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16/12/2015

Fed deve concluir era de juro baixíssimo

O Fed tradicionalmente altera os juros para cima e para baixo para tentar reequilibrar a economia. Durante uma recessão, o banco reduz as taxas para encorajar famílias e empresas a tomar empréstimos, consumir, investir e contratar, estimulando a atividade econômica. Em períodos de expansão, a instituição eleva os juros para conter os gastos, investimentos e a inflação. Quando cortou os juros em 2008, o Fed tomou outras medidas para amplificar essa política, comprando ativos e prometendo manter as taxas baixas.

Jon Hilsenrath | The Wall Street Journal

A provável decisão do Federal Reserve, em sua reunião de hoje, de elevar os juros dos empréstimos de curto prazo vai encerrar uma era de taxas baixíssimas, um período de extraordinária experimentação monetária que gerou resultados conflitantes.

Apesar dos esforços agressivos do banco central americano para impulsionar a economia desde a crise financeira de 2008, ele não entregou nem a expansão vigorosa desejada, nem o desastre previsto pelos críticos.

No processo, o banco central emergiu menos como uma força suprema e mais como tantas outras instituições que, nos últimos anos, têm penado para acompanhar eventos além de seu controle.

"Na verdade, foi um período de grande incerteza e insegurança para o Fed", disse o ex-presidente do banco, Ben Bernanke, numa entrevista ao "The Wall Street Journal".

O Fed manteve sua taxa básica de curto prazo próxima a zero por sete anos e adicionou à sua carteira trilhões de dólares em hipotecas e títulos do Tesouro para reduzir os juros de longo prazo.

Ao incentivar os investimentos e gastos, os juros baixos ajudaram a sustentar uma expansão econômica que já dura 78 meses, maior que todos os períodos de crescimento já registrados, exceto quatro. A taxa de desemprego, hoje em 5%, está na metade do pico registrado durante a recessão.

O crescimento da produção e da renda continua decepcionante. Em um setor sensível aos juros, o de automóveis, as vendas estão crescendo. Em outro, dos imóveis residenciais, a recuperação tem sido extraordinariamente lenta.

A renda depois de impostos das famílias, ajustada pela inflação, cresceu a uma taxa anual de 1,8% durante esta expansão, menos que a média de 3,3% das três anteriores. Se a renda tivesse crescido a taxas históricas, os americanos teriam US$ 1,2 trilhão a mais a seu dispor.

"A economia não foi muito bem", diz Michael Bordo, historiador econômico da Universidade Rutgers, em Nova Jersey. "Tivemos uma recuperação lenta."

Agora, novas ameaças estão surgindo. O boom de títulos de maior risco, os chamados "junk bonds", está perdendo força e pode causar danos generalizados à economia. Outros setores, como o de imóveis comerciais e financiamento de veículos, estão se aquecendo e também podem reverter o curso. A demanda por crédito impulsionada por juros baixos é um ingrediente comum nos dois casos.

"Quanto mais rápido os bancos centrais apertam o botão monetário, maior é o risco relativo de possuir ativos financeiros", disse Bill Gross, o conhecido gestor de renda fixa do fundo Janus Capital Group, num comentário sobre a alta dos juros feito neste mês.

Ainda assim, vários alertas feitos por críticos do Fed se mostraram errados. Muitos esperavam mais inflação. Em vez disso, a inflação dos preços ao consumidor ficou numa média de 1,5% ao ano, abaixo da meta de 2% do Fed, desde que o banco central derrubou os juros para perto de zero. Em outubro, os preços subiram apenas 0,2% ante o mesmo mês de 2014, segundo o índice preferido do Fed. Os preços do ouro, que tendem a subir quando o mercado percebe riscos de inflação, caíram 21%.

O Fed tradicionalmente altera os juros para cima e para baixo para tentar reequilibrar a economia. Durante uma recessão, o banco reduz as taxas para encorajar famílias e empresas a tomar empréstimos, consumir, investir e contratar, estimulando a atividade econômica. Em períodos de expansão, a instituição eleva os juros para conter os gastos, investimentos e a inflação. Quando cortou os juros em 2008, o Fed tomou outras medidas para amplificar essa política, comprando ativos e prometendo manter as taxas baixas.

Outros bancos centrais que aumentaram juros logo tiveram que voltar atrás. Em 2011, o Riksbank, da Suécia, elevou sua taxa referencial de quase zero para 2% ao ano para conter um boom imobiliário e o endividamento das famílias. A inflação caiu e o desemprego ficou estagnado entre 7% e 8%. O banco central, então, voltou a reduzir os juros, que hoje estão negativos.

Em seu livro "Courage to Act" ("Coragem para agir", em tradução livre), Bernanke considera toda a Europa como um exemplo da alternativa que o Fed não escolheu. O Banco Central Europeu (BCE) elevou os juros duas vezes em 2011, mas reduziu-os mais tarde para abaixo de zero. A taxa de desemprego da região continua acima de 10%. "A recuperação dos EUA está entre as mais fortes do mundo", disse ele. "A única outra economia avançada que parece comparável é a do Reino Unido, que tem políticas muito semelhantes."

As autoridades do Fed dizem que os juros baixos, de certo modo, são uma força além do controle do próprio banco central. Os economistas, em geral, acreditam que exista uma taxa "neutra", determinada pela demanda por poupança e investimentos, que mantém o emprego e a inflação estáveis.

A presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, argumentou, num discurso recente, que os juros foram pressionados por fatores além da alçada do Fed, incluindo o fraco crescimento econômico no exterior, o baixo crescimento da produtividade no trabalho, o envelhecimento da força de trabalho e o aperto fiscal. Alguns desses fatores talvez sejam atenuados, mas outros podem persistir e manter os juros baixos, apesar do desejo do Fed de elevá-los.

"Você não pode voltar para onde estávamos antes, aos juros a que estávamos acostumados, e ter um crescimento satisfatório", disse o professor de economia da Universidade Harvard e ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers.

Políticas de juros baixos, porém, têm os seus riscos. Um exemplo é a migração dos investidores para classes de ativos de maior risco devido aos baixos retornos dos investimentos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro. A Média Industrial Dow Jones subiu 65% desde que o Fed reduziu os juros de curto prazo para perto de zero. Os preços de imóveis comerciais, por sua vez, subiram 93% no período, segundo a Moodys.

 

FONTE: VALOR ONLINE