Especialistas que acompanham as oscilações do mercado imobiliário no Rio de Janeiro indicam que o setor está passando por um processo de reaquecimento.
Representantes da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) e do Sindicato da Habitação no Rio (Secovi Rio) ouvidos pelo G1 analisam que o aumento da confiança na economia faz com que este seja um momento propício para investir na compra de imóveis.
"A gente tá vivendo um ano de 2019 um pouco melhor do que foi o cenário nos últimos quatro anos, nesse contexto de crise. Aumento da confiança, maior quantidade de lançamentos nos últimos cinco anos... Nunca se lançou tantos imóveis novos [no Rio]", exemplificou Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi.
Para Schneider, mudanças importantes têm contribuído para a retomada da confiança no setor. Uma delas é a recentemente anunciada redução das taxas de juros de linhas de crédito imobiliário, pela Caixa Econômica Federal. No dia 8 deste mês, o banco anunciou a diminuição de até um ponto percentual na alíquota para linhas de crédito com recursos da poupança. Com a alteração, a taxa efetiva mínima para imóveis residenciais passou a ser de 7,5% ao ano, e a máxima será de 9,5% ao ano, mais a taxa referencial.
O vice-presidente do Secovi também ampara a análise em dados levantados pela entidade. De acordo com ele, houve uma mudança na velocidade do fechamento de vendas, que em outros anos estava em "outro patamar". Atualmente, Schneider disse que o percentual de fechamento de vendas está em torno de 15%, indicando que os compradores estão mais dispostos a selar negócios.
A pesquisa mais recente do Secovi indica um aumento de 12% nas ofertas de vendas na Cidade do Rio, comparados os meses de agosto de 2018 e 2019. A quantidade de lançamentos de empreendimentos também cresceu, passando 8.390 em 2018, para 10.489 até julho deste ano. O valor do metro quadrado se manteve praticamente estável, custando em média R$ 8,8 mil.
Além da confiança de investidores, Schneider também atribui a retomada do mercado a questões ligadas à economia do estado, leilões do setor de petróleo e melhoras nos indicadores de violência. Por outro lado, o representante ainda vê motivos para que a reação seja tímida. Ainda há, disse, um contexto de crise "muito forte" e falta capacidade de investimento. Sem arriscar palpites para o futuro, a única perspectiva dele é que a recuperação seja "gradual".
Ofertas estão sendo absorvidas - Claudio Hermolin, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), acredita que compradores voltaram a absorver as ofertas do setor. Esse movimento, avaliou, tem feito com que novos empreendimentos estejam surgindo, inclusive na Zona Sul do Rio.
"A Zona Sul do Rio é uma região naturalmente bastante demandada. Todo mundo tem como sonho de consumo morar na Zona Sul. E, em paralelo, tem poucas ofertas na Zona Sul. E você tinha isso, dado à crise, 'estoque' [de imóveis] na Zona Sul. No momento em que você percebe a redução do estoque, você abre espaço para novos empreendimentos", explicou Hermolin.
O especialista define o mercado imobiliário em três grandes grupos:
• Incorporações que custam até R$ 240 mil – como imóveis do Programa Minha Casa, Minha Vida;
• Sistema Financeiro de Habitação (SFH) – imóveis que custam entre R$ 240 mil e R$ 1,5 milhão;
• Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) – imóveis de mais de R$ 1,5 milhão.
De acordo com Hermolin, o reaquecimento do mercado imobiliário no Rio tem sido puxado, principalmente, pelo SFI.
"[O SFI] É uma parcela que o comprador já tem os recursos ou parte deles. É a camada do mercado imobiliário que já retomou [os investimentos]. Naturalmente, pelo ciclo, é o primeiro que retoma, porque essa é a parcela da população que já tem o recurso ou parte dele. E, na verdade, quando a gente estava naquele período de 2018, antes da eleição, com incerteza do futuro do país, inclusive econômico, essa parcela mantinha o dinheiro aplicado de uma forma conservadora", detalhou.
A expectativa agora, diz Hermolin, é de retorno do SFH – majoritariamente formado pela classe média. O especialista pondera, porém, que para a reerguer essa fatia do mercado é necessário que a economia real melhore, principalmente emprego e renda.
"Essa parcela dos imóveis acima de 1,5 milhão representa em torno de 20% do mercado. A nossa previsão é que com a retomada dos investimentos em petróleo, rodadas de leilão que aconteceram e vão acontecer, isso necessariamente trará investimentos para o estado. Essa parcela de SFH significa a volta de 40% 45% dos investidores."