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03/11/2015

Emgea revenderá R$ 3,3 bi em empréstimos 'podres'

De acordo com o balanço do banco público, em 2014 a Emgea comprou R$ 7,2 bilhões em valor contábil em carteiras de crédito da Caixa.

Felipe Marques e Vinícius Pinheiro

A Empresa Gestora de Ativos (Emgea), que compra operações de crédito inadimplentes da Caixa Econômica Federal, abriu um processo para a venda de R$ 3,3 bilhões em empréstimos "podres" a diversos fundos que atuam na compra de carteiras deste tipo, apurou o Valor. Trata-se da primeira vez em que a Emgea, controlada pelo Ministério da Fazenda, faz uma operação deste tipo. Procurada, a Emgea confirmou a estratégia e disse que o movimento deve se repetir daqui para frente. 

Na prática, a operação é uma espécie de revenda dos créditos que a Emgea comprou da Caixa no passado. De acordo com o balanço do banco público, em 2014 a Emgea comprou R$ 7,2 bilhões em valor contábil em carteiras de crédito da Caixa. Na primeira metade de 2015, a Caixa tornou a vender créditos inadimplentes, para a Recovery, do BTG Pactual, e para a Ativos, do Banco do Brasil. 

"Compõem esse segmento créditos sem garantia real, cujos devedores são pessoas físicas, com ticket médio baixo, no volume de 1,6 milhão de contratos", diz a Emgea em nota. A empresa afirmou que a venda "faz parte de seu plano estratégico" e deixou claro que o movimento deve se repetir daqui em diante. 

"A abordagem ao mercado permitirá avaliações que balizarão as estratégias da empresa para o futuro próximo, podendo envolver créditos oriundos da área habitacional, cujos devedores sejam pessoa jurídica." Chamou a atenção dos compradores a velocidade com que a Emgea pretende tocar a venda desses ativos. A carta convite aos potenciais interessados foi enviada no começo da semana passada e a empresa espera receber as propostas até 5 de novembro.

Os R$ 3,3 bilhões que a Emgea pôs à venda são de operações com pessoa física. A maior parte, R$ 1,7 bilhão, refere¬se a operações do Construcard, produto da Caixa para dar crédito para compra de materiais de construção. Em seguida vem operações de Crédito Direto ao Consumidor (CDC), com saldo contábil de R$ 871,1 milhões. O restante se divide em operações de crediário, crédito rotativo e microcrédito produtivo. 

Segundo um gestor de créditos "podres" que participa do processo, é possível que a estratégia da Emgea seja fazer uma espécie de teste de seus modelos de recuperação e de seus índices de sucesso em relação aos de uma empresa que atue no mercado. A questão, porém, é que a Emgea vai vender, basicamente, pouco menos da metade do que comprou no ano passado da Caixa. A expectativa de um outro gestor é que o valor obtido pela Emgea na operação seja baixo. A razão é o fato de que essa carteira já passou pelas áreas de cobrança da Caixa e da própria Emgea sem sucesso, o que deve levar os potenciais compradores a atuar de forma mais conservadora. 

O setor público tem sido o grande responsável pela movimentação do mercado de créditos "podres" neste ano. Só a Caixa vendeu no primeiro semestre R$ 8,28 bilhões em operações de crédito inadimplentes ¬ sendo que R$ 1,32 bilhão não havia ainda sido baixado pelo banco a prejuízo. Além de instituições públicas, outro grande vendedor este ano foi o Santander, que cedeu carteiras de crédito no total de R$ 1,38 bilhão até setembro, segundo seu balanço. 

A estimativa de quem atua na compra dos créditos podres é que as operações vendidas em 2015 somem entre R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, considerando o valor contábil das carteiras. Até 2017, a expectativa é girar até R$ 40 bilhões. 

O aumento do volume vendido de carteiras podres tem chamado atenção de investidores desse segmento, o que levou a uma rodada de captação para fundos deste tipo. RCB Investimentos, Canvas Capital e Jive Investments, por exemplo, ampliaram o poder de fogo de compra de ativos neste ano via injeção de novos recursos.  

 

FONTE: VALOR ECONôMICO