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09/09/2020

Falhas do passado pesam sobre IPOs de construtoras

Mercado teme repetição dos erros cometidos após a primeira onda de abertura de capital que provocou quebra de empresas e prejuízos aos investidores

A queda da taxa de juros e o bom desempenho de vendas de imóveis, principalmente em São Paulo, têm levado muitas empresas do setor de construção civil a buscar, no mercado de capitais, opção para financiar seu crescimento e, em alguns casos, também para que os controladores vendam uma fatia de suas participações. Mas tamanha movimentação gerou o temor de que o setor possa reviver os problemas enfrentados após a primeira onda de abertura de capitais, há cerca de treze anos, que provocou a quebra de empresas e prejuízo aos investidores.

Nos primeiros anos da onda anterior de IPOs, entre 2005 e 2009, as incorporadoras tiveram forte expansão do número de empreendimentos lançados e dos mercados de atuação. A pressão por apresentar ao mercado crescimento acabou resultando em estouros de orçamento, reversão de margens e distratos de vendas que tinham sido fechadas sem critérios muito rigorosos. Isso se somou à crise econômica do país. A maior parte das empresas amargou prejuízos decorrentes do período de euforia e acabou reduzindo seu tamanho e as praças de atuação. Algumas não conseguiram sobreviver e deixaram de existir.

Segundo o Valor apurou, a expectativa é que a minoria das 18 empresas com pedido na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) consiga concluir a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Neste ano, três incorporadoras estrearam na B3 - Mitre Realty, Moura Dubeux e Lavvi - e duas ofertas foram canceladas - Riva e You (ver reportagem ao lado). Se todas as empresas que ainda estão na fila fossem listadas, o número de companhias de construção praticamente dobraria em relação ao atual.

No principal mercado do país, o temor é no segmento de média e alta renda. Na avaliação de uma fonte, São Paulo já tem número suficiente de empresas nesse segmento capitalizadas para o tamanho de seu mercado. Se incorporadoras pequenas, com atuação nessas faixas, conseguirem concluir suas ofertas, isso pode significar competição acirrada para comprar terrenos que deem suporte ao crescimento pretendido. Isso pressiona o preço da principal matéria-prima do setor, em um primeiro momento, e resulta em excesso de oferta de unidades posteriormente. Situação que o setor viveu recentemente.

“Os recursos dos fundos já estão bem alocados, e parte das incorporadoras com ofertas está prometendo lançamentos muito maiores do que seu histórico recente”, afirma um analista.

Há outras incorporadoras com um braço na baixa renda. Mas a maior parte das empresas com intenção de abrir capital tem no segmento de média e alta renda, em São Paulo, sua principal atuação, o que faz com que o mercado considere “difícil diferenciar cada uma”. “Empresas conhecidas e as que conseguirem dar mais visibilidade sobre o plano de crescimento têm diferencial”, afirma outro analista setorial.

Outra questão que pesa contra as empresas neste momento é o excesso de oferta. Um analista destaca que a “sobreoferta de nomes” do setor, na fila, tira a urgência de os investidores aderirem às operações. “Não há escassez, e o investidor não tem pressa”, diz. Segundo o especialista, o mercado pesa quanto precisaria ter de desconto para se arriscar em uma “história nova” em comparação às das companhias que já conhece.  

FONTE: VALOR ECONôMICO