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08/08/2024

FGV Ibre: construção pode crescer 3,4% em 2024 (Sinduscon-SP)

Perspectiva foi apresentada na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP

Os resultados positivos do desempenho da construção no primeiro semestre podem fazer o PIB do setor crescer acima de 3% em 2024, aproximando-se da projeção de 3,4% traçada dentro de um cenário econômico otimista. Esta possibilidade foi apresentada por Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), na reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan, em 7 de agosto.

Em sua apresentação, a economista comentou que a atividade da cadeia produtiva da construção cresceu no primeiro semestre, melhorando a projeção sobre o desempenho do setor neste ano. Ela mostrou que o saldo do emprego formal no primeiro semestre cresceu cerca de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior, puxado pelos segmentos de edificações e serviços especializados. O ritmo tem desacelerado, à medida que as obras de infraestrutura se concluem com a proximidade das eleições. A ocupação, que inclui a informalidade, cresceu 4% na mesma comparação.

A percepção das empresas – prosseguiu –, captada pela Sondagem da Construção sobre a atividade do setor, também cresceu ligeiramente, assim como o consumo do cimento. Para os próximos meses, as empresas de infraestrutura e de serviços especializados alimentam expectativas positivas, enquanto as de edificações residenciais se mantêm na neutralidade, e as não residenciais seguem no pessimismo moderado.

De acordo com Ana Castelo, nesse cenário, prevendo-se um aumento do PIB da construção de 0,7% no segundo trimestre, o PIB do setor deverá crescer 1% no primeiro semestre, aproximando a projeção de crescimento deste PIB para 2024 do cenário otimista de 3,4% desenhado no final de 2023. No segmento residencial, no primeiro semestre destacam-se o crescimento dos lançamentos (+46%), bem como de vendas (+37%), na cidade de São Paulo. Apesar das taxas elevadas dos financiamentos imobiliários, o crescimento foi bastante expressivo não apenas no segmento econômico, mas também no de médio e alto padrão.

Outro dado surpreendente para a economista foi o crescimento do volume de crédito habitacional, com destaque para os financiamentos com recursos do FGTS. Já em unidades habitacionais, o número de financiamentos cresceu no segmento econômico, porém diminuiu no de média e alta renda. Os preços dos imóveis também têm variado acima da inflação.

A escassez da mão de obra e a elevação dos preços dos insumos seguem dificultando o setor, conforme mostra a Sondagem. Para enfrentar aquela escassez, a maior parte das empresas tem investido em qualificação de pessoal, deslocado trabalhadores entre obras e elevado as remunerações. De outra parte, os custos da construção no primeiro semestre evoluíram mais do que no mesmo período do ano passado, puxados por aumentos de preços de condutores elétricos, brita e impermeabilizantes, entre outros insumos.

Conjuntura econômica

Segundo Robson Gonçalves, professor da FGV, a conjuntura econômica passa por um momento de inflexão, caracterizado por temor de recessão nos Estados Unidos, o que torna mais próxima a probabilidade de queda de juros naquele país. Adicionalmente, o Copom explicitou a possibilidade de elevar os juros no Brasil, se necessário. Se isso ocorrer, a alta dos juros pode afetar os investimentos na construção civil. O câmbio cederia, melhorando as contas públicas, o que, de outro lado, traria o risco de levar a uma nova leniência fiscal.

Zaidan observou que as contas domésticas não serão arrumadas tão cedo. Segundo ele, a votação da reforma tributária para depois das eleições amplia incertezas para a construção civil, que necessita de previsibilidade.

Yorki Estefan comentou ter a sensação de que não está havendo um esforço sério dos Três Poderes por um equilíbrio fiscal. Ele observou que a concorrência entre as construtoras é grande e que os valores de venda dos imóveis novos pouco evoluem em face dos aumentos dos insumos.

Eduardo Capobianco, representante do SindusCon-SP na Fiesp, comentou que as condições das regiões do país e mesmo dentro do Estado de São Paulo diferem entre si, o que dificulta a leitura dos dados de pesquisas nacionais e a tomada de decisões empresariais com base nelas. Ele também analisou a dificuldade que representa o aumento dos preços dos insumos quando a atividade da construção cresce, e como lidar com essa questão sem a percepção sobre se haverá demanda suficiente para suportar esse crescimento.

Para Ana Castelo, a construção deve enfrentar esses desafios aumentando a eficiência e a produtividade, optando por processos construtivos mais industrializados. Zaidan lembrou que a construção está inserida em um país pouco produtivo, que requer uma arrumação fiscal e uma política para a produção que faça crescer o mercado, estimule a concorrência e não alimente a inflação. Portanto, para beneficiar a microeconomia, é necessário consertar a macroeconomia, comentou.

Gonçalves reforçou a importância de se elevar a produtividade. O professor da FGV observou que a barreira tributária ao aumento da industrialização na construção somente será transposta no final da reforma tributária, em 2023, e que a FGV desenvolveu uma proposta para que isso aconteça antes. Ele e Zaidan lamentaram que a produtividade não está no topo das preocupações do Executivo e do Legislativo. Capobianco observou que a industrialização pode ser dificultada, se baseada em aumento de insumos oligopolizados.

FONTE: SINDUSCON-SP