterações, o projeto de lei que regulamenta os cancelamentos de vendas. Devido às emendas, o texto voltará à Câmara dos Deputados e, se aprovado, irá para a sanção presidencial. O principal ponto do projeto é a retenção pelas incorporadoras de 50% do valor pago pelo cliente em caso de distrato. "Reze conosco para que a Câmara aprove o projeto", disse Horn, ao ser questionado sobre a regulamentação. Na definição do empresário, quando ocorre um distrato, a empresa "vende, mas não vende" o imóvel.
Em fevereiro do ano passado, o fundador da Cyrela defendeu, em entrevista ao Valor, que o consumidor deveria perder todo o valor já pago em caso de rescisão da compra de um imóvel. Ao ser perguntado se mantém a mesma posição, Horn preferiu não comentar a declaração anterior e limitou-se a dizer que "as regras são bem claras no mundo todo".
De janeiro a setembro, a Cyrela acumula prejuízo líquido de R$ 200,5 milhões. No terceiro trimestre, a companhia teve perda de R$ 121 milhões, resultante, principalmente, do impacto negativo de R$ 94 milhões de despesas reparatórias em São Luís (MA). "Bom não é, mas a vida é um teste de altos e baixos. Quem não sabe perder não sabe ganhar", afirma o fundador.
A Cyrela espera voltar à lucratividade em 2019, e há expectativa de retomada gradual das margens, de acordo com o diretor de relações com investidores, Paulo Gonçalves. "O mercado começa a dar sinais de melhora", afirma Gonçalves. O executivo ressalta que os bancos privados estão menos restritivos na concessão de crédito, as vendas de lançamentos estão "muito boas" e a comercialização de estoques voltou a crescer em outubro. A atuação da incorporadora se concentra em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.
O empresário conta que já passou por várias crises do setor imobiliário e a experiência lhe ensinou que "o país enverga, mas não quebra". Segundo o fundador da Cyrela, executivos mais jovens, como seus filhos Raphael Horn e Efraim Horn, copresidentes da companhia, e o diretor de relações com investidores "acham que o mundo acabou quando há uma crise".
Desde maio de 2014, quando passou o bastão da presidência executiva da Cyrela a Raphael e Efraim, o fundador divide seu tempo entre as presidências dos conselhos da companhia e da Cyrela Commercial Properties (CCP), seis a sete horas diárias dedicadas à filantropia e almoço com uma pessoa diferente quase todos os dias, com quem diz aprender muito.
Na definição da esposa, Suzy Horn, o empresário "não dá o braço a torcer, como alguém do signo de Leão", mas ele se diz "disciplinado e lutador". Conhecido por ser um grande doador de recursos, o empresário conta que, antes da abertura de capital da Cyrela, fazia concessões de preços aos clientes desde que o comprador doasse a diferença de preços para a caridade.
Em meados do mês, Horn lançou o movimento "Bem Maior", que tem como objetivos fomentar a filantropia e dobrar a participação das doações em relação ao Produto Interno Brasileiro (PIB) em dez anos. Por enquanto, o Instituto Cyrela e o Instituto MRV fazem parte do movimento, cujos pilares são cultura de doação, primeira infância, saúde, educação, deficiência/inclusão, combate à pobreza, exploração sexual de crianças e adolescentes, meio ambiente, idosos, ética na política/civismo e prevenção à violência.
Segundo Horn, uma economia próspera também contribui para que se faça o bem. "Quando o país cresce, há menos pobreza, menos prostituição, mais meninas respeitadas e mais educação", afirma o empresário.