Paulo Fontoura Valle, da Brasilprev: tendência de conscientização para a necessidade de poupança de longo prazo Na pauta de prioridades do governo Michel Temer um assunto chama a atenção de uma indústria em especial: a reforma da Previdência Social. A conclusão é de que quanto mais se discutem as possíveis mudanças que ocorrerão no sistema de pagamento de aposentadoria, maior o número de pessoas que, preocupadas com o futuro, devem buscar investir na previdência complementar. Representantes do setor acreditam que o efeito de possíveis mudanças nas regras da aposentadoria leve um contingente mais amplo de pessoas a pensar em complementar sua renda futura por meio de uma poupança extra. E o público deve ser de menor renda.
Este é um setor que avança dois dígitos anualmente há pelo menos uma década e que, se receber essa demanda adicional, tem potencial para ultrapassar a barreira do primeiro trilhão nos próximos cinco anos. Hoje possui pouco mais de R$ 613 bilhões em sua carteira de investimentos. Mesmo em anos de crise, quando os saques aumentam, a arrecadação também se eleva. Só nos nove primeiros meses do ano, a captação líquida dos fundos de previdência abertos bateu a casa dos R$ 35,33 bilhões, crescimento de 16% em relação a igual período do ano passado, segundo dados consolidados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
"As discussões e incertezas na previdência social criam ambiente de dúvidas nas pessoas e elas tendem a se intensificar no último trimestre com debate público sobre o assunto", afirma Edson Franco, presidente da Fenaprevi, que fez em parceria com o instituto Ipsos, uma pesquisa com 1,5 mil pessoas em todo o Brasil para abordar o tema. O levantamento mostrou que há falta de entendimento sobre as regras atuais e os rumos que as regras futuras deveriam tomar. Sobre o modelo de reajuste das aposentadorias, os brasileiros estão divididos: 49% da amostra defendem o reajuste pela inflação e desvinculação do salário mínimo. E 42% rejeitam a desvinculação.
Mesmo diante das incertezas, o aumento do desemprego e a deterioração da economia fizeram os resgates aumentarem 17,2% de janeiro a setembro, para R$ 35,6 bilhões. "Os saques ficaram pressionados principalmente no primeiro trimestre quando há maior número de contas a pagar. Mas o nível já voltou a patamares mais razoáveis", diz Franco, que prevê fechar 2016 com crescimento nominal de 12,7% na carteira total de investimentos.
Os indicadores oficiais de melhora da economia ainda são incertos, mas a indústria aposta em uma recuperação para o próximo ano e se prepara para capturar a nova demanda de investidores que buscarão complementar o que ficará em haver da previdência social com a reforma. Concentrando quase 60% de toda a captação líquida do mercado no ano até setembro, a Brasilprev, que possui R$ 181,1 bilhões de patrimônio líquido em sua carteira, também se anima em relação a 2017. "Há tendência de melhora nos indicadores econômicos e maior conscientização quanto à necessidade de poupança de longo prazo", avalia Paulo Fontoura Valle, presidente da empresa.
Apesar de ser difícil calcular o tamanho do universo de novos consumidores que virão, Valle diz que a Brasilprev já oferta produtos bem viáveis para quem tem menor renda, com contribuições mensais a partir de R$ 25,00 nos planos juniores e R$ 60,00 em outras modalidades. "Estamos preparados e pretendemos avançar também dentro da nossa base de clientes e nos planos empresariais".
Outro fator que contribui para o avanço do setor é o fato de suas reservas ainda serem relativamente baixas em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) - cerca de 12% - se comparado a outros países. "No Reino Unido, representam 96% do PIB, nos EUA, 84%, Canadá, 75% e no Chile, 68%", pontua Jorge Pohlmann Nasser, presidente da Bradesco Vida e Previdência, com R$ 141 bilhões na carteira total de investimentos e captação líquida de R$ 266 milhões de janeiro a setembro, crescimento de 2,5% comparado ao mesmo período de 2015.
Com a previsão de encerrar 2016 com captação líquida de R$ 11,2 bilhões e reserva de R$ 126,9 bilhões, o Itaú Unibanco acredita em um cenário econômico melhor. "E o mercado de previdência deve acompanhar esse movimento de melhora", afirma Cláudio Sanches, diretor de investimentos e previdência da instituição financeira.