Em 2019, quando a gestora americana de private equity Warburg Pincus investiu R$ 300 milhões na Superlógica, empresa de softwares de ERP para condomínios, administradoras e imobiliárias, a visão era clara: levar tecnologia para um setor analógico e que estava sendo disruptado por players como QuintoAndar e Loft.
Desde então, a Superlógica fez seis M&As consolidando a sua presença no mercado B2B no segmento. Mas o que pode ser o passo mais ousado da companhia está sendo dado agora. Em sociedade com a construtora Cyrela e a empresa de tecnologia Intelbras, a Superlógica lança hoje o Gruvi, um superapp para o mercado B2C.
O Gruvi, uma contração das palavras grupo de vizinhos, nasce com um potencial enorme. “A Superlógica tem mais de 100 mil condomínios em sua base com 30 milhões de moradores”, diz Carlos Cêra, CEO da Superlógica. “Pretendemos levar essas 30 milhões de pessoas para o Gruvi.”
Com um custo de aquisição de clientes (CAC) mais barato, o negócio pode virar um grande gerador de negócios para os sócios e os parceiros que se plugarão na plataforma aberta que está sendo criada. “Vamos juntar vários serviços que hoje estão fragmentados em um aplicativo só”, diz Cêra. Tanto das empresas fundadoras como de terceiros.
O executivo, que é fundador da Superlógica, diz que o Gruvi é uma empresa apartada e o define como um app da casa da vizinhança e do condomínio dividido em três categorias: Minha Casa, Vizinhança e Condomínio. E nos três segmentos haverá diversos tipos de serviços.
No segmento Minha Casa, o proprietário poderá centralizar todas as despesas da casa, conectando conta de água, energia, IPTU, entre outras. No primeiro semestre do ano que vem, o Gruvi fará comparativos de gasto de energia com os vizinhos. Além disso, vai oferecer energia mais barata por meio das usinas de geração distribuída.
“Já estamos com um projeto-piloto em Minas Gerais”, diz Cêra. O app ainda terá serviços de manutenção da casa, com fornecedores indicados pelos vizinhos, e, no segundo semestre do ano que vem, a gestão do contrato de aluguel do inquilino com a imobiliária e o proprietário. A Superlógica já tem um app, o Owli, com 600 mil contratos de locação e vai tombá-lo para o Gruvi.
No segmento Condomínio, além de fazer a gestão das encomendas que chegam nas portarias, organizar assembleias virtuais e agendamento de festas, o Gruvi vai levar milhões de pessoas que não estão em sua base para o app.
A estratégia da empresa é integrar o app aos equipamentos de identificação facial instalados nas portarias dos condomínios – equipamentos cada vez mais acessíveis no mercado – muitos deles fabricados pela sócia Intelbras.
No primeiro trimestre do ano que vem, o plano é criar um cadastro único de moradores e visitantes para o Brasil inteiro, independentemente do condomínio. Isso significa que o visitante vai tirar uma foto própria, enviar os documentos e criar um cadastro no chamado Gruvi ID. Sempre que for entrar em um condomínio de novo, já terá o cadastro no app no celular.
Já o segmento Vizinhança listará todos os vizinhos do condomínio, os apartamentos em que moram e também trará grupos divididos por interesses: de pets, de pedal, de futebol. Com isso, substitui o grupo de WhatsApp do prédio. “A vantagem é que não expõe o número de celular de ninguém, a família pode entrar e, quando a pessoa deixa o condomínio, é excluída automaticamente.”
Cêra explica que o Gruvi foi criado para abrigar outros miniapps dentro da plataforma – uma espécie de WeChat, o famoso app chinês que tem de tudo – voltado para o mercado imobiliário e de habitação. Se a ideia der certo e se a empresa conseguir levar os milhões de usuários que almeja, o Gruvi pode se tornar um negócio bilionário.
“Será transformacional para companhia se eles atingirem a escala que estamos imaginando”, diz Henrique Muramoto, sócio da Warburg Pincus no Brasil. “O Gruvi dando certo transforma um investimento ótimo em um home run para a gente”, afirma Muramoto em referência ao termo usado no mercado de private equity para demonstrar um investimento certeiro, com grandes retornos em um curto período de tempo.
A monetização será feita, por exemplo, cobrando uma taxa das administradoras pelo uso de assembleias virtuais e mais serviços. Mas há outras formas. A Superlogica está pilotando a venda de seguro para casa, a venda de energia para residências e home equity é outra vertente que pode entrar. A Cyrela, por exemplo, é dona da CashMe, que atua nesse segmento.
“Vão surgir muitas oportunidades de monetizar. Vamos participar de forma relevante da jornada das pessoas com suas casas”, diz Cêra. De acordo com um estudo do banco Credit Suisse, só o mercado endereçável que se abre para a empresa com home equity, smart home e seguro residencial é de R$ 35 bilhões.
Mas, apesar dos números superlativos, Cêra é conhecido por uma gestão mais pé no chão – sem queimar caixa alucinadamente para expandir a operação como algumas proptechs fizeram nos últimos anos. “Ainda temos dinheiro do aporte da Warburg Pincus em caixa”, diz ele. “E, em 2023, teremos ebitda positivo.”
Matéria publicada em 07/12/2022