Quando falamos em seguros é muito importante termos em mente um dos princípios norteadores desse segmento: que é o mutualismo. O mutualismo é entendido como fundamental e é onde as contribuições de muitos são usadas para absorver as perdas de alguns que sofrem sinistro. É com esse espírito que desenvolveremos esse artigo.
Atualmente estamos vivendo grandes eventos adversos e de magnitudes excepcionais, como a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Milhares de pessoas desabrigadas, empresas e cidades completamente destruídas e contas iniciais sugerem bilhões de reais para a reconstrução. Se verificarmos os números de seguros, no meio do mês de maio o mercado já contabilizava R$ 1,7 bilhões em indenizações, número que tende a crescer nos próximos meses.
Ainda falando de grandes cifras do mercado segurador, verificamos através de dados da SUSEP que esse mercado movimentou no ano de 2023 o valor de R$ 340 bilhões em prêmio, com um crescimento de 200% se comparado com dez anos antes, considerando que em 2014 esse número foi de R$ 164 bilhões. Já os sinistros saltaram de R$ 40 bilhões em 2014 para R$ 68 bilhões em 2023.
Fazendo um corte em produtos voltados ao setor imobiliário podemos citar o seguro de Risco de Engenharia com um crescimento de mais de 160% nos últimos 10 anos chegando ao valor de R$ 981 milhões. Nesse seguro vale ressaltar um número que impressiona, principalmente para àqueles que acreditam que a construção de um edifício não está sujeita a grandes perdas. Só no ano de 2023 os sinistros nesse seguro chegaram à marca de R$ R$ 518 milhões, ou seja, mais de 50% do prêmio arrecadado nesse ano. Se fizermos uma busca rápida na internet podemos encontrar facilmente acidentes em obras em construção que repercutiram na mídia por sua gravidade e ineditismo.
Outro grupo de seguro muito utilizado no setor imobiliário são os seguros de garantia. Esses exigidos como forma de garantia adicional aos negócios, pois são uma forma importante de conforto aos investidores de bens e recursos em um segmento que demanda muito capital e longo espaço de tempo. Cada dia é mais comum nas negociações imobiliárias, seja nas permutas de terrenos, no fomento à produção de unidades habitacionais de interesse social, no financiamento a produção ou na captação de recursos no mercado de capitais. Mais uma vez ao recorrermos aos dados da SUSEP, podemos verificar que esses produtos só em 2023 movimentaram R$ 4,3 bilhões em prêmios, com um crescimento de 362% nos últimos 10 anos.
Ao iluminarmos ainda mais os seguros de garantia voltados ao setor imobiliário, não podemos deixar de falar nos seguros de término de obra e de garantia pós entrega. Seguros esses exigidos pelo programa MCMV e atualmente por vários outros programas habitacionais como é o caso do Pode Entrar na cidade de São Paulo e contratações da CDHU no Estado de São Paulo.
No decorrer dos últimos três anos foram pagos quase R$ 65 milhões em sinistro de retomada de obra, com isso os bancos e outras instituições de fomento ficam mais dispostos a conceder crédito para projetos que possuem seguro garantia. A existência do seguro reduz o risco para os credores, permitindo condições de financiamento mais favoráveis e acesso a taxas de juros menores, isso facilita o fluxo de capital para o setor imobiliário, impulsionando novos desenvolvimentos e projetos.
O seguro garantia término de obra assegura que as obras serão concluídas conforme o contrato, mesmo em casos de dificuldades financeiras da construtora. Isso é crucial para a viabilidade dos projetos, pois evita que obras sejam paralisadas e garante a entrega dos imóveis no prazo acordado. Esta segurança é essencial para manter a confiança no mercado imobiliário e assegurar que os projetos sejam concluídos com sucesso.
Ao pesquisarmos a série histórica de lançamentos de unidades efetuadas pela ABRAINC/FIPE, podemos verificar que nos últimos 10 anos os lançamentos tiveram um crescimento de 176% saindo de 69 mil unidades em 2014 para 122 mil unidades em 2023. Ao compararmos esse crescimento com os dois produtos verificados nesse artigo, temos que, o risco de engenharia seguiu em linha com o crescimento de unidades lançadas, com 160% em 10 anos, já os seguros de garantia cresceram quase o dobro dos lançamentos, chegando em 362%.
Claro que esses números demonstram apenas tendências, mas podemos concluir que o segmento de ativos, sejam eles bens e serviços ou de recursos financeiros estão cada vez mais exigentes, e se valendo de produtos que mitiguem seus riscos o que é bom para todo o sistema, uma vez que mais seguro, mais players se sentem confortáveis para efetuarem investimentos. Já, quando falamos em seguros que protegem o patrimônio do próprio construtor/incorporador o crescimento segue em linha com a quantidade de unidades vendidas, verificamos portanto, muito espaço para esse produto, uma vez que sabemos, que ainda muitas obras são erguidas sem a proteção de um seguro.