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12/11/2024

Faria Lima é o pouco que sobrou da poupança do brasileiro e está gritando para o governo parar de gastar', diz UBS  (Valor Econômico)

Segundo Andre Bannwart, chefe do multimercado UBS Evolution, é justamente a desconfiança fiscal que tem pesado contra a moeda brasileira e deteriorando as expectativas de inflação

 Por Adriana Cotias

Um novo governo de Donald Trump que imponha o aumento de tarifas de importação relevantes contra a China pega o país numa situação macroeconômica mais frágil do que no primeiro mandato e com efeitos bastante adversos para o Brasil, segundo Andre Bannwart, chefe do multimercado UBS Evolution e da área de soluções no Brasil do UBS Global Wealth Management.

"O Brasil é a China. É a nossa maior corrente de comércio, responde por quase 60%, se Trump tiver sucesso em bater na China, o Brasil vai ter um problemão na mão", disse ao participar do fórum de investimentos do UBS que ocorre hoje, em São Paulo. "O Brasil está no melhor momento da balança comercial da história e ainda assim tem uma desancoragem de 15% a 18% da moeda."

Na hipótese de Trump entregar tudo o que prometeu na campanha, o resultado da conta corrente brasileira vai sofrer um degrau a mais, comentou. É por essa razão, que uma das principais posições do Evolution está na valorização do dólar em relação ao real para atravessar os próximos três a seis meses. A gestão do UBS também aposta na alta de juros.

Apesar de o pacote prometido pelo governo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poder ser um detrator de performance no curto prazo, uma economia na casa dos R$ 30 bilhões para as contas públicas seria insuficiente para mudar a tendência fiscal. "Como brasileiro, rezo para que faça diferença, seja estruturante, meu time viraria a mão, mas no meio do processo prefiro ser cauteloso", disse Bannwart.

Nas semanas que as discussões começaram a flertar com um potencial corte de R$ 50 bilhões, ele disse que diminuiu a exposição em Brasil.

"O fato é que a gente vê informações antagônicas, o próprio governo dá sinais de que não quer cortar tanto, que quer brigar com a Faria Lima (um dos principais centros financeiros do Brasil). A Faria Lima é o pouco que sobrou da poupança do brasileiro e, via preço dos ativos, está gritando para o governo parar de gastar. Do outro lado, o governo grita para gastar mais. É uma conversa de surdos”. 

(Matéria publicada em 11/11/2024)

Em entrevista neste domingo (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que não se deve acreditar no mercado financeiro porque, segundo ele, o setor fala "bobagem todo dia". Ele disse ainda que "já venceu" o mercado financeiro e que 'vai vencer' outra vez. Neste sentido, Lula defendeu também que "não tem problema" se o governo tiver que fazer uma dívida para "construir um ativo novo". 

É justamente a desconfiança fiscal que tem pesado contra a moeda brasileira, jogando as expectativas de inflação para o topo da banda, continuou Bannwart. São os agentes do mercado mandando a mensagem de que a política monetária está perdendo o controle. E desancorando a inflação, o mercado pede mais prêmio. 

Quando olha para outros modelos do mundo, Bannwart avaliou que o Brasil está perdendo o luxo de dar impulso fiscal e aumentar a carga tributária, que já é próxima da europeia se considerar governos federal, estaduais e municipais. Num eventual choque de gestão, haveria um impacto gigantesco sobre os ativos brasileiros.

À frente, a China é um ponto de alerta. Se no primeiro mandato de Trump, a economia crescia 7,5%, com um modelo de crescimento vigoroso, agora pega o país com uma taxa de 4,5% e problemas estruturais no mercado imobiliário, incorporação e no sistema bancário. Se deteriorar mais, o impacto pode ser gigantesco, equivaleria à metade do Produto Interno Bruto (PIB). O recente pacote de estímulos anunciado pelo governo chinês não ajudou os ativos brasileiros.

FONTE: VALOR ECONôMICO