O custo do metro quadrado na construção de uma casa no Brasil ficou quase 50% mais alto nos últimos cinco anos. Dados do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) mostram que, do fim de 2016 para o fim de 2021, o valor médio do metro quadrado de uma construção subiu 47,43%, indo de R$ 1.027,30 para R$ 1.514,52. No mesmo período, a inflação acumulada foi de 28,15%.
Os valores consideram as despesas com mão de obra e material. Não entram na conta gastos com terrenos, projetos e licenças, entre outros.
Material de construção disparou na pandemia
Por trás do movimento mais recente, conforme especialistas ouvidos pelo UOL, está a disparada dos preços do material de construção, em especial nos últimos dois anos, durante a pandemia de covid-19.
Calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice Sinapi possui dois componentes: mão de obra e material. No primeiro caso, o custo subiu 21,84% nos últimos cinco anos, abaixo da inflação de 28,15%. Mas a despesa com material desde 2016 disparou 71,32% —duas vezes e meia a inflação do período.
De acordo com a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), de São Paulo, a pressão de preços foi maior durante a pandemia. O custo da mão de obra subiu 9,27% em dois anos, enquanto o de materiais de construção avançou 50,26%, conforme o Sinapi.
Principalmente nesses dois últimos anos, houve um aumento bastante significativo do material de construção, tornando realmente mais caro para o brasileiro construir. Em 2020 e 2021, esse efeito foi em parte mitigado pelas taxas de juros, que ficaram mais baixas. Isso permitiu que as famílias financiassem a aquisição de material e suas construções. A questão é que, daqui para frente, não vamos ter mais esta situação de juros baixos.
Ana Maria Castelo, economista da FGV
Veja os custos desde 2016
Os dados do IBGE mostram a alta dos custos para construir nos últimos anos, principalmente dos materiais de construção:
Preço médio do metro quadrado de construção no Brasil
Dezembro 2016: R$ 1.027,30 (índice geral); R$ 496,09 (mão de obra); R$ 531,21 (material)
Dezembro 2017: R$ 1.066,68 (índice geral); R$ 521,71 (mão de obra); R$ 544,97 (material)
Dezembro 2018: R$ 1.113,88 (índice geral); R$ 534,66 (mão de obra); R$ 579,33 (material)
Dezembro 2019: R$ 1.158,81 (índice geral); R$ 553,17 (mão de obra); R$ 605,64 (material)
Dezembro 2020: R$ 1.276,40 (índice geral); R$ 566,07 (mão de obra); R$ 710,33 (material)
Dezembro 2021: R$ 1.514,52 (índice geral); R$ 604,46 (mão de obra); R$ 910,06 (material)
Por que está tão caro construir?
Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que a alta do custo ocorreu por pressões de demanda e de oferta sobre os preços.
"Foi uma tempestade perfeita", resume Ana Maria Castelo. "Houve uma quebra das cadeias globais de suprimentos durante a pandemia, o que interrompeu a produção de muitos materiais. E a demanda por material de construção começou a crescer."
A economista afirma que, durante a pandemia, os preços das commodities (matérias-primas) metálicas subiram em todo o mundo, em meio às dificuldades de produção e à alta procura em vários países.
Isso impactou os preços de insumos importantes para a construção civil, como o aço, encarecendo os vergalhões e os tubos de ferro. As cerâmicas, produzidas em grande parte no Brasil, também foram afetadas, em meio ao desligamento de fornos industriais.
Além disso, a alta do dólar aumentou o custo dos produtos importados.
Na outra ponta, segundo o vice-presidente da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção), Carlito Lira, os brasileiros passaram a fazer mais reformas e construções durante a pandemia.
Nesse período de pandemia, o material de construção se tornou um ativo essencial. Como a população ficou muito em casa, ela se dedicou às reformas e construções. As indústrias tiveram dificuldades também na questão de matéria-prima. Muitas são importadas e, às vezes, o parque fabril nacional não dava conta.
Carlito Lira, vice-presidente da Anamaco
Alta da renda não acompanhou custo de construção
Dados do IBGE indicam que a renda média dos brasileiros não acompanhou o aumento do custo da construção.
Conforme a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE, o rendimento médio dos trabalhadores brasileiros no trimestre de agosto a outubro de 2021 (dado mais recente) foi de R$ 2.429. O valor reflete uma alta de 21,03% em cinco anos —abaixo da inflação e do avanço no custo da construção.
Em outras palavras, o custo para construir está subindo, mas a renda das famílias nem tanto.
"Toda vez que há inflação e a alta da renda não é compatível, isso afeta o poder de consumo da pessoa. Mas como ela ficou muito tempo em casa durante a pandemia, acabou valorizando muito a construção", diz Lira, da Anamaco.
Sem pressão da mão de obra
Diferentemente do material, a mão de obra não exerceu pressão maior sobre o custo da construção nos últimos anos. O professor Roy Martelanc, coordenador da pós-graduação em Negócios do Mercado Imobiliário da FIA (Fundação Instituto de Administração), de São Paulo, afirma que isso ocorreu em função do desemprego.
O preço da mão de obra não pesa tanto na construção porque há muita gente ainda desempregada. Assim, a raiz do problema está no aumento da demanda por material.
Roy Martelanc, professor da FIA
Em 2022, o custo para construir, conforme Martelanc, continuará dependendo da procura por material e da oferta. "No cenário atual, a demanda por imóveis novos já caiu, por exemplo. Também imagino uma reversão em termos de construção —a não ser que surja uma onda de aquecimento nova, que não está no radar agora."