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19/01/2024

Faturamento dos materiais de construção cai (Valor Econômico)

Entidade de fabricantes espera retomar crescimento em 2024 e organiza instituto para defender demandas em Brasília

O ano passado foi de queda no faturamento para a indústria de materiais de construção, embora em escala menor do que a retração apresentada em 2022. O índice Abramat, elaborado pela FGV para a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, aponta para uma redução de 2,2% em 2023, ante queda de 6,9% no ano anterior. A entidade começou 2023 projetando alta de 2%.

Os materiais de acabamento tiveram queda de 6,8% no faturamento, puxando o resultado, enquanto os materiais de base apresentaram alta de 0,9%.

O pequeno avanço no faturamento dos itens de base contrasta com a queda em volume de venda apresentada pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) na semana passada, de 1,7% no ano. É também o segundo ano consecutivo de queda no indicador, que apresentou recuo de 2,8% em 2022.

Para 2024, a Abramat volta a sonhar com um aumento de 2% no ano, mesmo patamar que foi previsto pelo Snic.

Rodrigo Navarro, presidente da associação de fabricantes de materiais, elenca o alto endividamento das famílias como um dos motivos para a queda do indicador em 2023. Cerca de metade do faturamento da indústria de materiais vem da venda no varejo, mais sensível ao endividamento e às taxas elevadas de juros.

Há ainda, segundo ele, reflexo da pandemia. Em 2021, o faturamento do setor subiu 8,1%. O segmento da construção foi favorecido pela dificuldade dos brasileiros em gastar com outros produtos e serviços, mas a situação mudou.

Para este ano, a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), relançado em 2023, é uma das apostas para fomentar a demanda. Há ainda o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as eleições municipais, que costumam movimentar obras públicas.

No lado macroeconômico, espera-se que a continuação da queda da taxa Selic ajude nas vendas do varejo.

Os fabricantes parecem animados. Em dezembro, metade dos entrevistados para pesquisa que detecta o humor dos empresários, o Termômetro Abramat, esperava mais de 3% de alta no faturamento em 2024. Outros 33% esperavam entre 1% e 3%.

O nível de utilização da capacidade instalada do setor de materiais atingiu 75% em dezembro, maior valor no último ano. Ao final de 2022, estava em 71%.

O que Navarro também espera é que a retomada de crescimento em 2024 seja estável. “Queremos evitar essa montanha russa, é horrível”, diz. Em 2010, por exemplo, o faturamento do setor subiu 27,2%, para cair 7,2% e 13,5% em 2015 e 2016.

A Abramat, que completa duas décadas de fundação neste ano, vai lançar oficialmente nas próximas semanas um grupo para reunir associações de fabricantes de materiais de construção, o Instituto Pensar Construção (IPC).

A inspiração é o trabalho feito por entidades do agronegócio, conta Navarro, que teriam uma interlocução mais frequente com a classe política em Brasília.

Como a própria associação já reúne fabricantes de ao menos 20 tipos de produto, a ideia é que o instituto funcione como um “catalisador de demandas” comuns entre seus participantes, afirma o presidente, que cita como exemplo a reforma tributária. “É um tema que afeta a todos, você consegue analisar e consolidar as demandas e fazer posicionamento conjunto”, diz.

Outro exemplo é um projeto de lei do deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) que almeja proibir a venda direta de material de construção, pelos fabricantes, para pessoas físicas e jurídicas. “Já fizemos um manifesto pela retirada do projeto, com mais de 40 entidades contrárias”, afirma Navarro.

Segundo ele, fica mais viável chegar aos deputados quando várias empresas e entidades concentram suas forças.

A Abramat já selecionou cem projetos de lei que podem afetar o setor de materiais. O plano é que o IPC selecione dez deles e emita posicionamentos, que podem ser enviados para outras entidades maiores, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Temos que usar os canais para levar demandas e sugestões baseadas em dados e de forma proativa, não é só reclamar”, diz.

O IPC começa com sete entidades de fabricantes, entre elas a própria Abramat, a Anfacer, de revestimentos cerâmicos, a Abrafati, de tintas, a Sindicel, de condutores elétricos, e a Abividro.

FONTE: VALOR ECONôMICO