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17/02/2016

Força do crédito na China surpreende

Os dados de crédito da China em janeiro impressionaram pelo crescimento, mas há dúvidas entre os especialistas do quão indicativo de recuperação da economia eles representam. O financiamento social total (medida mais ampla) cresceu para 3,42 trilhões de yuans, de 1,82 trilhão de yuans em dezembro. Foi o primeiro crescimento desta medida desde setembro.

Os dados de crédito da China em janeiro impressionaram pelo crescimento, mas há dúvidas entre os especialistas do quão indicativo de recuperação da economia eles representam. O financiamento social total (medida mais ampla) cresceu para 3,42 trilhões de yuans, de 1,82 trilhão de yuans em dezembro. Foi o primeiro crescimento desta medida desde setembro. Considerando apenas os novos empréstimos concedidos pelos bancos, excluindo-se efeitos sazonais, a cifra chegou a 2,51 trilhões de yuans, de 597,8 bilhões de yuans no mês anterior. 

Para o Nomura, o forte crescimento do crédito e dos agregados monetários deve reduzir a probabilidade de uma flexibilização ampla para estimular a economia no curto prazo, mas houve fatores extraordinários e sazonais que explicam parte do resultado. O crédito para empresas (especialmente empréstimos de médio e de longo prazo) foram responsáveis por uma grande parte do crescimento do financiamento global na China. A instituição lembra que tal performance é explicada, em parte, pela mudança da dívida denominada em moeda estrangeira (tanto interna quanto externa) por outras denominadas em moeda local, já que cresceu muito no meio corporativo a expectativa pela desvalorização do yuan. Do pico de empréstimos em moeda estrangeira concedidos por bancos nacionais, em julho de 2015, o saldo caiu mais de US$ 110 bilhões, segundo cálculos do Nomura.

Houve também uma questão sazonal. A demanda por crédito tende a ser sazonalmente forte no início do ano, já que novas cotas de empréstimos permitem que projetos que enfrentaram atrasos de financiamento do ano anterior possam ser retomados.

Apesar de espelhar as políticas acomodatícias que o governo chinês vem fazendo para evitar um pouso forçado da economia, o crescimento do crédito não deve compensar integralmente o problema do grave excesso de capacidade nas indústrias e o excesso de oferta no setor imobiliário, dizem os economistas do Nomura, que mantêm a projeção de crescimento do PIB em 5,8% neste ano. Por conta disso, a instituição continua apostando na opção por cortes de compulsórios ao longo do ano e/ou cortes da taxa de juros básica.

A Capital Economics, por seu turno, avalia que os dados devem aliviar as preocupações de crescimento imediato e são consistentes com a visão da consultoria de que é mais provável que a economia chinesa acelere do que perca ritmo ao longo dos próximos trimestres. "Na realidade, o crescimento do crédito mais amplo já vem acelerando há mais de meio ano", escreve Julian Evans-Pritchard, especialista em China, em nota a clientes.

O economista lembra que os governos locais foram proibidos de tomar empréstimos de bancos ou via mercado de títulos corporativos desde o início do ano passado e, ao invés disso, estão vendendo títulos municipais para captar recursos. "O valor desses títulos não é capturado na medida mais ampla de crédito", pondera. Em seus cálculos, se estes valores forem computados para dar uma medida de crédito que é consistente com o passado, o crescimento está agora na maior alta em 17 meses, de 15,1% na comparação anual. A Capital espera que o crescimento do crédito permaneça forte. "Com efeito, ao contrário do que muitos afirmam, não há evidências de que a intervenção do BC para sustentar a moeda resultou em condições de liquidez mais apertadas no mercado interno." As taxas interbancárias mantiveram-se baixas e estáveis nos últimos meses. Isso significa que o banco central chinês tem sido capaz de compensar os saques de liquidez de suas vendas de moeda estrangeira usando suas outras ferramentas monetárias, conclui a consultoria.

FONTE: VALOR ECONôMICO