Mariana Congo e Natália Cacioli
Contratar um empréstimo em 2015 ficou mais difícil e mais caro. Diante da crise econômica e do risco maior de inadimplência, os bancos frearam a concessão de crédito e, quando emprestam, cobram um preço alto. Como forma de diminuir os riscos nas operações – e, consequentemente, as taxas de juros–, instituições financeiras estão incentivando uma linha de crédito ainda pouco usada no Brasil, na qual o cliente dá um imóvel próprio como garantia do financiamento.
Chamada de “home equity”, essa modalidade oferece os menores juros e os maiores prazos de pagamento entre todas as linhas de crédito pessoal no mercado. De acordo com o Banco Central, em média, o juro do home equity está em 1,44% ao mês (18,7% ao ano), enquanto em agosto a taxa para empréstimo pessoal chegou a 62,9% ao ano em bancos e a 144% em financiadoras, segundo pesquisa da Anefac.
O valor médio do financiamento na modalidade home equity é de R$ 112,6 mil, segundo o BC, que autoriza o empréstimo de até 60% do preço de avaliação do imóvel. O prazo para pagamento também é bastante alongado: em média, são 13 anos, mas alguns bancos parcelam em até 20.
Segundo o diretor comercial de crédito do Banco Intermedium, Marco Túlio Guimarães, nunca a demanda foi tão forte. “No entanto, estamos trabalhando de uma forma mais conservadora para atravessar esse período conturbado da economia. Limitamos o financiamento a 50% do valor do imóvel, masnossamédiaéde33%”,conta. Apesar disso, o tíquete médio está em R$ 230 mil.
Como os empréstimos são de valores elevados, essa linha de crédito tem sido muito procurada por pequenos e médios empresários que encontram dificuldades para contratar financiamentos como pessoa jurídica. Segundo o diretor de crédito imobiliário do Banco do Brasil, Hamilton Rodrigues da Silva, além de empreendedores, pessoas com a renda muito comprometida por dívidas também se encaixam no perfil.
Apesar do juro baixo, a procura pelo home equity ainda é tímida porque o brasileiro tem receio em dar o imóvel como garantia. “Vejo como uma questão cultural. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse tipo de crédito é muito mais comum”, diz Silva. Para incentivar a modalidade, o BB está investindo em divulgação. “Essa linha tem sido mais procurada neste ano, mas ainda está muito aquém do seu potencial de crescimento.”
O contador Raimundo Batista, de 58 anos, não conhecia o home equity até receber uma propaganda no e-mail. Endividado com um empréstimo e com as contas da festa de casamento da filha, ele contratou o financiamento na Domus Companhia Hipotecária a uma taxa mensal de 1,19% em dez anos. “Existe o risco de entregar sua casas e não pagar, mas pretendo quitar o financiamento antes do prazo final”, diz.
Mesmo com a garantia do imóvel, em caso de inadimplência, as instituições financeiras preferem, primeiro, tentar renegociar a dívida, para só em último caso tomar o imóvel.“ Quando o cliente percebe que está prestes a perder o imóvel, dá um jeito de pagar”, conta Guimarães. A inadimplência (acima de 90 dias) no Banco Intermedium está em 3,8% e tem se mantido estável neste ano. A inadimplência geral, segundo dados do BC, subiu para 4,8% em julho, maior patamar desde julho de 2013.
Vale destacar que, antes de contratar o financiamento, é importante pesquisar as taxas de avaliação do imóvel e os custos com cartório, que ultrapassam R$ 2 mil. O diretor da Empírica Investimentos, Roberto Sampaio, lembra que, quanto maior o valor financiado, mais esses custos fixos ficam diluídos.