Sérgio Tauhata
Aversão ao risco, expectativa de elevação de juros e mudanças tributárias no horizonte. Esse trio de fatores assombrou pela maior parte de janeiro o segmento de fundos imobiliários. No entanto, entre o fim do mês passado e o início de fevereiro quase tudo mudou. No dia 20 de janeiro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou a manutenção da Selic no patamar de 14,25% ao ano, contrariando a projeção de alta que dominou o período até então.
Uma semana e meia mais tarde outra surpresa: o relator do projeto de conversão em lei da MP 694 retirou da proposta todo o trecho que mexia na tributação de aplicações isentas, como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e fundos imobiliários. Mas o estrago de janeiro já estava feito.
No primeiro mês de 2016, levantamento da provedora de informações financeiras Quantum com 67 fundos imobiliários com negociação em bolsa em janeiro mostra que apenas sete carteiras tiveram retorno positivo no período, se consideradas em conjunto a variação das cotas e a distribuição de dividendos.
O grupo todo apresentou uma perda de 3,58% no início deste ano. No acumulado de 12 meses, o resultado melhora um pouco com uma variação negativa de 1,79%.
Se a referência for o Índice de Fundos de Investimento Imobiliário da BM&FBovespa (Ifix), que considera tanto a variação das cotas quanto o retorno com dividendos, com participação ponderada por valor de mercado, o quadro é ainda pior. O indicador registrou uma queda de 6,17% em janeiro.
Embora a aversão ao risco continue a orientar o radar dos investidores, a saída de cena - por ora - tanto da perspectiva de subida imediata dos juros quanto do fim da isenção tributária dos proventos distribuídos a pessoas físicas pelos fundos negociados em bolsa melhorou o humor do mercado. Em fevereiro até o dia 17, o Ifix, por exemplo, acumulava ganho de 1,15%.
"Desde a tentativa de aprovação da MP 694 no final de dezembro os fundos imobiliários foram muito penalizados", avalia Marcelo Vainstein, sócio da Canuma Capital, casa especializada em gestão de portfólios de ativos imobiliários. Segundo o gestor, a baixa provocada pelo impacto da medida provisória concentrou-se no valor das cotas.
No terreno dos "dividend yields", ou seja, a taxa de retorno com os dividendos, Vainstein considera o ganho atual como atrativo. "O yield nos fundos imobiliários está na máxima histórica. Não vimos isso nos últimos cinco anos." A pesquisa da Quantum aponta um dividend yield médio de 1,09% em janeiro e de 12,73% em 12 meses.
O yield supera até mesmo o Certificado de Depósito Interfinaneiro (CDI), de 1,05% no período.