O aprofundamento da crise econômica, que abalou a renda e o emprego, provocou um salto na parcela de consumidores que se consideram inadimplentes. No primeiro quadrimestre deste ano, quase a metade dos brasileiros (48%) entre 18 e 65 anos de idade tinham alguma dívida com pagamento atrasado, ante 46% em agosto do ano passado, revela uma pesquisa nacional feita pela empresa de call center Atento.
"Em sete meses, houve um avanço de dois pontos porcentuais na parcela de inadimplentes. Isso é muito forte", afirma Regis Noronha, diretor executivo da companhia.
Nas suas contas, esses dois pontos porcentuais correspondem a 1,128 milhão de brasileiros que se tornaram inadimplentes no período. A empresa, que tem 10% dos serviços de call center direcionados a cobrança de devedores, decidiu, pela segunda vez, fazer uma pesquisa de âmbito nacional a fim de avaliar como anda a inadimplência e traçar um perfil dos devedores para municiar os seus clientes.
A inadimplência do consumidor deve começar a recuar somente em 2018, devido, principalmente, ao desemprego e ao agravamento da crise econômica. O prognóstico é da Associação Nacional dos Birôs de Crédito (ANBC). O levantamento anterior, de dezembro, trazia a expectativa de que a queda viria já em 2017.
Nota divulgada à imprensa pela entidade destaca que, no primeiro trimestre, o desemprego da população chegou a 10,9% - no mesmo período de 2015, a taxa era de 7,9%. A renda média real, que também influencia a inadimplência, caiu 3,2% frente ao primeiro trimestre do ano passado.
De acordo com a pesquisa da Atento, neste ano, os principais motivos apontados para o aumento do calote são praticamente os mesmos de agosto do ano passado, mas a parcela de inadimplentes que alega esses fatores só cresceu.
Em agosto de 2015, 13% dos entrevistados apontavam a crise como o motivo que levou à inadimplência e 31%, a queda na renda. No primeiro quadrimestre deste ano, 20% dos entrevistados indicaram a crise como fator e 37%, a queda na renda.
Noronha observa que o agravamento da crise não só ampliou a inadimplência, mas também restringiu as alternativas para renegociar os atrasos e quitá-los. Na pesquisa de agosto, 48% dos inadimplentes disseram que já estavam negociando os pagamentos atrasados. Agora essa parcela que está negociando a quitação das pendências diminuiu para 43%.
De acordo com a pesquisa, o aumento do calote atingiu todas as classes sociais, mas um resultado que chama a atenção, segundo Noronha, é que até os mais ricos estão tendo dificuldade para colocar as contas atrasadas em dia.
Em agosto do ano passado, 100% dos inadimplentes da classe A afirmaram que estavam negociando o pagamento das pendência. Nas pesquisa deste ano, essa parcela era de apenas 17%. "A crise também atingiu os mais ricos", diz o executivo.
Cartão de crédito - Quanto ao tipo de dívida que levou à inadimplência, o cartão de crédito ocupa o topo do pódio, com 67% das respostas, seguido pelo crédito pessoal (29%) e o cheque especial (27%).
Em agosto do ano passado, esses instrumentos de crédito também lideravam o ranking das dívidas que levaram ao calote, mas com porcentuais menores. O cartão de crédito tinha sido apontado por 66% dos entrevistados como motivo de inadimplência, seguido pelo crédito pessoal (29%) e pelo cheque especial (22%).
Apesar de o cartão e o crédito pessoal serem apontados como os vilões do calote, essas linhas não são, do ponto de vista dos inadimplentes, prioritárias na hora de limpar o nome.
O cartão de crédito aparece em terceiro lugar na ordem de importância na hora de liquidar as pendências e o crédito pessoal em sétimo lugar. Noronha observa que as prestações atrasadas do financiamento imobiliário e com a escola dos filhos ocupam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, na lista de importância do brasileiro na hora de liquidar as faturas pendentes.
Com relação ao valor da dívida em atraso, o cenário piorou em sete meses. Hoje 50% dos que estão inadimplentes têm dívidas acima de R$ 2 mil; em agosto do ano passado essa parcela era de 47%. Noronha ressalta que atualmente 40% dos inadimplentes estão com dívidas em atraso há 180 dias. "Isso é extremamente alto."
A pesquisa mostra também que as perspectivas para o futuro não são favoráveis e o desemprego e a inflação são as principais preocupações.
Em agosto do ano passado, 85% dos entrevistados estavam preocupados com o desemprego e 35% deles com a inflação. No primeiro quadrimestre deste ano, esses porcentuais subiram para 85% e 57%, respectivamente. "A população está preocupada com o futuro e começa a reduzir o custo das dívidas para evitar um aumento maior da inadimplência", afirma o diretor da Atento.