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29/12/2021

Fabricante de material de construção vê desaceleração

Crescimento de 1,5% a 2% em 2022, ante 8,5% esperado para este ano, reflete a piora da economia e a realização de eleições majoritárias

Após forte expansão registrada no segundo semestre de 2020 e no acumulado deste ano, fabricantes de materiais de construção trabalham com cenário de acomodação do crescimento de vendas em 2022. A esperada desaceleração da alta reflete as elevações de inflação e juros, o pequeno ou inexistente crescimento econômico previsto para o país e a realização de eleições majoritárias em 2022. Desde o terceiro trimestre, o ritmo de vendas de imóveis para a classe média começou a diminuir, e há quem espere recuo nos lançamentos pelas incorporadoras.

Por outro lado, há fatores que continuarão a estimular a demanda por materiais, como a necessidade de erguer os projetos residenciais já lançados. Há expectativa de que o movimento de valorização das residências, impulsionado pelo isolamento social decorrente da pandemia de covid-19, seja mantido. Tendem a aumentar também as encomendas por materiais para obras de infraestrutura, como consequência dos leilões de concessões já realizados e do marco regulatório do saneamento.

“Estamos vendo desaceleração do crescimento das vendas de materiais de construção, mas não há motivo para pânico”, diz o presidente da Tigre, Otto von Sothen. Na sua avaliação, 2022 poderá ser um ano bom, “ainda que não espetacular como 2021”. O presidente da Tigre destaca a demanda por parte de empreendimentos em curso e para obras de infraestrutura, incluindo projetos de saneamento. “O desejo por mais conforto vai continuar”, acrescenta.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro, para o faturamento consolidado do setor, é esperado crescimento real de 1,5% a 2%, no próximo ano, ante a alta de 8,5% prevista para 2021. O varejo, principal destino dos materiais, apresentou a maior expansão de demanda nos últimos dois anos. No próximo ano, porém, a maior alta das encomendas deve ocorrer para infraestrutura. Em seguida, virão as expansões de vendas para o varejo e para as construtoras.

Na avaliação do Instituto Aço Brasil, o mercado interno de produtos siderúrgicos - aços planos e longos - passará por forte acomodação, no próximo ano, com alta de 2,5% das vendas, para 23,35 milhões de toneladas. Segundo o presidente do conselho diretor, Marcos Faraco, a perspectiva de vendas de aço para setor imobiliário, no início de 2022, segue positiva, mas “ainda é cedo para fazer previsões para o segundo semestre”.

O Instituto Aço Brasil prevê aumento de 1,5% do consumo aparente do insumo no próximo ano. Já a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) espera expansão de 5% a 6% no ano no consumo. Em relação a cimento, a CSN prevê mais vendas para construtoras, considerando-se que lançamentos residenciais entrarão em fase de obras. Para o varejo, a siderúrgica espera crescimento menor.

A Lorenzetti não tem projeção formal para 2022, mas avalia que a expansão do faturamento ficará bem abaixo dos 24% obtidos neste ano, segundo o presidente, Eduardo Coli. A fabricante de duchas, chuveiros elétricos, metais e louças sanitários e purificadores de água fechará 2021 com faturamento recorde de R$ 2,2 bilhões.

Com expectativa de crescimento acumulado de 25% no biênio 2020-2021, a Basf espera acomodação de suas vendas de tintas decorativas, em 2022, com expansão em linha com a do Produto Interno Bruto (PIB). A empresa mantém a meta de crescer, neste ano, pelo menos 10% em volume. A Basf atua com as marcas Suvinil e Glasu.

A Vedacit encerrará este ano com crescimento de 33% em relação à receita líquida recorde de R$ 542 milhões de 2020. Em volume, a projeção é de aumento de 8%. No ano, a Vedacit fez cinco reajustes de preços, que somam de 28% a 29%, para repassar parte das altas de custos de matérias-primas, como asfalto, resinas e silicone.

No ano que entra, a empresa estima elevar o faturamento em 17% e o volume, em 3%. A expansão menor do que a de 2021 deve-se à base mais elevada de comparação e à piora da economia, que se reflete na demanda por imóveis. Outro fator, segundo o presidente, Marcos Bicudo, é que a venda de materiais vem competindo com entretenimento pelo bolso dos consumidores após a redução do isolamento.

Apesar do cenário mais desafiador, parte da indústria de materiais está investindo no aumento de capacidade, caso de Vedacit, Lorenzetti e Dexco (antiga Duratex). A Vedacit investirá R$ 178 milhões para transferir sua produção da capital paulista para Itatiba (SP), até 2024, e ampliar a capacidade produtiva total em 2,4 vezes. A Lorenzetti estima desembolsar R$ 200 milhões para dobrar a capacidade de produção de louças até 2024. Em julho, a Dexco anunciou investimentos de R$ 2,5 bilhões, em três anos, para elevar sua a capacidade.

A Tigre encerrou, em novembro, captação de R$ 600 milhões via debêntures para financiar a aceleração de seu crescimento, nos próximos anos, e para alongar dívidas.  

FONTE: VALOR ECONôMICO