São Paulo - Investir em plataformas conhecidas como peer-to-peer lending - traduzido por empréstimos coletivos - pode ajudar a aumentar a rentabilidade para a pessoa física, cujos retornos chegam a até três vezes a poupança; além de contribuir para as pequenas empresas, as maiores empregadoras do País.
Essa nova modalidade - que ocorre de "pessoa para pessoa", ou seja, sem um intermediador financeiro - no País é mais lucrativa que as opções tradicionais como também os fundos de renda fixa, além da caderneta. Esta última, por exemplo, rendeu 8,15% no ano passado, sendo abaixo da inflação de 10,67%. No entanto, o peer-to-peer não oferece garantia para os investidores.
Uma vantagem para os pequenos investidores é que o aporte mínimo é baixo: no caso da plataforma Biva, o primeiro aporte deve ser de R$ 5 mil e, os demais, a partir de R$ 500. Outra diferença é o retorno, que vem mensalmente, ao contrário de algumas aplicações na renda fixa, como a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), que possui prazo mínimo para resgate.
A plataforma Biva está em operação há pouco mais de um ano. No início os investidores direcionavam capital em apenas uma empresa, mas os fundadores alteraram esse modelo. "Agora o investidor aplica em cerca de 15 empresas de um portfólio e o risco é muito menor", afirma Jorge Neto, fundador da plataforma.
Segundo ele, as aplicações são rentáveis mesmo em caso de inadimplência ou falência de até duas companhias. Ele garante, porém, que depois da mudança para os investimentos em portfólio maiores a inadimplência é zero. O segredo é uma exigente avaliação de risco. "Aprovamos só 5%", diz.
Para o educador financeiro André Massaro, é justamente essa intensa avaliação por parte dos sites que torna o negócio mais seguro. .
A Biva já recebeu aportes do fundador do Nubank, David Velez, além dos fundos de investimento Kaszek Ventures, da Monashees e Vox Capital. Atualmente a empresa abre somente um portfólio por semana para os investidores, no entanto, Neto avalia a possibilidade de em menos de um ano a plataforma abrir diariamente um grupo de companhias para receberem empréstimo de seus usuários.
Outra empresa neste ramo de atuação é a Nexoos. Apesar de ter iniciado suas operações somente em setembro, a plataforma atua há mais de um ano no Paraguai, onde testou seu modelo de negócios.
As empresas podem solicitar empréstimos de R$ 25 mil a R$ 200 mil e também passam por uma análise de crédito. Depois desse crivo as companhias vão oferecer retorno para os investidores, conforme seu risco.
Na última semana de setembro, as quatro primeiras empresas que conseguiram empréstimos na Nexoos alcançaram R$ 437 mil de 41 diferentes investidores, que receberão retornos de 135% a 160% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O prazo depende da solicitação das empresas, mas varia de três a 24 meses.
Regulação - Apesar de não ser uma atividade ilegal, o peer-to-peer lending ainda não é regulamentado pelo Banco Central (BC). A autoridade, porém, demonstrou nos últimos meses que está atenta às startups de serviços financeiros, conhecidas como fintechs.
O relatório de estabilidade financeira do Banco Central publicado em setembro tem um capítulo de inovações financeiras, onde o órgão "se mostra vigilante em relação à introdução de inovações na medida em que elas possam ter consequências sobre a solidez do sistema financeiro".
Por conta da falta de legislação para esse tipo de investimento, as plataformas atuam como correspondentes bancárias. Elas não oferecem dinheiro diretamente para as empresas. Quem faz esse papel são instituições financeiras parceiras das plataformas, como a Socinal e a Sorocred.
Tanto Daniel Gomes, fundador da Nexoos, como Jorge Neto, da Biva, esperam por esse aval das autoridades. "Temos diálogo bom com Banco Central e CVM, reportamos mensalmente o que estamos fazendo e achamos que vão regular a modalidade", diz Neto.
Mestre em finanças e professora da FAAP, Virginia Prestes, vê o crescimento dessas plataformas como um ponto importante. "Se esse tipo de investimento tomar uma proporção mais representativa a regulação ocorrerá."
Procurado, o BC não quis dar detalhes sobre o peer-to-peer lending e prefere não abordar o assunto.