Depois de registrar, no terceiro trimestre, pela primeira vez em sua história, vendas líquidas negativas, a EZTec não lançará mais produtos, neste ano, e só retomará os patamares históricos de apresentação de empreendimentos ao mercado daqui a três anos. "Não é hora de correr riscos com lançamentos", diz o fundador e presidente do conselho de administração da companhia, Ernesto Zarzur.
A EZTec - que lançou R$ 143 milhões no primeiro semestre, dos quais vendeu 40% - vai voltar a apresentar produtos a partir de 2017, de acordo com a demanda. "Eu ainda estou no mercado e vou continuar", afirma o empresário.
Com atuação há 60 anos no mercado imobiliário, "seu" Ernesto ressalta que a sobrevivência das incorporadoras, neste momento, depende da venda de estoques. Para a EZTec, serão necessários dois anos para a venda do seu estoque atual, de R$ 1,3 bilhão, considerando-se vendas anuais de R$ 600 milhões a R$ 800 milhões e os distratos. O valor corresponde a 2.700 unidades prontas e em construção.
No terceiro trimestre, as vendas líquidas da EZTec ficaram negativas em R$ 17,7 milhões. De julho a setembro do ano passado, a companhia vendeu R$ 38 milhões. Em setembro, o desempenho de vendas superou o de julho e agosto. No trimestre, os distratos ficaram estáveis, e há expectativa de queda das rescisões nos próximos dois trimestres.
A EZTec tem se esforçado para evitar cancelamentos de vendas e perda de clientes de sua carteira. Além de propor remanejamento da compra para unidades de menor valor e oferecer, em alguns casos, descontos, a incorporadora concede financiamento direto a clientes. As contratações da tabela direta já chegaram a R$ 300 milhões, e a companhia tem condições de oferecer outros R$ 500 milhões para financiamento.
A EZTec não espera novas vendas líquidas negativas nos próximos trimestres, mas ainda há riscos de isso ocorrer.
No acumulado de nove meses, as vendas brutas superaram os distratos em R$ 35,2 milhões. As vendas líquidas de janeiro a setembro foram 90% menores do que as do mesmo intervalo de 2015. Das vendas brutas de R$ 481 milhões, R$ 288 milhões se referem a unidades prontas e R$ 193 milhões a imóveis em construção. Dos distratos de R$ 446 milhões do período, as unidades concluídas responderam por R$ 260 milhões.
Os resultados da companhia são afetados pelos cancelamentos de vendas, mas a condição de caixa líquido limita esse efeito. A EZTec gerou caixa de cerca de R$ 45 milhões no trimestre e de R$ 205 milhões até setembro.
"Seu" Ernesto diz que demorou mais tempo do que deveria para que as incorporadoras tomassem a decisão de desacelerar lançamentos. Na avaliação do fundador da EZTec, a demanda por imóveis começará a ter expansão a partir de janeiro, mas haverá dois anos de oscilações, conforme as expectativas em relação à política e à economia. A retomada de um crescimento contínuo começará em três anos, no entendimento do empresário.
Quando voltar a lançar, no próximo ano, a aposta da EZTec será em unidades de três e quatro dormitórios, destinadas aos segmentos de média e alta renda. "A fase de várias torres, com muitas unidades, já passou", afirma.
Aos quase 83 anos, "seu" Ernesto continua a acompanhar, de perto, as atividades da EZTec. Todas as manhãs, dá duas voltas em cada um dos andares do prédio da companhia, na zona Sul de São Paulo, e confere o funcionamento das atividades. O senhor carinhoso que cumprimenta a todos com beijo no rosto não hesita em chamar a atenção de filhos - diretores da incorporadora, sendo Marcos Zarzur o presidente - e dos funcionários se considera que algo não está da melhor forma. À tarde, visita obras e prédios já erguidos.