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07/06/2023

Financiamento imobiliário é afetado por onda de saques na poupança (Valor Investe)

Falta de recursos destinados a este tipo de crédito explica condições mais restritivas na hora de conceder empréstimo

O diretor de política econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, afirmou nesta terça-feira que as condições de crédito ficaram mais restritivas em 2022 na oferta para microempresa, pessoa física e habitacional. Segundo ele, nos financiamentos imobiliários, essa redução pode ser explicada por queda no “funding” (recursos destinados a custear essas linhas de crédito) em virtude do aumento de saques da poupança.

 

“Do lado da oferta, a gente vê condições mais restritivas para microempresa, PF [pessoa física] e habitacional. No habitacional, chama atenção que subiu e depois caiu, pode ser explicada pelo funding, com saques da poupança”, disse em entrevista coletiva para apresentação do Relatório de Economia Bancária (REB).

 

A Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito (PTC), divulgada no REB, mostrou que as instituições financeiras apresentaram condições mais restritivas de aprovação de crédito ao longo de 2022. Para a autoridade monetária, a dinâmica é “consistente com o cenário de taxas de juros crescentes”. “Dentre os fatores que contribuíram para maior restrição ao crédito estão as condições gerais da economia doméstica no segmento de grandes empresas; nível de inadimplência, no caso de MPMEs; nível de comprometimento da renda no segmento de crédito ao consumo; e custo/disponibilidade de funding no caso do crédito habitacional”, afirma o documento.

 

Do lado da demanda, nos segmentos de crédito para empresas, a necessidade de capital de giro foi o principal fator de aumento de demanda. “A alteração da taxa de juros foi percebida pelas instituições financeiras como importante fator de inibição da demanda nos dois segmentos de crédito, às PFs [pessoas físicas] e no crédito às MPMEs [micro e pequenas empresas]”, pontua a autoridade.

 

A tendência de resultados negativos na caderneta permaneceu em 2023. Nesta terça, a autoridade monetária também divulgou os dados de poupança de maio. Os saques superaram os depósitos em R$ 11,747 bilhões, o que representa a maior saída líquida para o mês da série histórica, calculada desde janeiro de 1995.

Em abril, a captação líquida — diferença entre entradas e saídas — foi negativa em R$ 6,252 bilhões; em março de R$ 6,088 bilhões; e, em fevereiro, de R$ 11,515 bilhões. Em janeiro, a poupança havia registrado a maior a maior retirada líquida da série, com

R$ 33,631 bilhões. Dessa forma, a caderneta acumula saída líquida de R$ 69,232 bilhões no ano.

 

Em maio do ano passado, a modalidade teve ingresso líquido de R$ 3,515 bilhões. Em 2022 como um todo, a modalidade teve o maior resgate anual da série, de R$ 103,237 bilhões. No período, houve entrada líquida apenas em maio e em dezembro, de R$ 6,259 bilhões.

“Em 2022, os depósitos de poupança e à vista apresentaram desempenho negativo. No caso dos depósitos de poupança, as captações líquidas aprofundaram a queda observada em 2021, embora a variação no saldo tenha sido em boa parte compensada pelos rendimentos creditados”, pontuou o REB. Segundo o BC, o desempenho das cadernetas “mostra-se sensível ao cenário macroeconômico, caracterizado pela taxa Selic em patamares superiores à remuneração da poupança”.

 

O saldo da modalidade chegou a superar R$ 1 trilhão em agosto de 2020 e se manteve acima deste patamar até julho do ano passado, mas, em razão dos consecutivos resultados negativos, o estoque do investimento caiu e somou em maio R$ 961,5 bilhões.

FONTE: VALOR INVESTE