A temporada de resultados do primeiro trimestre terminou com números, em geral, positivos para as incorporadoras, e mais ainda para aquelas que atuam no Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Levantamento realizado pelo Valor Data com 32 incorporadoras de capital aberto, listadas e não listadas, mostra crescimento de 158,6% no lucro líquido, na comparação anual, e de 16,4% na receita, puxados por resultados operacionais também positivos, com alta de 43,1% no valor geral de venda (VGV) dos lançamentos e de 24,6% nas vendas líquidas.
Entre as empresas listadas que atuam no MCMV, a surpresa positiva foi a Direcional, com resultados acima do esperado pelos analistas. “Tínhamos [previsão] de lucro de R$ 120 milhões e veio R$ 150 milhões”, afirma Gustavo Cambaúva, analista do BTG Pactual.
Fanny Oreng, head de real estate do Santander, reforça a avaliação. “Teve resultado não recorrente, como venda de SPE (sociedade de propósito específico), mas mesmo o resultado recorrente veio muito bem.”
A Cury, que vinha sendo elogiada pelo desempenho operacional e financeiro, também teve outro trimestre forte.
Tenda e MRV, que seguem trajetória de recuperação de rentabilidade, melhoraram seus dados. A primeira conseguiu reverter prejuízo em lucro líquido de R$ 4,4 milhões. A segunda ainda trouxe prejuízo, de R$ 167,6 milhões no resultado consolidado, mas demonstrou estar seguindo o caminho de recuperação, afirmam analistas do Itaú BBA em relatório.
Já a Plano&Plano teve um trimestre mais fraco, motivado por lançamentos em menor volume. O primeiro trimestre costuma ter menos lançamentos, mas outras incorporadoras preferiram aproveitar que o programa está com força e colocaram mais projetos na rua, lembra Cambaúva. Como a empresa vinha com taxas elevadas de crescimento, foi uma decepção para os analistas. “Parece ter sido um resultado isolado, vamos monitorar no segundo trimestre”, diz Oreng.
As mudanças feitas no MCMV no ano passado seguem estimulando o setor, e novas políticas implementadas neste ano, específicas para a faixa inicial do programa, ainda não foram totalmente refletidas nos balanços, lembra a analista. Se trata do FGTS Futuro, que eleva a capacidade de compra de clientes, e do RET (regime especial de tributação) 1%, que dá desconto de 3 pontos percentuais na carga tributária. “Ainda vamos ter cenário de otimismo” afirma.
O ritmo acelerado de contratações no MCMV tem consumido o orçamento do programa, de R$ 106 bilhões para este ano. Cambaúva afirma que, nesse ritmo, o valor deve ser totalmente consumido até setembro ou outubro, mas que o governo já sinalizou que haverá incrementos. “No curto e médio prazos está tranquilo, mas em algum momento precisa fazer um ajuste no tamanho do programa, [não dá para] ficar todo ano revisando o orçamento para cima, e o funding do FGTS tem limite”, diz.
Do ponto de vista macroeconômico, o ritmo mais lento de queda da Selic, sobre o que era esperado no trimestre passado, pode ter efeitos sobre o setor de média e alta renda, afirma o analista do BTG. A expectativa de queda da taxa de juros é um dos fatores que anima o cliente a adquirir um imóvel agora, pensando em encontrar taxas menores de financiamento na entrega das chaves. Em relatório, analistas do Itaú BBA ressaltam que empresários desse setor veem “espaço limitado” para corte na taxa.
Oreng e Cambaúva relatam que o otimismo dos incorporadores com novos lançamentos arrefeceu. “O ímpeto das companhias de acelerarem lançamentos, como esperavam fazer, talvez não aconteça”, diz Oreng. “Mas ainda é cenário de juros melhor do que estava antes.”
Nessa situação, o maior ativo das empresas é conseguir ter um produto que seja visto como “diferenciado” pelo cliente. Oreng afirma que a Cyrela tem conseguido isso. A companhia teve mais um trimestre de resultados positivos, ainda que dentro do esperado.
Para Cambaúva, só não foi melhor do que a Lavvi, que surpreendeu. A empresa teve aumento de 173% no lucro líquido, na comparação anual, superando estimativas do mercado também em outros indicadores. Em relatório, os analistas da XP afirmam que a empresa teve resultados “fortes” e margem bruta “significativamente acima” das estimativas, por causa do desempenho de novos lançamentos.
Oreng classifica também a Moura Dubeux, que atua no Nordeste, como um dos destaques do trimestre, com pouca competição em seu nicho. A empresa elevou seu lucro líquido em 38% na base anual.
Entre os destaques negativos, Oreng afirma que a EZTec tem “frustrado” expectativas, e que se esperava um resultado operacional mais robusto. Outras incorporadoras também não têm conseguido crescer tanto quanto os analistas gostariam, como Tecnisa, Mitre, Helbor, Trisul e JHSF.