Paula Cristina e Vivian Ito
A retomada do financiamento de 70% para imóveis secundários, promovido pela Caixa no último mês, reacendeu a venda de residências usadas. Com mais descontos por parte dos proprietários, a alta dos negócios deixa em alerta as construtoras, que precisam ser ainda mais agressivas para reduzir estoques de novos.
Segundo levantamento do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), os preços dos imóveis usados recuaram 15,9% em fevereiro sobre janeiro, resultado de um aumento de até 200% nos descontos oferecidos. "Ao considerar os dados de 2010 a 2016, a alta registrada no mês de fevereiro deste ano só não superou o acréscimo ocorrido no ano de 2014, quando as vendas de usados aumentaram 73,73% do primeiro para o segundo mês do ano", afirmou o presidente da entidade, José Augusto Viana Neto, lembrando que, no segundo mês de 2016, a alta nas vendas foi de 55,63%,
Mais cauteloso, o executivo chefe de operações do VivaReal, Lucas Vargas, aponta que apenas as mudanças não serão suficientes para alavancar o mercado. "Por mais que seja comunicado um valor maior do teto do financiamento, na prática a aprovação depende da existência de crédito no banco. E sabemos que a poupança está escassa", indica. Para ele, a postura mais rígida dos bancos devido à instabilidade econômica é algo que pode influenciar o viés prático da mudança da Caixa.
Mesmo assim, ele acredita que a mudança ajude na melhoria da percepção de mercado e a confiança do consumidor. "É difícil ver uma mudança rápida na prática. Mas a alteração ajuda no otimismo dos compradores. Eles podem ser influenciados, tanto na hora de comprar imóveis novos quanto usados", analisa.
Juro Alto - Apesar do incremento nas vendas com a retomada do teto de financiamento em 70%, especialistas apontam que isso não será o bastante para retomar o setor como um todo.
"A pergunta é se esse dinheiro será suficiente para, além de garantir os recursos para financiamentos já aprovados, possibilitar novos empréstimos e em qual proporção", diz o advogado especialista em direito imobiliário Marcelo Tapai.
O especialista ressalta ainda a liberação do banco de uma linha de crédito no valor de R$ 7 bilhões, que é voltada para famílias com renda acima dos limites do programa Minha Casa, Minha Vida e que oferece um dos juros mais baratos do mercado. "O montante liberado é significativo e representa uma grande injeção de dinheiro e a esperada desova dos estoques", avalia Tapai.
Apesar das boas perspectivas com relação à linha de crédito, o advogado ressalta que a alta da taxa de juros do financiamento imobiliário, que pode chegar a 12,5% ao ano para imóveis residenciais e 15% para os comerciais, deixou o comprador receoso. "Tal medida é um balde de água fria no já tão complicado mercado imobiliário, que vem sofrendo com a crise econômica e tem amargado sucessivos índices negativos nos últimos anos. A crise de crédito é, sem dúvida, um dos principais motivos que levaram as pessoas a desistirem da compra do imóvel ou, até mesmo, devolvê-lo às construtoras", explica o advogado ao DCI.
Outra novidade anunciada pela Caixa é a retomada das operações de financiamento do segundo imóvel, com as mesmas condições (taxas de juros e prazos) oferecidas para quem está comprando o primeiro.
Mas o advogado alerta: para comprar o imóvel, é preciso analisar com cuidado o negócio. "Primeiro, a compra só é interessante para quem dispuser do valor integral ou de uma quantia significativa do valor do financiamento, conseguindo pagar em curto prazo. Além disso, é ideal que o preço esteja muito aquém do valor de mercado, pois a tendência, segundo prognósticos de especialistas financeiros e agências de risco, é de que o preço dos imóveis ainda caia cerca de 20% em 2016", finaliza Tapai.
Construtoras - Para conseguir ser competitivo e garantir as vendas, as construtoras estão investindo forte. Na Even, por exemplo, uma campanha que envolve a negociação do carro do potencial cliente tem estimulado as vendas. Em entrevista ao DCI, o diretor da construtora, Marcelo Dzik afirmou que a política de descontos tem sido bem aproveitada na companhia. "Temos um dia especial de vendas, o Even Day, onde a gente oferece descontos diferentes de acordo com a demanda do cliente", afirmou ele, lembrando que a política de promoções vale para todas as fases do empreendimento e todos os bolsos dos clientes.
Nos empreendimentos prontos, os imóveis remanescentes ganham mais atenção. "Apesar de termos interesse em venda, precisamos ser mais assertivos na análise de crédito para não termos problemas depois", resumiu o executivo.
Para este ano, em meio uma economia desafiadora, a palavra de ordem na Even continua sendo a manutenção dos estoques. "Esperamos ter um ano parecido com o visto em 2015, marcado pela manutenção dos estoques e atenção ao mercado como um todo", resumiu.
Para além dos descontos, as construtoras estão sendo criativas na hora de estimular a venda. A Sunrise Construções, que atua no Rio de Janeiro, está oferecendo um ano de condomínio grátis aos clientes interessados em fechar o negócio. "Isso é uma ajuda grande, e com essa promoção conseguirmos vender 15% dos imóveis em situação de estoque", afirmou o gerente de vendas da construtora, Carlos Mattaleão.
Outra iniciativa da construtora, dessa vez para os imóveis que ainda não foram entregues, é oferecer toda a decoração dos espaços comuns dos empreendimentos. "Isso também tira um custo alto na hora da entrega das chaves, já que, além de todo gasto com o próprio imóvel, o morador tem que participar de rateio para decorar o salão de festas, e outras áreas", completou o gerente.