Nesta semana, o Santander foi o primeiro dos grandes bancos a anunciar que os juros para o seu financiamento imobiliário subiram –de 6,99% ao ano, patamar em que estava desde junho de 2020, para 7,99%. A tendência é que outros grandes bancos também sigam a alta da Selic (taxa básica de juros), que hoje está em 4,25% e deve encerrar o ano a 6,5%, e aumentem o custo dos seus financiamentos de imóveis neste segundo semestre.
A mudança foi vista pelo mercado como simbólica: aparentemente, a era de taxas de crédito habitacional no menor patamar da história está ficando para trás. A oportunidade de comprar imóveis a juros baixos, entretanto, deve se manter por mais tempo na mesa.
A expectativa é que esse processo de elevação de taxas será menos intenso do que poderia ser, seja pela importância que esse tipo de crédito vem tendo para os bancos, seja pelo elevado volume de recursos que as instituições financeiras têm para emprestar na categoria.
Veja abaixo o que o 6 Minutos descobriu sobre o tema.
Bancos competem pelo cliente do crédito imobiliário
Segundo especialistas no setor, apesar da expectativa de ajuste, a tendência é que os aumentos não sejam muito expressivos. Isso porque o crédito imobiliário, que explodiu de 2019 para cá exatamente por causa dos juros baixos, é uma forma dos bancos garantirem uma relação de longo prazo com bons clientes.
“Os bancos estão super atentos à possibilidade de manter as taxas baixas e competitivas, porque o crédito imobiliário é um produto estratégico para manter o cliente no longo prazo”, aponta Bruno Gama, CEO da plataforma de contratação de crédito imobiliário CrediHome. “Isso é importante especialmente em um momento de competição com os novos entrantes do setor financeiro, como bancos digitais e fintechs”.
Cristina Portella, presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), explica com números o peso dessa categoria de financiamento para as instituições financeiras. “Em 2019, o total de financiamento imobiliário foi de R$ 79 bilhões. No ano passado, foram emprestados R$ 124 bilhões, o recorde da série histórica, e para este ano esperamos mais 34% de aumento, em uma projeção conservadora”, afirma.
Essa alta no valor emprestado projetado para 2021 já considera aumentos dos juros imobiliários na ponta.
“É natural que aconteçam ajustes, até porque a curva de juros de longo prazo já mostra taxas de mais de 9%. E são financiamentos longos, de 30 anos, que permanecem por décadas nos balanços dos bancos”, observa a presidente da Abecip. “Esse ajuste ainda não ocorreu pelo bom momento do mercado, e por causa da competição das instituições financeiras pelo crédito imobiliário”.
Poupança em alta
Há outra razão que estimula que os bancões mantenham os juros do crédito imobiliário em patamares mais civilizados. Em 2020, por causa da pandemia de coronavírus, muita gente aumentou as aplicações na poupança para se precaver em um momento de crise e também porque o isolamento social restringiu a realização de gastos como viagens ou compras.
Isso é importante porque os bancos são obrigados pelo Banco Central a direcionar pelo menos 65% dos recursos da caderneta para o financiamento habitacional. “A captação da poupança foi bastante alta no ano passado, e isso quer dizer que os bancos tem bastante recursos para ofertar na modalidade”, aponta Gama, da CrediHome.
De acordo com o especialista, é esse fator que deve determinar quais os bancos que repassarão mais ou menos a alta da Selic neste segundo semestre. “Acredito que cada um vai ter uma estratégia diferente. Caixa, Itaú Unibanco e Bradesco são os com melhores condições de segurar, e repassar menor”, avalia.
Quero financiar um imóvel, quais as dicas para este momento?
Como os juros começarão a subir, aproveitar este momento para financiar seu novo lar com uma taxa mais baixa é uma opção a ser considerada. Esse mesmo raciocínio vale para a portabilidade: muita gente ainda possui financiamentos imobiliários com taxas de 10% ao ano ou mais, e podem economizar trocando o crédito de banco ou renegociando.
Gama, da CrediHome, afirma que pesquisar as melhores condições, levando em conta sempre o custo efetivo total do financiamento (que inclui também os seguros obrigatórios e tarifas), é especialmente importante neste momento. “Neste segundo semestre, cada banco vai se posicionar de forma bem individual. Para fazer o melhor negócio, pesquisar é essencial, e não só no banco em que você tem relacionamento”