BRASÍLIA - O crédito ficou mais escasso e as taxas de juros mais elevadas em 2016. Esse é o retrato traçado ontem pelo Banco Central, que divulgou os números do setor no encerramento do ano passado. O estoque de crédito caiu 3,5% em 2016, no primeiro recuo anual desde o início da série histórica, em 2007. Já a taxa média de juros cobrada de famílias e empresas atingiu 52% ao ano nas operações com recursos livres – os que não incorporam dinheiro da poupança ou do BNDES.
A retração do crédito no ano passado é resultado direto da crise econômica. Com o aumento do desemprego e a queda no consumo, os bancos também se tornaram mais seletivos na hora de fechar empréstimos ou financiamentos. A Selic (a taxa básica de juros) em patamares mais altos na maior parte do ano completou o cenário.
No caso dos recursos livres, a retração no estoque de crédito foi de quase 5% em 2016, de R$ 1,548 trilhão para R$ 1,637 trilhão. Já o crédito com recursos direcionados (dinheiro da poupança e do BNDES) cedeu 2% no ano passado, de R$ 1,582 trilhão para R$ 1,550 trilhão.
Não bastasse a retração no saldo de crédito como um todo, famílias e empresas também arcaram com um custo maior nas operações. A taxa de juros média no crédito livre saltou de 37,3% ao ano em dezembro de 2014 – quando a recessão ainda não havia começado – para 47,3% no fim de 2015 e para 52% ao ano no fim do ano passado. Nas operações com recursos direcionados, houve um salto de 7,8% para 10,7% ao ano do fim de 2014 para o fim de 2016. Essas taxas, no entanto, são apenas uma média. Algumas operações, como as do rotativo do cartão de crédito, chegam a ter custo dezenas de vezes mais elevado.
Com o início do ciclo de cortes da Selic, em outubro do ano passado, as taxas de juros cobradas do consumidor final começaram a reagir de forma mais favorável nos últimos meses. Isso foi visto, por exemplo, no recuo de 2 pontos porcentuais do juro médio no crédito livre de novembro para dezembro.
Melhoras - “Apesar da queda do crédito em 2016, observamos na margem a melhora de alguns indicadores”, pontuou ontem o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Renato Baldini. Segundo ele, é o caso do crédito para capital de giro de empresas, financiamento de veículos e compra de imóveis por famílias. “Ao mesmo tempo, já começou a ocorrer um recuo nas taxas de juros. E, com a estabilização da inadimplência nos próximos meses, devem ocorrer situações mais favoráveis para a retomada do crédito”, avaliou.
A Selic recuou de outubro para dezembro 0,50 ponto porcentual. Em janeiro de 2017, cedeu mais 0,75 ponto, para 13% ao ano. “É de se esperar que, com o recuo mais acentuado da Selic em janeiro, os juros do crédito acompanhem”, acrescentou Baldini.
Os dados do BC indicam ainda que há sinais de estabilização na inadimplência, quando há atrasos acima de 90 dias no pagamento de dívidas. No fim de 2014, a taxa de inadimplência no crédito com recursos livres era de 4,3%. No fim de 2015, estava em 5,3% e, em dezembro de 2016, em 5,7% – uma taxa já inferior aos 5,8% de novembro.