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30/11/2015

Fundos abertos do BTG encolhem R$ 4,4 bi

Esse foi o caminho encontrado pela gestora de recursos para tranquilizar os clientes, já que a exposição aos papéis de emissão do próprio banco era vista como o único risco real para os investidores de fundos, dado que a atividade de gestão é totalmente segregada do banco.

Luciana Seabra

Em meio à queda de patrimônio em fundos abertos - de R$ 4,4 bilhões nos dois dias que sucederam a prisão do controlador da instituição, André Esteves -, o BTG Pactual zerou a exposição às emissões do banco em suas maiores carteiras de renda fixa, segundo o Valor apurou.

Esse foi o caminho encontrado pela gestora de recursos para tranquilizar os clientes, já que a exposição aos papéis de emissão do próprio banco era vista como o único risco real para os investidores de fundos, dado que a atividade de gestão é totalmente segregada do banco.

Em um ritmo frenético de conversas com clientes de grande porte para tentar impedir os resgates, a gestora do BTG conseguiu reduzir o ritmo da saída. O patrimônio nos fundos abertos, que encolheu cerca de R$ 2,5 bilhões no primeiro dia e R$ 1,9 bilhão no segundo, teve uma redução mais próxima de R$ 1 bilhão na sexta, segundo uma fonte ligada ao banco.

Outra fonte de instituição financeira estima que o patrimônio vai encolher de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões nos primeiros 30 dias após a prisão de Esteves, com bancos grandes, como Bradesco e Itaú, recebendo um fluxo importante de clientes, especialmente corporativos, que não querem ter que explicar ao conselho as ligações com o banco de Esteves.

O maior fundo aberto do BTG, o Yield DI, com cerca de 15 mil cotistas, foi o que mais perdeu recursos, passando de R$ 5 bilhões a R$ 3,5 bilhões em dois dias, segundo os relatórios de cotas e rentabilidades publicados no site do BTG para os dias 25 e 26. A carteira informada pelo fundo à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), referente a outubro, mostra 6,2% do patrimônio em depósitos a prazo e outros títulos de emissão do próprio banco, mas, segundo informou uma fonte, a exposição foi toda zerada.

Também não há mais papéis de crédito privado da própria casa nos fundos Capital Markets, que perdeu R$ 791,5 milhões em dois dias, e no BTG Pactual CDB, com encolhimento de R$ 402,5 milhões em seguida à prisão de Esteves. A aplicação em títulos do próprio banco somente foi mantida no CDB Plus, uma carteira que por regulamento aplica em papéis do BTG. A abertura da carteira na CVM mostra uma exposição de 17,8% em títulos do banco. Esse é, depois do Yield, o fundo com maior perda de patrimônio, de R$ 1,1 bilhão.

O encolhimento dos fundos é explicado por resgates e não por prejuízos. As cinco carteiras que mais perderam patrimônio nos dias que se seguiram à prisão - um total de R$ 1,8 bilhão - são todas de renda fixa e tiveram valorização de um dia para o outro.

Mesmo em meio à liquidação das posições, nenhuma das carteiras teve prejuízo, segundo uma fonte, porque o BTG aproveitou-se do fato de as posições estarem concentradas em compromissadas ou papéis com liquidez diária, que poderiam ser resgatados a qualquer momento. Como a contraparte é o próprio banco, esses títulos não são negociados no secundário e, portanto, não sofrem marcação a mercado.

Os fundos de renda fixa estavam com pelo menos metade do patrimônio bastante líquido, disse a fonte, porque a gestora vinha se preparando para um cenário bastante adverso em 2016.

Para o coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), William Eid, o risco para os investidores está mesmo concentrado nos fundos que aplicam em papéis do próprio banco, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e compromissadas. "O BTG tem uma liquidez enorme. Acho que nada vai acontecer com seus títulos." Fora isso, Eid não vê grandes riscos. "Os fundos têm CNPJ diferente do banco. Mesmo que o banco tenha problemas, os fundos não devem ter."

Os papéis emitidos pelo BTG não eram comprados somente pelas carteiras da casa, entretanto. Os fundos abertos têm R$ 9,7 bilhões aplicados em CDBs e Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE) emitidos pelo banco. São 274 carteiras não exclusivas, segundo levantamento da Economatica.

A gestora do Banco do Brasil é a primeiro da lista, com R$ 3,3 bilhões em 29 fundos. A Caixa vem em segundo, com R$ 1,6 bilhão, seguida por Bradesco, com R$ 1,1 bilhão, e pelo próprio BTG, com R$ 1 bilhão na gestora e R$ 645,3 milhões no segmento que atende clientes de alto patrimônio.

O volume de R$ 1,9 bilhão restante alocado nos CDBs e DPGEs do BTG está em fundos abertos de 27 outras gestoras.

O levantamento da Economatica não considera fundos exclusivos. Caso sejam levadas em conta as 137 carteiras de investidores únicos, o valor alocado nesses papéis sobe a R$ 16,1 bilhões. E o Bradesco vai para o primeiro lugar, com R$ 6,7 bilhões, devido a um fundo com patrimônio de R$ 5,7 bilhões, cujo cotista é o Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

A fotografia é referente a 31 de outubro, já que os gestores em geral publicam a carteira somente uma vez por mês no site da CVM. Como, pela regulamentação, eles têm até dez dias corridos após o fechamento do mês para divulgar os dados, vai ser necessário esperar um tempo para ver se os gestores venderam ou não os papéis. (Colaborou Vanessa Adachi)

 

FONTE: VALOR ECONôMICO