São Paulo - Apesar do maior volume de concessões no crédito imobiliário, mercado ainda pode demorar de cinco a dez anos para se recuperar. Desemprego e falta de confiança ainda são desafios no setor, que espera concretização da retomada econômica para alavancar.
Dados do Banco Central (BC) apontam que, em agosto, as concessões cresceram 34,2% na comparação mensal para pessoas jurídicas e 9,8% para pessoas físicas.
Já em relação aos juros, a queda foi de um ponto percentual (de 13,2% para 12,2%) para pessoas jurídicas e de 0,2 ponto. (de 11,3% para 11,1%) para pessoas físicas nessa base de comparação.
Segundo informações da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), no entanto, os saques nas cadernetas de poupança (dos quais 45,5% dos recursos são direcionados ao financiamento imobiliário), já acumulam uma captação líquida negativa [com saques superando os depósitos] no total de R$ 39,1 bilhões.
De acordo com Maurício Godói, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, de um lado há a necessidade de financiamento das empresas e, de outro, existe a desconfiança e desemprego entre o consumidor brasileiro.
"Se falta poupança, falta crédito imobiliário, e não há sinal de melhora. A degradação da renda das famílias torna difícil a aprovação do crédito, e a urgência de se manter no mercado faz com que as empresas precisem de capital para financiar obras que estão em andamento", identifica Godói.
Ainda de acordo com dados do Banco Central, a parcela de endividamento dos consumidores, que registrou 43,4% do total em agosto, caiu para 24,7% quando calculada sem contar com os financiamentos imobiliários. O comprometimento da renda, por sua vez, vai de 22,4% para 19,8%.
"A confiança é o principal e está sendo afetado. Aqueles que compraram o imóvel e perderam por falta de renda ou que conseguiram pagar, mas observaram uma desvalorização de 30%, dificilmente entra nesse mercado de novo", comenta Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário e sócio da Tapai Advogados.
Além disso, o índice de desemprego do País e a retomada gradativa da economia dificultam a recuperação do mercado imobiliário e, consequentemente dos financiamentos direcionados ao setor.
"Mesmo com a possibilidade de um respiro, o mercado imobiliário demora mais na tração de retomada", explica Bruno Oliva, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
"Mesmo que realmente haja uma melhora econômica em 2017, seja por questões de confiança ou da crise financeira, o setor ainda demora de cinco a dez anos para voltar a antigos patamares", completa Godói.
O economista explica que as reduções de preços e facilitações de vendas do ano passado, somadas à dificuldade de pagamento do consumidor e aos distratos [rescisão de contratos], têm feito com que as construtoras busquem empréstimos como forma de tentar aquecer o mercado.
"Com receita insuficiente vinda da venda de imóveis, esse crédito é um fluxo de caixa lá para frente. A empresa precisa recuperar esse mercado e fazer lançamentos, caso contrário ela poderá precisar fechar a fábrica", analisa.
Incapacidade de pagamento - Outro ponto que também causa transtorno no segmento é a falta de capacidade das construtoras em devolver a quantia de 85% a 90% exigida pela Justiça a quem opta pela rescisão.
"A construtora vende em uma velocidade mais fraca e muitas já fizeram financiamentos que precisam ser pagos. O problema com as empresas mudou. Antes, era o atraso nas entregas por falta de dinheiro para construção e, agora, é não ter como fazer o pagamento dentro dos moldes legais em casos de distratos", destaca Marcelo Tapai.
No escritório da Tapai Advogados, cerca de 83% das ações feitas contra construtoras são referentes ao não pagamento de distratos. Essas ações eram 73% em 2015 e 45% em 2014.